terça-feira, 15 de outubro de 2024

‘Senhor das moscas’, do vencedor do Nobel William Golding, chega aos 70 anos e ganha versão em quadrinhos

 



Há dez anos, a holandesa Aimée de Jongh tinha 25 e trabalhava com animação quando resolveu experimentar algo novo: produzir um quadrinho. Mas não um qualquer, ela queria fazer uma HQ longa, uma graphic novel. Porém, qual tema escolher, qual história contar? Foi quando ela lembrou de seu livro favorito, que leu na adolescência, ainda na escola: “Senhor das moscas”, de William Golding.


Aimée tentou obter os direitos da obra — escrita pelo britânico, vencedor do Nobel, em 1954 — uma vez, duas e... desistiu. Conformou-se e estreou com uma HQ autoral em que homenageava dois dos principais personagens do livro preferido e continuou sua carreira prolífica, agora de quadrinista, com álbuns como “Dias de areia” (Nemo).


Concorrência para HQ

Daí, há dois anos, surgiu um convite inusitado do espólio de Golding, que, para celebrar as sete décadas do romance mais celebrado do escritor, planejava uma versão em quadrinhos. Aimée, então, participou da concorrência de quadrinistas para o trabalho, e adivinha? Passou, claro. Afinal, é seu livro favorito. E os leitores brasileiros agora podem conferir, enfim, o “Senhor das moscas” (Suma) de Aimée.

                                            Foto: Reprodução


Em entrevista ao GLOBO por e-mail, a autora diz que, apesar de ter demorado, o momento para produzir a HQ não poderia ser melhor:


— Eu teria conseguido criar uma graphic novel antes, mas certamente não teria sido tão boa — admite ela. — No livro atual, peguei toda a experiência que ganhei fazendo meus outros livros, e tenho a sensação de que realmente sei o que estou fazendo...


Aimée explica que, além da expertise que conquistou produzindo quadrinhos nestes dez anos de carreira profissional, ainda existe, claro, a natural experiência de vida adquirida neste tempo, e explica por que “Senhor das moscas” é seu livro favorito:


— É uma leitura surpreendente. Não é muito longo, e os diálogos entre as crianças são bem simples. Então, no começo, o leitor pode suspeitar que é fácil. Isso muda ao longo do livro conforme os meninos se tornam mais sombrios, mais violentos e perigosos. Há abuso de poder, fala-se de um monstro imaginário... O livro surpreende, engana até. Foi isso que realmente me impressionou quando o li quando era jovem. É uma aula magistral de narrativa.


“Senhor das moscas” conta a história de um grupo de meninos que, após um acidente de avião, fica preso numa ilha deserta. Inicialmente, eles tentam estabelecer uma sociedade civilizada, mas, à medida que o tempo passa, a falta de adultos e a luta pelo poder levam ao caos. A convivência se transforma em brutalidade, revelando os instintos mais sombrios. A obra explora temas como a civilização versus a barbárie, a perda da inocência e a luta pelo poder


Dois anos para produzir

Segundo Aimée, que diz ter levado um ano produzindo o stroryboad e escolhendo as cenas que desenharia (pois há muitos diálogos e encontros entre os meninos, que funcionam bem em texto, mas menos como história em quadrinhos), mais outro efetivamente ilustrando as quase 400 páginas do álbum, seu quadrinho tem levado os leitores a procurar a obra original, o que a deixa feliz.


— Minha editora holandesa acaba de lançar uma nova edição do livro para acompanhar a graphic novel. E soube de leitores que compraram os dois livros ao mesmo tempo porque queriam compará-los — conta a quadrinista. —Então, as pessoas estão inspiradas, ou pelo menos curiosas, sobre a obra original. Estou muito feliz que seja esse o caso. Acredito que o original nunca perdeu seu significado, mesmo depois de 70 anos. E é um romance que vale a pena descobrir, com ou sem a graphic novel ao lado.


Obra rendeu ‘filhotes’

O romance de William Golding é uma obra tão icônica que, mesmo que você nunca a tenha lido, pode ver sua trama em outras mídias. Na própria literatura, existem os romances “A ilha”, de Aldous Huxley, e as séries “Jogos vorazes” e “Maze Runner”, que foram adaptadas para o cinema e partem do mesmo mote: jovens isolados que precisam sobreviver. O tema rendeu até o mangá “Battle Royale” (acima, da Pipoca & Nanquim), em que 42 estudantes precisam caçar uns aos outros, numa ilha deserta, até que só reste um.


‘Senhor das Moscas' (em quadrinhos)

Autora: Aimée de Jongh, a partir do original de William Golding. Tradução: Érico Assis. Editora: Suma. Páginas: 352. Preço: R$ 109,90.




Por 


O Globo

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