Seja na literatura ou no cinema, a ideia do duplo é capaz de causar fascinação e medo. Imaginar que uma pessoa igualzinha a você (ao menos fisicamente) pode tomar o seu lugar tem um quê de libertador mas também de opressor. “Um Homem Só”, estreia na direção de longas da roteirista e ilustradora Claudia Jouvin, ilustra bem essa ideia na forma de uma comédia romântica melancólica.
Arnaldo (Vladimir Brichta) leva uma vidinha medíocre, com a qual nunca sonhou, ao lado de sua mulher Aline (Ingrid Guimarães, numa espécie de versão séria e mais irritada de sua personagem de “Um Namorado para Minha Mulher”), pintora de nus masculinos estranhos e obcecada por engravidar.
No trabalho, ele também não é feliz. Preso a funções burocráticas, ao lado de gente chata, seu único amigo é Mascarenhas (Otávio Muller, premiado em Gramado-2014), outro sujeito infeliz com sua vida.
Parece que nesse universo, criado pela diretora que também assina o roteiro, ninguém é muito feliz. Mas o filme se ilumina quando Josie (Mariana Ximenes) entra em cena. Órfã de mãe, ela trabalha no cemitério de animais ao lado da companheira de sua mãe, Leia (Eliane Giardini). Nenhuma das duas, aliás, ainda consegue lidar com essa perda até hoje.
Por acaso, Arnaldo descobre uma clínica que duplica as pessoas, colocando os clones em seu lugar para que eles possam viver uma vida mais alegre, sem precisar trabalhar, longe dos problemas do presente.
Enfim, ele procura o lugar, mas nem tudo sai como previsto. Revelar mais do que isso é tirar o prazer da descoberta das reviravoltas que “Um Homem Só” é capaz de proporcionar.
Vale dizer, no entanto, que Claudia, que tem no currículo roteiros como o do filme “Gorila” e da série “A Diarista”, transita entre gêneros de forma sagaz. Vai de uma ficção científica leve ao melodrama de uma cena para outra, sem que isso se torne um empecilho na condução da narrativa.
Muito ajuda o fato de ter um elenco competente e bem dirigido – especialmente Mariana (premiada em Gramado-2014 por esse trabalho) e Brichta, criando dois personagens semelhantes mas repleto de nuances que os diferenciam.
Também premiada, a fotografia de Adrian Teijido, junto com a direção de arte Claudio Amaral Peixoto e Joana Mureb, transmite uma sensação onírica, algo de fantasmagórico também, dependendo do ângulo pelo qual se olha, materializando assim as duas maiores sensações de Arnaldo em sua “dupla” jornada.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
Nenhum comentário:
Postar um comentário