sábado, 24 de janeiro de 2009

Asiáticos ditam novidades no Midem

THIAGO NEY
Enviado especial a Cannes da Folha de S.Paulo

O país homenageado foi a Rússia, mas os olhos (e bolsos) dos
participantes do Midem estavam direcionados para o Oriente. China,
Japão, Coreia, Índia e Sudeste Asiático concentraram boa parte das
novidades da feira da indústria fonográfica, ocorrida entre sábado e
anteontem, em Cannes. Os modelos de negócio montados nesses países
devem servir de parâmetro para o setor.

Nos debates que preencheram o Midem, a retórica dos executivos de
Europa e EUA girava em torno de uma questão nada inédita: como deter a
pirataria e ganhar dinheiro com a internet? Os orientais, por outro
lado, parecem já ter ultrapassado esse ponto; ilustraram na cidade
francesa, com diversos exemplos, como o mundo digital vem oxigenando
as receitas da indústria da música.

As conferências dedicadas à China eram, de longe, as mais populares.
Em uma delas, os participantes conheceram a bem-sucedida experiência
da Tencent. A companhia organiza shows junto a empresas de telefonia,
como a China Mobile. Como exemplo, citou o artista Jacky Cheung, que
fez 25 apresentações na China e recebeu 3 milhões de downloads de suas
músicas via celular, durante promoção da turnê.

Já o portal QQ Music (music.qq.com) é uma espécie de iTunes com
diversos tentáculos. Na página, pode-se ouvir ou comprar canções, ver
a letra da faixa, jogar games relacionados aos artistas etc. O site
ganha dinheiro, também, com publicidade. "Nosso público é jovem, entre
17 e 35 anos, gente que quer interatividade. Por isso a publicidade
funciona e é atrativa", disse Angela Xiong.

Na China, na Coreia e na Malásia, os artistas locais costumam assinar
contratos apelidados de 360º --as gravadoras ganham em cima de todas
as receitas geradas: venda de discos, músicas, merchandising, shows
etc. É o caso de JY Park, músico, produtor e presidente de uma
gravadora coreana. Park falou no Midem sobre sua estratégia para
lançar artistas: "Pegamos gente com menos de 15 anos e, por uns cinco
ou seis anos, os ensinamos a cantar, a dançar e a se apresentar ao
vivo. Os treinamentos incluem o aprendizado de pelo menos duas
línguas". Por que aprender línguas? Park direciona seus artistas para
mercados como China, Japão, Tailândia etc.

Se no Ocidente música digital é sinônimo de computadores, no Japão,
90% desse mercado é tomado pelo celular. Com o aumento da capacidade
de armazenamento de arquivos, com a portabilidade possibilitando o
download de qualquer lugar, é um mercado "que não tem como dar
errado", diz John Possman, americano radicado no Japão, diretor da
empresa de entretenimento e tecnologia 247. Especialistas afirmam que
o mercado de música para celular deve gerar cerca de US$ 11 bilhões em
2013 (cerca de R$ 26 bilhões).

Música e cinema

Se, no Brasil, nos EUA e na Europa, o senso comum diz que é nos shows
que os artistas ganharão dinheiro, na Índia, essa ideia é estranha.
Lá, 90% do mercado da música é baseado em trilhas sonoras. E 97% do
mercado digital de música está concentrado nos celulares (a internet
tem só 3%). "Os artistas nem fazem muitos shows na Índia. Ganham
licenciando canções para filmes e comerciais", contou Nilesh Jain,
dono do selo indiano Venus Records.

O licenciamento de canções para publicidade começa a ser explorado.
Andy Cato, integrante do Groove Armada, falou na Midem sobre o
contrato da dupla inglesa com a Bacardi --eles lançaram ontem um EP de
quatro faixas em uma plataforma on-line criada pela empresa de
bebidas. Os fãs podem baixar as músicas gratuitamente. "O contrato
encerra em abril. Para lançar o disco seguinte, vamos conversar com
marcas, gravadoras, fundos de investimento", disse Daniel O'Neill,
agente da dupla.

O jornalista Thiago Ney está hospedado a convite dos organizadores do Midem

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