sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Morre Fernando Botero, artista colombiano, aos 91 anos

 

                                           O artista plástico Fernando Botero, diante de uma de suas obras, em 1997 — Foto: Zoe Selsky/AP 

Artista plástico ficou popularmente conhecido como 'pintor de gordinhos' e criou obras marcadas por bom humor, ironia e surrealismo

Morreu, nesta sexta-feira (15), aos 91 anos, Fernando Botero, o artista plástico colombiano mais conhecido no mundo. O pintor, escultor e cartunista morreu em sua casa no Principado de Mônaco, como comunicou o jornalista Julio Sánchez Cristo, da rádio colombiana "W Radio". A informação também foi confirmada e publicada pelo jornal espanhol "E País".


Conhecido popularmente como o "pintor de gordinhos" — devido às imagens que recorrentemente retratam mulheres voluptuosas e corpulentas —, Fernando Botero criou obras marcadas pelo bom humor, a ironia e um surrealismo de tom lúdico. Ele era um dos artistas latino-americanos mais valorizados da atualidade.


O estilo boteriano, que ajudou a propagar as artes visuais sul-americanas no planeta, era visto por muitos como fruto de uma obsessão, comparada à do francês Edgar Degas, morto em 1917, que pintava bailarinas sucessivamente. O artista colombiano fazia questão de desmentir a premissa. Em entrevistas, ele ressaltava sempre o seguinte: não, não era obcecado por mulheres gordas.


"Eu não pinto mulheres gordas. Ninguém acredita em mim, mas é a verdade. O que eu pinto são volumes. Se eu pinto um animal, ele é 'volumétrico', assim como uma paisagem", explicou Botero, numa entrevista ao jornal "El Mundo", em 2014. "Sou interessado no volume, na sensualidade da forma. Se eu pinto uma mulher, um homem, um cachorro ou um cavalo, eu sempre faço com a ideia do volume. Não é que eu tenha uma obsessão por mulheres gordas", ressaltou.


                                                 Pintura 'O banheiro', do artista plástico Fernando Botero, de 1989 — Foto: Divulgação


Autodidata na arte

O artista plástico reconhecido internacionalmente, e que se dedicou por mais de 70 anos à arte, foi um autodidata em todo o sentido da palavra. "A história dele é a de uma pessoa que começou do nada e que mantinha como únicas clarezas sua vocação artística, sua capacidade de trabalho e sua paixão pelo o que estava fazendo. Tudo isso o permitiu ir adiante, nadando muitas vezes contra as correntes predominantes no mundo da arte", definiu a filha Lina Botero, em 2019, à época do lançamento do documentário "Botero: una mirada íntima a la vida y obra del maestro" (ainda sem lançamento no Brasil).

                                                Quadro "Mona Lisa", de 1977, do artista plástico colombiano Fernando Botero: recriação de pintura clássica — Foto: Divulgação


Botero — que dá nome a um famoso museu em Bogotá, capital da Colômbia — iniciou a carreira como ilustrador do jornal "El Colombiano" no fim dos anos 1940. Por muito tempo foi reconhecido como um artista influenciado pelos traços do pintor italiano Piero della Francesca. A gênese de seu estilo inconfundível aconteceu, como o próprio reconhecia, depois que ele fez o esboço do desenho de um bandolim, insinuando o sentido de monumentalidade do instrumento.


Com exuberância, abundância e proporções "generosas", Botero deu aos personagens e aos objetos uma nova sensualidade. "Não havia tradição na minha família. Não sei por que comecei a desenhar touros, paisagens, naturezas mortas, por que as pessoas vieram para os meus quadros... O fato é que aos 19 anos eu queria ser pintor. E minha mãe me deixou. Aos 19, já fiz a minha primeira exposição. A primeira coisa verdadeiramente boteriana que fiz foi um bandolim. Atraiu-me a amplitude e a generosidade do traço exterior de seu corpo e a pequenez do detalhe. Esse esboço foi meu ponto de partida", afirmou ele, em entrevista ao 'El País", em 2019.


A fama e a popularidade que ele adquiriu com suas pinturas de cores luminosas se destacaram sobretudo na década de 1990, quando suas enormes esculturas de bronze começaram a ser exibidas nas principais cidades do mundo, incluindo uma passagem pelo Rio de Janeiro (em 1998).


Nos últimos anos, Botero dividia seu tempo entre a Itália e Mônaco, onde mantinha ateliês. Ele se classificava como o "pintor que mais expõe no mundo", dada a sua popularidade em diferentes continentes. E não ligava para as eventuais críticas por vender tantas obras e ter se tornado supostamente um "artista comercial". "As pessoas quando veem um Botero se lembram, fica gravado na sua mente. Está mal que o diga, mas sou o pintor vivo que mais expõe no mundo, inclusive na China. Lá dizem: 'Até as crianças pequenas reconhecem um Botero!'", celebrou


Em entrevista recente ao "El País", ele se debruçou sobre a própria trajetória e frisou que demorou a encontrar a singularidade de seu traço. "Levei 15 anos até fazer o que se chama um Botero do começo ao fim, mas fui insistindo na mesma ideia e no mesmo universo. A maturidade do estilo depende do trabalho, leva muito tempo. E aí vieram os personagens, os Boteros. Não tinha influências visíveis, havia coerência, resultado de uma obsessão que partiu do bandolim. Pintar é criar um estilo; se houver convicção o estilo nasce por si só", definiu ele.


Por O GLOBO 

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