Alguns deles, que apesar de novatos na Casa já são rostos conhecidos dos frequentadores do Congresso
UOLOs novatos que queiram, é só ir no Núcleo de Apoio ao Parlamentar buscar sua identificação. Facilita o nosso acesso”, escreve Gustinho Ribeiro (SD-SE), enviando uma foto de seu recém-adquirido crachá de deputado eleito.
“Já tenho o meu também!”, responde em seguida outra novata na Câmara. O diálogo acontece no grupo “Bancada da Renovação” no WhatsApp, que reúne 66 dos 243 novos parlamentares que integrarão a Casa a partir de fevereiro de 2019, em uma legislatura de renovação recorde.
Boa parte já vem dando as caras em Brasília. Alguns, que apesar de novatos na Casa já são rostos conhecidos dos frequentadores do Congresso, como o coordenador do MBL Kim Kataguiri (DEM-SP), e a jornalista Joice Hasselmann (PSL-SP), têm circulado pelos corredores do CCBB, palco da transição de governo.
Na terça-feira (20), por exemplo, Kataguiri participou de reunião com atuais parlamentares e o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), que definiu o nome de Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) para o Ministério da Saúde.
As bancadas também começam o processo de entrosamento. O PSL, partido que saltou de 8 para 52 deputados na próxima legislatura, fez na quarta-feira (21) sua primeira reunião de bancada, em um hotel de Brasília.
No outro polo do espectro político, o PSOL, que terá dez deputados no próximo ano, já começou a fazer reuniões com a nova bancada, que terá nomes como o deputado estadual Marcelo Freixo (RJ) e a vereadora Sâmia Bonfim (SP), para articular a oposição a Bolsonaro.
Alguns ainda tentam se habituar ao Congresso e entender regras e o regimento interno da Câmara.
São tantos os novos rostos que a Diretoria-Geral da Casa criou especialmente para a 56ª legislatura os crachás de deputado eleito citados pelo deputado do Solidariedade na mensagem enviado no grupo de WhatsApp.
A ideia é facilitar o acesso e o reconhecimento dos novos deputados pela segurança, já que os broches parlamentares, que identificam os deputados, só são distribuídos na véspera da posse, dia 31 de janeiro de 2019.
Isso não é impedimento, porém, para que alguns deputados eleitos pela primeira vez já estejam exibindo pelos corredores do Congresso o bótom exclusivo de parlamentar no exercício do mandato, causando estranhamento entre os servidores.
Entre eles, está Alexandre Frota (PSL-SP), presença certa nas reuniões da comissão do Escola Sem Partido durante todo o mês de novembro.
O item foi um presente do atual deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), membro do colegiado. De acordo com pessoas ouvidas pela Folha, não há regulamentação sobre o uso do broche.
Para ajudar na ambientação, a Diretoria-Geral da Casa organizará uma série de cursos para os parlamentares eleitos durante os meses de novembro, dezembro e janeiro.
O primeiro deles acontecerá na quarta-feira (28), para explicar como funciona o processo legislativo e as funções dos novos deputados.
Até a quinta-feira (22), 95 novos deputados haviam confirmado presença nos painéis.
Depois, em dezembro, será oferecido novo curso focado na parte administrativa e regimental da Casa.
Os novatos ajudam na divulgação de ações como essas para seus pares. No grupo da “Bancada da Renovação”, por exemplo, são postados manuais, cursos de regimento e repetidos avisos sobres os painéis oficiais da Casa.
“Seja na faculdade, seja na indústria, quando chega uma turma nova e tem uma velha, há um distanciamento da informação”, afirma um dos administradores do grupo, Celso Sabino (PSDB-PA).
E os recém-chegados querem espaço. No grupo, discutem como liberar emendas já em 2019. “Como poderíamos indicar emendas para 2019?”, pergunta um.
“Fazendo pressão nos candidatos à Mesa, foi assim que os de 2015 conseguiram”, responde outro, menos de dez minutos depois.
Outros já sonham com lideranças partidárias e até com a presidência da Casa.
“Em fevereiro, as decisões já estão tomadas, apenas são formalizadas. Justamente por isso já converso com meus futuros colegas desde a definição do primeiro turno”, diz Kataguiri, que se lançou pré-candidato ao comando da Casa, embora seu partido tenha pretensões de manter o atual presidente, Rodrigo Maia (RJ).
A chegada dos 243 novos parlamentares tem trazido apreensão a deputados reeleitos da base do governo.
Segundo pessoas ouvidas pela Folha, o temor é de que as disputas por lideranças e cargos em comissões possa atrasar o início dos trabalhos na Casa e dificultar o avanço de pautas do governo, como a reforma da Previdência, no primeiro semestre.
Uma das mais disputadas deve ser, por exemplo, a da Segurança Pública, cuja bancada aumentou consideravelmente de 2018 para 2019.
“Ainda temos que ver também qual vai ser o perfil dos eleitos. Se vão jogar junto, com os partidos, ou se vai ter muita gente querendo correr solo”, afirma Sóstenes.
Segundo ele, parlamentares isolados das siglas podem trazer dificuldades para a articulação de votos.
Técnicos da liderança temem ainda que a chegada de figuras midiáticas, com presença forte nas redes sociais, possa alongar o tempo das sessões até as madrugadas e até derrubar votações.
Isso porque hoje os deputados governistas tendem a abrir mão de seus tempos de fala para que as deliberações possam ocorrer de forma mais rápida, enquanto há quorum.
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