sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Psicológico, treinamento e investimento foram a chave para as conquistas olímpicas

 

                                           Marcelo Victor/Correio do Estado



Duas vezes medalhista nas Paralimpíadas de Paris, Yeltsin Jacques foi recepcionado nesta sexta-feira (6) em seu retorno a Mato Grosso do Sul. Na ocasião, recebeu o carinho de alunos do Serviço Social da Indústria (Sesi), e de colaboradores da Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul (Fiems).


Com orgulho, Yeltsin mostrou, beijou e vestiu as medalhas conquistadas nesta 17ª edição do evento: uma de ouro, conquistada nos 1.500 metros, e outra de bronze, dos 5.000 metros, ambas as provas da classe T11, para atletas com deficiência visual quase total.


Ao lado de seu guia, Guilherme Ademilson, Yeltsin concedeu entrevista e falou sobre a participação nos jogos que, em resumo, pode ser definida em três pilares: investimento, treino e força mental.


Investimento

Nos 1.500 metros T11, Yeltsin quebrou o próprio recorde mundial, que era de 3m57s60 e foi para 3m55s82. Questionado sobre o resultado histórico, que teve quase 2 segundos de diferença, o bicampeão paralímpico da prova contou o segredo:



"Treinamento, investimento, em estrutura, em recuperação, em melhora de performance, em uma equipe muito profissionalizada, e em tecnologia, que tem evoluído muito", disse Yeltsin.


Jacques exaltou também a estrutura do Stade de France, em Paris, palco das provas do paratletismo, descrevendo a pista como "única" e já demonstrando expectativa de que a próxima edição, de Los Angeles, seja ainda melhor.


"A tecnologia da pista usada em Paris foi única, e eu acredito que em Los Angeles vão melhorar ainda mais. Cada vez a tecnologia fica mais fantástica, o tipo de material esportivo, tênis, sapatilha, o material usado para recuperação, as novas metodologias de treinamento que têm sido usadas", descreveu o paratleta.


O investimento começa já nos treinos, como com a tenda de simulação de altitude, por exemplo, mencionada por Yeltsin durante a entrevista, que possibilita que o paratleta se prepare para competir em lugares mais altos, onde a pressão atmosférica e a quantidade de oxigênio no ar são menores, o que pode causar problemas de saúde, como desmaios, por exemplo.


"A gente fazia muitos treinamentos na Bolívia, por exemplo. A gente saía daqui, pegava ônibus, ia até a fronteira, pegava ônibus para ir até Santa Cruz, ia para Cochabamba ou para La Paz. Hoje a gente tem tendas que simulam a altitude, ou seja, eu não preciso me expor a essa viagem, a esse cansaço, à alimentação diferenciada, nada (...) Então isso tem transformado cada vez mais. A tecnologia está aípara beneficiar a todos nós, né? E o esporte não fica atrás disso".


Além de exaltar estruturas e materiais, Yeltsin destacou o investimento em humanos, em profissionais qualificados, que fazem toda a diferença nos resultados.


"Em Mato Grosso do Sul, em especial, mas no Brasil todo, a gente tem um potencial humano, um material humano muito bom, gigantesco (...) Então a gente tem todo esse trabalho tecnológico, a gente tem equipe médica, equipe de fisioterapeutas...", mencionou.


Yeltsin acredita que, por mais que ainda tenha muito a ser transformado, está no caminho certo para que o esporte evolua.


"A gente precisa de investimento em tecnologia, e cada vez mais a gente tem melhorado, a gente está no caminho certo, e a gente está melhorando ainda mais, lógico que a gente sabe que a gente tem muito o que transformar, muito o que melhorar ainda, mas a tecnologia ela está aí, ela está presente e ela vem cada vez mais mostrando resultados", concluiu.


Força mental

Um dos temas bastante abordados durante a coletiva foi a questão mental durante as provas. Yeltsin revelou que considera ter um psicológico bom, e que já passou por consultas psicológicas, mas que atualmente não sente necessidade de manter sessões semanais, por exemplo. As consultas são mais sobre técnicas para aperfeiçoar ainda mais esse lado.


"Eu cresço muito em grandes competições, às vezes até surpreendo. O Guilherme brinca e fala 'cara, quem vê o Yeltsin treinando às vezes não imagina que ele vai correr o que ele vai correr (...) quando dá o tiro de largada ele se transforma'", brincou Yeltsin.


Guilherme, guia de Yeltsin, faz acompanhamento semanal com o psicólogo do Comitê Paralímpico Brasileito (CPB), e afirmou que as consultas foram essenciais para a conquista do ouro paralímpico.


As consultas começaram depois do mundial em Kobe, no Japão, após uma queda na prova dos 1.500 metros, que os desclassificou da final.


"Comecei a fazer [o acompanhamento] após o mundial, que aconteceu a queda, e me ajudou demais. Tanto no nervosismo durante a prova, que foi o que me atrapalhou no mundial, então o psicólogo fez um bom trabalho', disse Guilherme. "O 'cara' é fenomenal", acrescentou.


Yeltsin nas Paralimpíadas

Natural de Campo Grande, Yeltsin Jacques conquistou mais duas medalhas nas Paralimpíadas de Paris, e agora soma quatro conquistas paralímpicas, já que havia conquistado outras duas na edição de Tóquio.


Nos 1.500 metros classe T11, Yeltsin e o guia Guilherme Ademilson bateram o recorde mundial, que já pertencia a Yeltsin, finalizando a prova em 3m55s82 e garantindo o ouro.


Já nos 5.000 metros classe T11, eles ficaram com o bronze, terminando a prova em 14min52s61 - melhor marca da carreira de Yeltsin, mas que não foi suficiente para o ouro.


Em Tóquio, Yeltsin Jacques havia conquistado o ouro nos 1.500 e nos 5.000 metros da T11.


Alanis Netto

Com o Portal Correio do Estado

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