sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Aquarius' continua na disputa por Oscar


Folhapress

O diretor Kleber Mendonça Filho diz que manterá a inscrição de "Aquarius" na disputa pela vaga brasileira no Oscar. "Tenho interesse em ver o processo se completar dentro das regras democráticas", afirmou o diretor à Folha de S.Paulo.

Instituída pela Secretaria do Audiovisual, a comissão que escolherá o filme nacional é alvo de polêmica. Conforme antecipado pela coluna "Sem Legenda", o grupo é composto por nove membros, incluindo Marcos Petrucelli, crítico que já usou seus perfis em redes sociais para ironizar Mendonça Filho. E "Aquarius" é um dos mais fortes candidatos a representar o Brasil no prêmio da Academia.

Quando "Aquarius" estreou no Festival de Cannes, em maio, Mendonça Filho e a equipe do filme fizeram um protesto, empunhando cartazes com dizeres contra o impeachment de Dilma: "Um golpe de Estado está ocorrendo no Brasil", lia-se nos dizeres. "Vergonha é o mínimo do que se pode dizer", escreveu Petrucelli, que se diz contrário às posições políticas do diretor e que ainda não viu o filme.

Em solidariedade a "Aquarius" e contestando a "imparcialidade" do comitê, tanto Gabriel Mascaro ("Boi Neon") quanto Anna Muylaert ("Mãe Só Há Uma") desistiram de inscrever seus filmes.

Horas depois, Guilherme Fiúza Zenha, que fazia parte da comissão,também anunciou seu desligamento, argumentando "questões pessoais".

"Acho incrível o que [Mascaro e Muylaert] fizeram", disse Kleber. "O governo interino não tem familiaridade com a área da cultura e com a forma como nós somos unidos."

'AMBIENTE DE PRESSÃO'

Procurado, Alfredo Bertini, secretário do Audiovisual, não atendeu aos pedidos da reportagem, mas o Ministério da Cultura soltou uma nota, retirando sua "confiança na comissão de seleção do filme" e na "isenção do processo de escolha".

"A comissão é formada por nomes de reconhecida reputação e conhecimento técnico, que passaram, inclusive, pelo crivo da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Destaca-se que a seleção do filme representante será feita à margem de critérios de natureza política, sendo inócua a criação de ambiente de pressão ou constrangimento com vistas a favorecer ou prejudicar qualquer produção. Passada a etapa de seleção, o Ministério estará engajado na torcida para que nosso filme figure entre os cinco finalistas."

Já Petrucelli afirma que não tem "nada contra o filme", mas contra as posições políticas do diretor. À reportagem, ele disse que não queria comentar a polêmica, mas lamentou que Mascaro e Muylaert tenham deixado de inscrever seus filmes. "Perderam uma grande oportunidade".

Demais membros da comissão, composta por nove pessoas, disseram que a escolha não será "partidarizada.

CONTINUAM NA DISPUTA

Pelo menos quatro outras produções continuam no páreo, além de "Aquarius": "Nise", de Roberto Berliner, "Tudo que Aprendemos Juntos", de Sérgio Machado, "Mais Forte que o Mundo", de Afonso Poyart, e "Pequeno Segredo", de David Schurmann.

"Sou solidário a Kleber, temos as mesmas posições políticas", diz Berliner. "Mas em princípio estou mantendo a inscrição. Acho que nós cineastas deveríamos nos unir contra a nomeação [de Petrucelli], e não retirar os filmes."

Poyart e Schurmann afirmaram que confiam em seus respectivos longas. Caio Gullane, produtor de "Mais Forte que o Mundo", também diz que irá se manter no certame.

Afonso Poyart, diretor de "Mais Forte que o Mundo - A História de José Aldo", disse que também vai se manter na disputa. "Por que tirar o filme? Acredito nele. Respeito a atitude [dos outros diretores], mas não pretendo retirar. A decisão é do comitê", disse Poyart.

Outro concorrente, "Pequeno Segredo", também continua. "Ele tem uma temática que pode interessar ao Oscar. Investimos muito tempo e paixão para fazer um filme tecnicamente impecável e emocionante", disse o diretor David Schurmann.

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