segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Em novo livro, José Sarney relembra causos da política

Por FOLHAPRESS

Do experiente articulador político José Sarney não se espere análises conjunturais nem históricas ou juízo de valor sobre aliados e adversários neste trepidante 2018.

O ex-presidente que se tornou conselheiro de seus sucessores escolheu revelar uma faceta bem-humorada de contador dos causos que coleciona ao longo de 87 anos, com a pena leve e atenta às ironias da vida.

Para os primeiros meses do próximo ano eleitoral, Sarney prepara o seu 120º livro, provisoriamente intitulado "Galope à Beira-Mar", inspirado no nome dado a um dos ritmos dos cantadores do Nordeste. Os personagens da vida pública recente do país quase todos estarão contemplados, mas não em sua versão noticiosa.

O decano da Academia Brasileira de Letras preferiu se ater a detalhes, às graças e "às voltas que a política dá" -como deu quando Fernando Collor ouviu de Ulysses Guimarães um sonoro não ao pedir para ser seu vice na chapa presidencial de 1989. Perdeu Ulysses, ganhou Collor.

É verdade que Fernando Henrique Cardoso e Dilma Rousseff preencherão menos linhas que Luiz Inácio Lula da Silva, mas definitivamente não por critérios eleitorais.

A julgar pelas circunstâncias atuais, Michel Temer teria lugar destacado em um livro sobre o Brasil contemporâneo na visão de Sarney, que acabou por se firmar como um de seus mais vividos interlocutores. Mas, nessas linhas, o atual presidente da República não aparece.

Aparecem, aí sim, relatos de família, da infância em Pinheiro, no interior do Maranhão, e da juventude em São Luís. Cenas da política em Brasília, em Cuba, no Vaticano e outros cantos também, porém em seu viés anedótico.

"Neste livro, a prosa de Sarney mira o avesso de qualquer pretensão, seja literária, seja política", observa Rodrigo de Almeida, editor de "Galope" na Casa da Palavra/Leya.

"São histórias de quem tem boa memória e um gosto especial pela conversa. Um 'causeur' que, por acaso, observou, ouviu e protagonizou histórias e estórias em décadas de vida pública. Grandes personagens em pequenas histórias, ou pequenas personagens em grandes causos."

FORTUNA CRÍTICA

O autor de "O Dono do Mar" e "Marimbondos de Fogo" explora, já no prefácio, a extensão de títulos possíveis para a nova obra. "Livro dos Casos", por exemplo, foi descartado porque o autor o considerou "vulgar". "Casos e Acasos", "Pé de Conversa" e "Conversa Puxa Conversa" tampouco sobreviveram à crítica sarneysiana.

Zeloso de sua trajetória literária, o autor a cultiva há tanto tempo quanto a sua carreira política. Tinha 23 anos quando publicou na revista que criara, "A Ilha", o ensaio de cunho social "Pesquisa sobre a Pesca de Curral".

Em 1954, aos 24, venceu sua primeira eleição, para a Câmara dos Deputados, ao mesmo tempo que lançou o seu primeiro livro, no caso de poesia, "A Canção Inicial".

Depois de três mandatos na Câmara, elegeu-se governador do Maranhão e, de quebra, lançou sua segunda obra, "Norte das Águas" (1969), ainda no mandato.

E assim foi. Senador, vice-presidente que se tornou presidente, senador de novo e presidente do Senado.
Um total de dez mandatos e 120 títulos, incluindo discursos e planos de governo que ele editou em livros.

Embora pouco estudados, o emedebista esbanja orgulho de seus feitos literários.

Prepara para os próximos dias a impressão privada da compilação de que tudo o que produziu, com comentários críticos das 168 edições de sua carreira até o presente, traduzidas em inglês, francês, espanhol, alemão, chinês, coreano, grego, árabe, russo, húngaro, romeno e búlgaro.

Na "Bibliografia e Fortuna Crítica de José Sarney", foram incluídas as palavras de "intelectuais de expressão universal" como Claude Lévi-Strauss e Octavio Paz sobre a obra de Sarney.


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Ainda muito influente nos bastidores políticos, Sarney tem reservado suas aparições públicas ao universo cultural. Acaba de voltar de Guadalajara, no México, onde fez a "conferência magistral " da Feira Internacional do Livro.

Discorreu sobre "O Livro e a Internet", as evoluções da tecnologia e da literatura.

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