Prefeito garantiu que festa da virada do ano não será feita na Capital e que folia de 2022 “respeitará ciência”
Daiany Albuquerque
Campo Grande não terá comemorações públicas de Ano-Novo, segundo o prefeito da Capital, Marcos Trad (PSD), em entrevista ao Correio do Estado.
O gestor também afirmou que ainda não há definição sobre a realização do Carnaval, entretanto, “segue pelo mesmo caminho”, disse o gestor, insinuando que a folia também pode não acontecer.
A decisão é diferente da que o governo do Estado indicou ontem, quando o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) afirmou que, inclusive, destinará verba para as escolas de samba de Mato Grosso do Sul.
“Está sendo projetado para ter o Carnaval aqui no Estado. Agora mesmo, no fim de semana, vai ter um apoio às ligas e às escolas de samba, porque não se pode deixar para transferir os recursos na época do Carnaval, porque encarece muito".
"Neste sábado, haverá um grande lançamento de recursos estaduais para fortalecer ligas, blocos e escolas de samba, e acredito que se a consciência de todos levar aquele que não vacinou a se vacinar, com muita tranquila, poderemos voltar à vida normal, inclusive podendo ter o Carnaval no ano que vem”, afirmou Azambuja durante a manhã de ontem.
Trad, entretanto, afirmou que nenhuma decisão foi tomada na Capital sobre a realização do evento.
“Ainda estamos decidindo, todavia devemos acompanhar a ciência e analisar se haverá Carnaval. Mas Campo Grande deve divergir do Estado, estamos caminhando para isso. O Réveillon não vai ter, seria uma afronta à ciência e um desrespeito à cidade”, declarou o prefeito à reportagem.
Com essa indicação, Campo Grande deve seguir cerca de 70 cidades do interior de São Paulo, estado com o maior número de pessoas imunizadas do País, que já informaram sobre a não realização da folia em 2022.
No caso do Réveillon, algumas capitais brasileiras ainda estão definindo sobre a comemoração. A prefeitura de Salvador espera definir o assunto nesta semana e o mesmo vale para Recife e Fortaleza.
Em Belo Horizonte, o Comitê de Enfrentamento à Covid-19 desaconselhou a realização do evento, enquanto a prefeitura de Florianópolis já lançou o Verão da Virada 2022, que inclui a festa com queima de fogos.
Em São Paulo e no Rio de Janeiro, entretanto, a festa já é planejada pelas prefeituras. Na capital paulista, a queima de fogos deve ocorrer na Avenida Paulista, enquanto que na cidade carioca o tradicional festejo acontece na orla de Copacabana, como em todos os anos.
Na virada de 2020 para 2021, a festa não foi realizada nessas capitais brasileira por conta do avanço da Covid-19, entretanto, muitas hoje já planejam as festas em virtude da cobertura vacinal contra a doença. Já que a vacinação no Brasil foi iniciada no dia 18 de janeiro deste ano.
ESPECIALISTA
Para o médico infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Julio Croda, a realização desses eventos com uma cobertura vacinal considerada não ideal pode resultar em um aumento da circulação viral e, consequentemente, um aumento de internações e mortes pela doença.
“Já estamos com um incremento de casos no Estado, só não temos incremento de óbitos, mas com a organização de um evento em massa corremos o risco de que esses números se elevem, porque a vacina não protege 100% contra a contaminação”, analisa o especialista, que também é professor na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
Atualmente, Campo Grande tem 67,5% da população com as duas doses de imunizantes ou dose única contra a doença, enquanto que com a primeira aplicação são 72,8%.
Em todo o Estado, porém, a cobertura vacinal é maior, chegando a 70,4% com a imunização completa e 80,1% com uma dose das vacinas.
Segundo Croda, para se chegar a um patamar de maior tranquilidade em relação à doença, o porcentual a ser perseguido é de 80% da população geral com o esquema vacinal completo, ou seja, as duas doses ou a dose única.
O prefeito afirmou que um dos motivos para a Capital recuar na realização desses eventos de aglomeração em massa é a cobertura vacinal e a estagnação no avança dela.
“Além disso [cobertura ainda inferior ao necessário], temos quase 60 mil pessoas que não retornaram para a segunda dose, além disso, nós vamos ter a volta de 100% das aulas presenciais, e se não fizermos uma transição com segurança e principalmente observando a ciência vamos jogar todo o trabalho feito até agora a perder”, declarou Marquinhos.
“Decidir o Carnaval agora é arriscado, a Capital estacionou na vacinação e se não tiver aumento de vacinação não vai atingir 80% até o Réveillon, e o Carnaval pode colocar em risco todo mundo. Primeiro precisamos atingir 80% com as duas doses e termos indicadores em queda ou estabilidade em patamar baixo".
"Não sabemos como vai ser no futuro, a gente está com nível de vacinação menor, e manter o Carnaval mostra que não está sendo avaliado indicadores epidemiológicos”, acrescentou Julio Croda.
VARIANTE
O infectologista afirmou que a nova variante descoberta na África do Sul e que já se tornou predominante no país também pode ser um fator a se preocupar. A cepa ainda é nova, mas se dissipou no país com muita rapidez, o que pode demonstrar alto grau de contágio da mesma.
Para o Estado, mesmo sem a chegada dessa nova variante, a Delta já se tornou predominante, apesar de ainda não ter surtido efeito no aumento exagerado de casos.
A variante é uma das mais transmissíveis da Covid-19, por isso o infectologista afirmou que mesmo sem a chegada de novas cepas, a situação ainda é delicada.
“A gente não precisa de novas variantes para ter novos casos, não só o surgimento delas vai trazer aumento de casos. A Delta pode gerar aumento ainda maior de casos, de hospitalização e de mortes. Além do risco dessa variante da África do Sul poder chegar aqui, o que também pode impactar".
"Temos de observar a sazonalidade dessa doença. No ano passado, a gente teve um aumento a partir do fim do ano, justamente por causa dessas festas em que temos um maior contato e maior risco de transmissão”, declarou o médico.
Em 2020, dezembro registrou um crescimento no número de casos, internações e mortes pela doença. O aumento seguiu nos meses seguintes, chegando no pico em junho deste ano. A redução se deu após a intensificação da vacinação contra a Covid-19.
Com informação do Portal Correio do Estado
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