Desde segunda-feira um site de compras coletivas vende, ao lado de diárias de hotéis e cabeleireiros mais baratos, um serviço de orientação médica por telefone.
Associar medicina a promoção é irregular, afirma Desiré Carlos Callegari, primeiro-secretário do Conselho Federal de Medicina (CFM).
A promoção "Dr. Responde" oferece dez ligações com validade de um ano por R$ 44,50. Até as 18h de ontem, 317 pessoas haviam comprado o serviço. Foram oferecidos 100 mil cupons (equivale a um milhão de orientações).
A descrição do "produto" diz que o cliente terá acesso a médicos "sem carência, sem fila, sem hora marcada". Também promete solucionar dúvidas sobre remédios.
O serviço, diz o site, está respaldado no artigo 37 do código de ética do CFM: "O atendimento à distância dar-se-á sob regulamentação do CFM", ou seja, deve ser submetido à avaliação.
Mas o Dr. Responde não foi submetido a avaliação nenhuma. "A orientação médica é legal", entende Ricardo Marceliano, um dos sócios da empresa Viver Benefícios, responsável pelo serviço.
PRINCÍPIOS FERIDOS
Segundo o CFM, serviços de consulta telefônica são irregulares e antiéticos, e houve uma interpretação errada do código de ética. Além do mais, serviços médicos não podem estar vinculados a cupons de desconto.
Em sua defesa, Marceliano diz que não são feitos diagnósticos, prescrições nem consultas. Segundo ele, "200 profissionais", entre atendentes, médicos e enfermeiros, participam do recém-criado Dr. Responde.
O empresário diz que o médico pode "acertar" a dosagem de um remédio em uso, já prescrito anteriormente.
Para o CFM, prescrição ou mudanças de medicação por telefone são vedadas, salvo quando o médico está impedido de ver seu paciente.
O site da promoção afirma que o aconselhamento por telefone evita o deslocamento até o consultório e dá suporte a pacientes crônicos.
Para Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, o serviço fere o princípio básico da relação presencial entre médico e paciente.
"O médico tem que examinar e apalpar o paciente, perguntar sobre antecedentes para saber que conduta tomar." Segundo ele, a promoção é "explora a falha do sistema de saúde público".
Luis Fernando Penna, clínico do Sírio-Libanês, diz que propaganda de saúde não é ética. "Há que se buscar a humanização da medicina, não a banalização."
REGULAMENTAÇÃO
Segundo o Ministério da Saúde, cabe ao CFM regular a atividade.
O ministério afirma que já há um serviço de orientação gratuita por telefone em caso de emergência, mas diferente do oferecido no site de promoção.
No Samu (serviço de urgência), que atende pelo telefone 192, há um médico que pode esclarecer sobre a necessidade ou não de procurar um hospital ou chamar uma ambulância. O médico também diz o que fazer até o atendimento chegar.
Fonte: Folha Online
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