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quinta-feira, 21 de março de 2019
Filme O Retorno de Ben veja a critica e o trailer
Crítica Cineweb
Existem diversos motivos para assistir a O retorno de Ben mas nenhuma é tão forte quanto Julia Roberts. Há anos, possivelmente desde Erin Brokovich (de 2000, que lhe rendeu o Oscar de atriz, no ano seguinte), ela não tem um papel tão forte e uma atuação tão marcante quanto aqui, como a mãe de um jovem viciado em drogas que volta para casa para o Natal. O filme pode girar em torno do personagem do título, interpretado por Lucas Hedges, mas é Roberts quem rouba a cena.
Sem usar seu famoso sorriso, numa personagem que pede compaixão, Roberts encontra a medida certa para compor uma mãe cujo amor pelo filho pode obrigá-la a tomar medidas drásticas. Ben está há quase dois meses numa clínica, mas aparece sem avisar um dia antes do Natal. Ele diz que foi incentivado pelo médico a voltar para casa e passar as festas ao lado da mãe, Holly, e da família. Sua irmã, Ivy (Kathryn Newton), desconfia dessa história e o padrasto (Courtney B. Vance), também. Mas Holly quer acreditar que seja verdade e passar dois dias junto com o filho.
Peter Hedges, autor do roteiro, diretor e pai de Lucas, não entrega tudo de uma vez. A narrativa revela detalhes do passado aos poucos, e cada novidade é uma nova justificativa para a apreensão de todos – especialmente do público. O sorriso no rosto de Holly, tentando convencer a família de que Ben mudou, é comovente, porque, no fundo, ela mesma sabe que as coisas não são tão simples – até esconde remédios, joias, dinheiro quando o rapaz chega em casa – quanto parecem. Tanto que o acordo será: Ben poderá ficar, mesmo com o padrasto preferindo que ele volte para a clínica, desde que a mãe esteja o tempo todo ao lado do filho.
Isso soa também como uma desculpa para uma espécie de reaproximação, e também expiação de feridas e medos do passado. Os dois fazem tudo juntos. Vão ao shopping fazer compras e ela não tem coragem de deixá-lo sozinho no provador – numa das cenas mais angustiantes de um filme repleto de angústia. Depois, sentindo-se mal, ele diz ter falado com o médico que lhe sugeriu ir a uma reunião de Narcóticos Anônimos. E mesmo nesse ambiente, supostamente seguro, Holly está lá, com ele.
Mas é quando a noite cai que o filme também se torna mais soturno. O cachorro da família é sequestrado, e Ben tem certeza de que é uma espécie de vingança contra ele. Quando o rapaz sai em disparada pela rua, de madrugada, Holly vai atrás dele. Mais do que uma longa jornada noite adentro, o filme se torna uma jornada passado adentro, com a dupla tendo que revisitar diversos lugares e pessoas do passado. Feridas que pareciam cicatrizadas vêm à tona e Holly percebe que o poço é mais fundo do que imaginava.
O roteiro de Hedges é ao mesmo tempo convencional e surpreendente, tomando caminhos inesperados, mas, acima de tudo, plausíveis. Seu grande feito é a construção das personagens – em especial Holly e Ben (embora todos os coadjuvantes sejam extremamente palpáveis como seres humanos). Pouco sabemos sobre o rapaz, e tudo o que ele conta pode ser mentira; a mãe, por sua vez, é facilmente identificável em sua combinação de culpa, generosidade e medo.
O retorno de Ben é um filme sobre uma pessoa de carne e osso tentando salvar seu filho do pior de seus pesadelos e até dele mesmo. Diferente dos personagens recentes de Liam Neeson, por exemplo, que se tornou um papai-é-capaz-de-tudo, a de Roberts é uma mulher mais próxima daquela de Frances McDormand em Três anúncios para um crime, cujas fraquezas são superadas pela dor que as impulsiona em suas lutas.
Alysson Oliveira
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