quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Em Brasília, Roger Waters cita Marielle, evita uniforme polêmico e critica quem se opõe a sua política: 'pode se retirar'

 

Cantor se apresentou no estádio Mané Garrincha, em Brasília, em primeiro show da turnê 'This is not a drill' no Brasil


Como era de se esperar, Roger Waters trouxe ao Brasil um show repleto de referências políticas. O músico, que se encontrou com o presidente Lula no Palácio do Planalto na segunda-feira, realizou ontem seu primeiro show da turnê "This is not a drill" no país, começando por Brasília.


No estádio Mané Garrincha, o cantor desfilou hits como "Another brick in the wall" e "Wish you were here" e referências políticas. A primeira veio logo na abertura com um aviso no telão: "Se você é um daqueles que diz: 'Eu amo o Pink Floyd, mas não suporto a política do Roger', você pode muito bem se retirar para o bar agora. Obrigado."


Durante o show, Waters reivindicou os direitos humanos de indígenas, palestinos e membros da comunidade LGBTQIA+, além de outros grupos vítimas de violência. Ele também se referiu a presidentes americanos como criminosos de guerra e fez uma referência mais clara ao conflito na Ucrânia ao sugerir que Joe Biden, Vladimir Putin e Zelensky sentassem em um bar para conversar. O "bar" em questão é também uma citação à nova canção do música, "The Bar", apresentada no show.


Assassinada em 2018, a vereadora Marielle Franco recebeu uma homenagem no telão da apresentação, ao lado de outros nomes de homens e mulheres vítimas por seu ativismo político e social.


Apesar da "política do Roger" permear toda a apresentação, o artista evitou usar o uniforme preto que remete a um uniforme nazista que causou polêmica nas apresentações na Europa. Em junho, a Confederação Israelita do Brasil entrou com uma ação para que o cantor fosse impedido de realizar os shows no país. Na ocasião, o ministro Flávio Dino reafirmou que apologias ao nazismo são crime no país, mas descartou uma censura prévia. Em entrevista ao GLOBO no mês passado, Waters falou sobre a polêmica envolvendo o uniforme:


— Qualquer pessoa minimamente familiarizada com “The Wall” sabe que, na narrativa, a estrela do rock Pink sofre episódio psicótico e imagina-se degenerado, na pele de um tirano de estilo nazista. É uma crítica satírica às ideologias tirânicas. Mais tarde, Pink se recobra do episódio e, se autoexaminando em um julgamento imaginário, emerge como o coração fofinho e vermelho que amamos. Em nenhum momento “The Wall” glorifica o nazismo ou promove antissemitismo. Pergunto aos doidões da cultura do cancelamento: por que, depois de 45 anos, uma peça contemplativa e humanista como “The Wall”, e seu autor, sofrem ataques mentirosos, coordenados pelo lobby israelense? Claro que sei a resposta: minha defesa do povo palestino.


Waters ainda irá se apresentar em São Paulo, Rio, Porto Alegre, Belo Horizonte e Curitiba nos próximos dias.



Por O Globo

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