G1 Foto:Globo Esporte
Foi um longo caminho. Da infância sofrida em Três Lagoas, no interior do Mato Grosso do Sul, à pista do Engenhão, Silvânia Costa encarou cada um dos percalços que a vida lhe impôs. Se o rumo não foi dos mais simples, soube se reinventar.
Na manhã desta sexta-feira, Silvânia atingiu seu ápice. Pressionada no último salto, segurou a respiração de todo um estádio ao esperar a confirmação da marca: 4,98m e, enfim, uma explosão em gritos. Ao bater suas rivais, confirmou o favoritismo e conquistou o ouro no salto em distância T11 nos Jogos do Rio. Brigitte Diasso, da Costa do Marfim, deu o melhor salto da vida, com 4,89m, e ficou com a prata. Lorena Spoladore, com 4,71m, também levou o Brasil ao pódio com o bronze.
Silvânia pulou para a liderança logo em seu primeiro salto, com 4,66m. Melhorou na sequência, com 4,78m, ampliando vantagem na ponta. Na quarta bateria de tentativas, porém, Brigitte Diasso deu o maior salto de sua carreira e, com 4,89m, dificultou a vida da brasileira. No quinto salto, Silvânia marcou 4,82m, ainda atrás da rival.
O clima, na última bateria de tentativas, era de tensão. Lorena garantiu o bronze com a marca de seu quarto salto, com 4,71m. Diasso saltou para 4,78m e abriu caminho para Silvânia, a última a ir para a pista. Acostumada a saltar mais de 5m, a marca parecia tranquila de ser batida. O nervosismo, porém, era nítido. Após o salto, o Engenhão permaneceu calado à espera da confirmação oficial. Ao aparecer 4,98m no telão, o estádio explodiu em gritos: o ouro estava garantido.
A vitória de Silvânia também representa o retorno do Brasil ao alto do pódio. Foram dois dias seguidos sem ouro nos Jogos até a conquista no Engenhão nesta sexta.
De uma família de três irmãos com deficiência visual, Silvânia driblou os problemas e passou a ser o maior orgulho da casa. No caminho até a medalha de ouro no salto em distância T11 (cego total), ela dominou as rivais na final e saltou 5,04m, a melhor marca do campeonato, para garantir o seu lugar no topo do mundo.
Silvânia recebeu o diagnóstico de que era cega, aos 10 anos. A mãe entrou em depressão, e o pai no alcoolismo. Caçula, enfrentou o mercado de trabalho para ajudar a pagar as contas da casa. Era funcionária de uma fábrica de biscoitos e passava os seus dias fechando as embalagens dos pacotes. Quando foi considerada incapaz, se viu em uma situação delicada. E foi o esporte que a fez se reinventar, reencontrar um sentido para a vida e outra perspectiva de futuro para a família. Tudo começou nas corridas de rua. Aos poucos, o seu talento foi sendo lapidado, e ela agarrou a chance.
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