Silvio Essinger-O Globo
Se a felicidade sem limite das músicas do Coldplay poderia deixar alguns ouvintes perturbados, teoricamente é hora de dar uma segunda chance à banda. Porque “Ghost stories”, sexto e mais recente álbum da banda, que acaba de ser lançado, é de uma tristeza só. Em suas nove canções, ele reflete sem o menor pudor o fim da relação do casamento do vocalista Chris Martin com a atriz Gwyneth Paltrow, anunciado em março. Canções mais lentas que de costume, com letras confessionais, muito piano e algumas texturas eletrônicas predominam nesse disco cuja capa pode ser vista apenas como um par de asas ou como um coração partido em dois.
O que não mudou em relação aos últimos discos do Coldplay, porém, foi a política de não correr riscos. A radiofonia acompanha cada uma das canções do disco, mesmo que não sejam as mais elaboradas ou tampouco as mais brilhantes da carreira da banda. “True love” ainda pode trazer a esperança de que melodias memoráveis se seguirão. E o bonito piano de “A sky full of stars” ajuda a relevar um pouco o horroroso arranjo dance-farofa que foi dado à canção. Mas não há nada muito mais que faça desse disco algo sequer próximo do memorável.
“Magic”, já lançada como single, começa bem como trip hop, mas avança como uma canção qualquer do Coldplay. A gasosa “Midnight” vai um pouco mais fundo na melancolia, adentrando território do Bon Iver, mas não chega a se realizar de fato. Caso mais sério, porém, é “Ink”, o mais próximo de Phil Collins que a banda já arriscou chegar. É certo e líquido que ainda se vai ouvir bastante esse “Ghost stories” por aí. Mas será que um dia a chama da inspiração daquele primeiro disco, “Parachutes” (2000), voltará a acender a banda?
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