domingo, 5 de julho de 2009

Medo de morte faz rapaz dar mais valor a vida

A capital da França, suas luzes, monumentos e habitantes são personagens do longa Paris, de Cédric Klapisch

Diversos dramas - alguns mais bem desenvolvidos do que outros - giram em torno dos personagens de Romain Duris (As Aventuras de Molière) e de Juliette Binoche (Caché), dois irmãos.

Pierre (Duris, em sua sexta parceria com o diretor) é um dançarino profissional que acaba de ser diagnosticado com um problema cardíaco sério. Apenas um transplante poderá salvar a sua vida. Devido à sua condição, ele deve passar a maior parte do tempo em repouso. O marasmo leva-o a refletir sobre tudo o que já viveu e fazer especulações sobre as pessoas que vê na rua da sacada de seu apartamento.

Élise (Juliette) muda-se com os três filhos pequenos para a casa do irmão, de quem pretende cuidar. Para isso, pede a redução de sua jornada de trabalho como assistente social. Desgostosa com o amor, ela encontrou no trabalho uma válvula de escape.

A doença do irmão apresenta-se como uma desculpa perfeita para, mais uma vez, ela evitar envolver-se com outro homem - no caso, o feirante Jean (Albert Dupontel, de Irreversível), pai da melhor amiga da filha de Élise, cuja barraca de frutas fica perto do apartamento de Pierre.

Em meio ao drama dos irmãos que tentam superar momentos de melancolia, Klapisch, que também assina o roteiro, constroi uma delicada teia de relações humanas que, eventualmente, se cruzam. Roland (Fabrice Luchini, de Confidências muito Íntimas) é um professor universitário que se apaixona por uma aluna, Laetitia (Mélanie Laurent, de Dias de Glória), por quem é correspondido, embora ela também tenha um namorado. A mesma moça é objeto do desejo de Pierre, que a observa de sua janela - seus apartamentos ficam um em frente ao outro.

O drama dos feirantes das imediações também ajuda a compor o painel de Paris, um contraponto aos personagens de classe média alta. Entre eles estão o próprio Jean, que trabalha com a ex-mulher e tenta a todo custo reatar o relacionamento, embora não deixe de flertar com clientes bonitas, e o peixeiro metido a galã (Gilles Lellouche, de Inimigo Público No. 1).

Um dos melhores momentos do filme se passa no imenso mercado atacadista de Rungis, onde os feirantes compram suas mercadorias. Numa madrugada, depois de sair de um desfile de modas, um grupo de madames aventura-se com os feirantes do filme num passeio pelo local.

Em contraponto aos parisienses e seus dramas, Klapisch também lida com os imigrantes que buscam uma vida melhor na capital. A questão está sempre batendo à porta e pedindo uma discussão, como ocorre na vida real. Seja quando Élise analisa o pedido de ajuda de um casal de imigrantes, ou com a dona da padaria do bairro - vivida com uma veia cômica e cínica por Karin Viard (Inferno) - que parece não gostar de imigrantes e nunca encontra um funcionário à altura de suas exigências.

De forma discreta, o assunto volta ao longo da trama, com um personagem que tenta imigrar de Camarões para a França. Embora suas cenas, às vezes, pareçam fazer parte de outro filme, ao fim de Paris o personagem se encaixa como uma última peça de quebra-cabeça completando o painel.

Tal qual seus filmes mais conhecidos, O Albergue Espanhol e Bonecas Russas, Klapisch está interessado na forma como os dramas pessoais se cruzam e nas mudanças provocadas por esse cruzamento. Embora nem todos os personagens aqui tenham o mesmo tratamento - algumas histórias se perdem pelo meio do caminho, como um mendigo que importuna Élise e depois pede ajuda a ela no departamento de imigração - as histórias que são bem desenvolvidas trazem à tona assuntos tão tocantes quanto relevantes.

Reuters

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