Por Neusa Barbosa, do Cineweb
Poucos atores hoje conseguem equilibrar a dose precisa de carisma e tensão como Bryan Cranston, que vem sustentando em seus novos papéis na tela grande o impacto de sua atuação na bem-sucedida série “Breaking Bad” (2008-2013).
Foi esse o caso de “Trumbo – Lista Negra”, que lhe garantiu uma indicação ao Oscar em 2016 pela alentada interpretação do perseguido roteirista Dalton Trumbo. E se repete no drama de suspense “Conexão Escobar”, de Brad Furman, em que Cranston está completamente à vontade como o protagonista Robert Mazur, um policial infiltrado na gangue do traficante colombiano Pablo Escobar.
Seguindo o roteiro de Ellen Brown Furman, mãe do diretor do filme, baseado nas memórias do próprio Mazur, desenrola-se uma trama eletrizante, acompanhando o trabalho arriscado do policial. Ele descobre que é mais eficiente no combate ao tráfico seguir o dinheiro de seu lucro do que meramente apreender carregamentos de drogas.
Assim, ele se transforma em Bob Musella, sua identidade falsa como empresário que ganha gradativamente a confiança de escalões médios da gangue para lavar o dinheiro do tráfico de cocaína, que naquele momento, meados dos anos 1980, invadia a Flórida.
Assumindo um bigodão, um figurino cafona e hábitos exibicionistas, Mazur passa a frequentar esses círculos do submundo, assim como seu parceiro Emir Abreu (John Leguizamo). A convivência exige sangue frio, vocabulário e atitudes que permitam que passem despercebidos do faro destes criminosos, habituados à crueldade. Um passo em falso e a vida dos dois não vale mais nada.
A longa duração do disfarce e a necessidade de uma vida dupla, com horários esticados, coloca em risco também o casamento de Mazur com Evelyn (Juliet Aubrey), com quem tem dois filhos. A tensão piora quando, por uma necessidade do trabalho, inventa-se também uma noiva para ele, a agente Kathy (Diane Kruger).
Furman (de “O poder e a lei”) sustenta com segurança a adrenalina intrínseca à história, colocando à prova os nervos do público nas rotas de perigo do personagem. Algumas das cenas mais instigantes estão em momentos aparentemente relaxados, como conversas do protagonista na cozinha de um dos lugares-tenente de Escobar, Roberto Alcaino (Benjamin Bratt), enquanto este corta legumes com uma faca afiadíssima.
Ao mesmo tempo, a história não deixa de explorar as tensões de Mazur no trabalho, com a chefe durona (Amy Ryan), e demonstrar seu esplêndido cinismo, como quando lida com funcionários de um banco panamenho, com o qual negocia as operações ilegais.
Impressionante mesmo é que o verdadeiro Mazur fez tudo isso e viveu para contar sua história. A julgar pelo que mostra o filme, não faltaram momentos em que esteve perto de sumir do mapa.
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