No Humap-UFMS, a Covid-19 não representa nenhum porcentual na taxa de ocupação de leitos da instituição
MARIANA MOREIRA
Com a desaceleração dos indicadores da pandemia, a Covid-19 deixou de ser responsável pela superlotação hospitalar em Campo Grande.
Conforme levantamento realizado pelo Correio do Estado, as taxas de internações atuais se assemelham ao cenário caótico registrado no período que antecede a crise sanitária imposta pelo coronavírus.
O Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap-UFMS) permaneceu como retaguarda do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS) para atendimentos a outras doenças até julho de 2021. Desde agosto do ano passado, a Covid-19 não representa nenhum porcentual na taxa de ocupação de leitos na instituição.
Em nota, a unidade gerida pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) afirmou que o Humap-UFMS vive em constante superlotação, principalmente no Pronto Atendimento Médico (PAM), no setor pediátrico, na unidade neonatal, maternidade, centro obstétrico e centro cirúrgico.
Referência para o tratamento de coronavírus, o HRMS opera, atualmente, com 91,1% de ocupação. No entanto, é importante salientar que, além da Covid-19, pacientes com problemas gástricos e cardiológicos representam a maioria dos internados.
Em um recorte mais preciso, no primeiro trimestre de 2021, quando o hospital realizava atendimento exclusivo para o tratamento de coronavírus, por volta de 1.028 pessoas ficaram internadas por mês.
Nos primeiros três meses deste ano, já em atendimento a outras complexidades, a média de internados subiu para 1.298 por mês, um crescimento de 26,2%. Até a manhã de ontem, apenas 15 pacientes estavam internados com Covid-19 no Hospital Regional.
A rede privada segue a mesma tendência de mudança no perfil de internados. A Caixa de Assistência dos Servidores do Estado de Mato Grosso do Sul (Cassems) informou ao Correio do Estado que, entre os dias 17 e 23 de janeiro deste ano, havia 133 pacientes internados no Hospital Cassems de Campo Grande.
Desse montante, apenas 6% eram enfermos com Covid-19.
Nos mesmos dias do mês de fevereiro, foram 146 pacientes internados no hospital, sendo apenas 4% diagnosticados com coronavírus. Entre os dias 17 e 23 de março deste ano, 121 pacientes estavam internados na Capital.
Até esta quinta-feira (24), 5,79% das internações eram por dengue. Ainda, há internações por sintomas respiratórios, no entanto, sem diagnósticos de Covid-19.
Nos primeiros três meses de 2021, foram 1.046 internações no Hospital Cassems de Campo Grande. Deste montante, 26.96% eram de pessoas com Covid-19.
Nos primeiros três meses de 2022, foram 1.551 internações na unidade hospitalar, com 2,64% de pacientes com coronavírus, uma redução de 90,2%.
Na Santa Casa de Campo Grande, em um recorte que considerou os dias 17, 18, 19, 20, 21 e 22 de cada mês, no primeiro trimestre deste ano, o número de internados só cresceu. No período analisado em janeiro, a instituição contava com 511 internados.
Em fevereiro, o número saltou para 535 hospitalizações, sendo 137 apenas no setor de trauma e ortopedia.
Neste mês, entre os dias 17 e 22 de março, 566 pessoas ficaram internadas na Santa Casa da Capital. Destas, 138 apenas na ala ortopédica e de traumatologia, por volta de 24,3% do total neste período.
Conforme o diretor-presidente do hospital, Heitor Freire, a instituição vive um constante regime de emergência. “Tudo o que acontece cai aqui e temos que resolver. Para nós, essa situação [de superlotação] é rotineira, estamos dando conta e respondendo pela nossa parte, como sempre fizemos”, reiterou.
AÇÕES
O Ministério Público de Mato Grosso do Sul ajuizou ação civil pública contra a Prefeitura de Campo Grande e o Estado de Mato Grosso do Sul para que ampliem, em um prazo de 60 dias, a quantidade de Unidades de Tratamento Intensivo para recém-nascidos (UTIs neonatais) e também de leitos para recém-nascidos nos hospitais de Campo Grande.
O pedido foi feito em tutela de urgência e a medida deve ser acatada até o dia 15 de maio.
A superlotação dos leitos reservados ao Sistema Único de Saúde (SUS) em toda a rede conveniada em Campo Grande, bem como a improvisação de leitos para recém-nascidos nos hospitais da Capital e de Dourados (os únicos com este serviço), levou a promotora de Justiça Daniela Cristina Guiotti a ajuizar a ação.
A promotora ainda pede ao Judiciário que aplique uma multa de R$ 100 mil à prefeitura e ao Estado, em caso de descumprimento de uma eventual decisão favorável à pretensão do Ministério Público que exige a implementação de mais 29 UTIs neonatais e 21 leitos de Unidade de Cuidado Intermediário Convencional (Ucinco) e 28 leitos de Unidade de Cuidado Intermediário Canguru (Ucinca), seja por intermédio de construção, de adaptação das instalações já existentes em hospitais públicos ou por meio de novos convênios com hospitais privados.
Esses números equivalem ao deficit de leitos específicos para recém-nascidos em Campo Grande.
Atualmente, todo o Estado disponibiliza 54 leitos de UTI neonatal, 62 Ucinco e 13 Ucinca. Das 54 UTIs existentes, 44 estão na Capital e 10 estão em Dourados.
O Correio do Estado visitou a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) no Bairro Universitário e foi possível constatar que a demanda por atendimento pediátrico é intensa.
Como consequência, o atendimento especializado não conseguia acompanhar o fluxo da recepção lotada.
HUMAP
O Ministério Público Federal (MPF) instaurou, no dia 10 deste mês, um inquérito civil para investigar a superlotação do Pronto Atendimento Médico Infantil do Humap-UFMS.
Em nota, o hospital afirmou que não depende de o Humap-UFMS criar leitos e que isso é atribuição do Poder Público (Ministério da Saúde e secretarias de Saúde do Estado e dos municípios).
Em contato com a Secretaria de Estado de Saúde (SES), a pasta informou que a notificação da ação civil refere-se apenas à Secretaria Municipal de Saúde (Sesau). A reportagem tentou contato com a Sesau, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.
SAIBA
Em 24 de fevereiro, Mato Grosso do Sul contava com 292 pessoas internadas com Covid-19. Nesta quinta-feira, apenas 64 pessoas estavam hospitalizadas pela doença, uma queda de 78% na taxa de internação em um intervalo de apenas um mês.
Com informação do Portal Correio do Estado
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