Correio do Estado
Uma oficina realizada pela Embrapa Agroindústria de Alimentos aprofundou o debate sobre o tema "Redução de Perdas e Desperdícios e Segurança Alimentar e Nutricional". A discussão ocorreu no final do mês passado e contou com a presença de mais de 60 pessoas de instituições públicas, privadas e do terceiro setor interessadas em abordar possíveis soluções para reduzir perdas e desperdícios de alimentos no Brasil.
Pela complexidade e múltiplos atores envolvidos, foi consenso entre os participantes de que a abordagem para a solução dessa questão deve ser multidisciplinar e interinstitucional. O primeiro passo seria a realização de um diagnóstico mais recente sobre a questão de perdas e desperdício de alimentos no Brasil a ser realizado por instituições governamentais para a proposição de novas políticas públicas.
Outra solução levantada foi o aproveitamento integral dos alimentos, inclusive daqueles fora do padrão de consumo, com a integração das práticas de pós-colheita, de processamento de alimentos e de aproveitamento de coprodutos, para geração de renda e agregação de valor à produção. A capacitação do produtor em boas práticas de manipulação e de transporte e a utilização de restos de comida para compostagem de hortas em áreas públicas e privadas também foram apontados pelos participantes.
CAUSAS DO DESPERDÍCIO
TRANSPORTE
O primeiro palestrante, Waldir de Lemos, presidente da Associação Comercial da Ceasa Grande Rio e da Câmara da Cadeia Produtiva de Hortaliças do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento destacou fortemente a questão do transporte e da logística, alertando que muitos produtores ainda optam por transportar seus produtos em caixas de madeira devido ao baixo custo, mesmo com a ocorrência de uma grande perda pós-colheita.
"O transporte das frutas e hortaliças é um dos principais gargalos para a redução das perdas de alimentos no Brasil. Não há embalagens adequadas e economicamente viáveis para o produtor rural", disse.
Para ele, é necessário incentivo público para o uso de embalagens que garantam a qualidade do alimento até chegar aos polos de distribuição. Os supermercados também deveriam rever as regras para aquisição de produtos dentro de um determinado padrão estético. Uma possível saída seria a criação de seções com alimentos de diferentes padrões e diferentes preços dentro supermercados, para evitar perdas dos alimentos fora do modelo.
FALTA DE CONHECIMENTO
Já Maria Ângela Girioli, da Secretaria de Segurança Alimentar e Nutricional da Prefeitura de Belo Horizonte, que também integra o Comitê de Peritos em Redução de Perdas e Desperdícios para América Latina e Caribe da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), destacou os fatores para o desperdício de alimentos em países em desenvolvimento. Para ela, o baixo custo da comida, a exigência por alimentos dentro de padrões elevados e a falta de conhecimento do público urbano sobre a produção de alimentos contribuem para que esse cenário continue. Nesse sentido, o Governo teria papel fundamental.
"A solução para a redução do desperdício de alimentos está em desenvolver programas e campanhas públicas desde a produção até o consumo", afirmou ao apresentar as inúmeras ações da Prefeitura de Belo Horizonte, como o Programa Abastecer que, desde 1993, comercializa frutas e hortaliças de classificação comercial inferior a um preço controlado (R$ 0,99) para a população de baixa renda.
Outra alternativa também foi apontada por ela: "A redução da cadeia de distribuição de alimentos, aproximando os produtores dos consumidores, diminuirá as perdas de alimentos". As vantagens seriam preços mais justos e a possibilidade de compra de alimentos mais frescos direto do produtor. Por outro lado, a maioria dos produtores rurais ainda não possui uma logística de transporte adequada para escoar a sua produção desde o campo, o que inviabilizaria essa ideia em muitas regiões do país.
AUMENTO DA POPULAÇÃO
O professor Walter Belik, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), alertou sobre o aumento populacional exponencial e a provável escassez de alimentos, terras cultiváveis e água para o consumo e para a agricultura. "Pensar em reduzir as perdas e o desperdício de alimentos é pensar no meio ambiente, ao se racionalizar o uso da água e evitar a contaminação do solo", disse.
Segundo dados da FAO, o custo anual das perdas e desperdício de alimentos no mundo é de 750 bilhões de dólares, sendo que cerca de 800 milhões de pessoas ainda passam fome. "Devemos diminuir a pressão sobre os recursos naturais e a emissão de gases que provocam o efeito estufa; enfim buscar um sistema alimentar sustentável", concluiu o professor.
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