Foto:Reprodução
NAIANE MESQUITA
O segredo da dança do ventre está na feminilidade, no movimento do véu e, principalmente, no sorriso que a bailarina mantém durante toda a apresentação. As cinco mulheres que integram o Grupo Dança do Ventre Sem Limites têm todas as três qualidades, mas a última não deixa nem por um segundo o rosto de cada uma delas.
“Eu sempre tive o sonho de dançar e isso mudou a minha vida”, afirma Ana Lúcia Serpa, 44 anos, uma das integrantes do grupo de dança do ventre. Cadeirante, em decorrência da poliomielite, Ana Lúcia é a mais sorridente do grupo. “Quando a gente começou a dançar, a nossa autoestima melhorou bastante. Nós percebemos ao longo dos ensaios que poderíamos ir além em cada coreografia”, afirma.
A ideia de criar o grupo surgiu em novembro de 2017, mas só se concretizou em 15 de maio de 2018. “Nós conhecemos o trabalho da professora de dança Lisa Lima, que também é terapeuta ocupacional. Ela já fazia um trabalho com alunos com deficiência e, durante um seminário, nós vimos a apresentação de uma das alunas dela. Durante a apresentação, eu tive ideia de fazer um projeto com a Associação de Mulheres com Deficiência de Campo Grande. Dançar era um sonho que eu tinha e eu queria que mais mulheres com deficiência participassem”, afirma Flávia.
IMPACTO
Ao lado de Ana Lúcia e Flávia, mais três meninas fazem parte do grupo de dança, sendo elas Mirella Ballatori, 55 anos, Suzana Vieira, 36 anos, e Marilia Oliveira, 36 anos. Cada uma tem uma história diferente com a dança, desde a melhora no quadro de uma doença até uma apresentação que emocionou a todos.
Flávia, por exemplo, tem fibromialgia e visão monocular. Para ela, a dança ajudou muito a superar as dificuldades que enfrentava todos os dias com as doenças. “Eu queria que a dança promovesse essa autoestima e o empoderamento nas mulheres que participam. O que notamos também é que conseguimos transmitir uma mensagem de que tudo é possível e que a vida é para ser vivida, onde quer que nós estejamos, nada por ter limite e nada é impossível. Todos saem diferentes de uma apresentação nossa, é uma mudança interior, que ninguém imaginava que iria ocorrer. O impacto que a nossa dança causa é muito grande”, explica.
Suzana concorda. “A gente não tem um público certo ou um foco e acredito que por isso cada apresentação é uma surpresa muito grande. A gente nunca está esperando a reação daquelas pessoas”, acredita.
DESCOBERTA
Para Mirella, o mais importante foi fazer algo para si mesma. “Eu não pensei que passaria uma mensagem para alguém, eu não pensei que o meu comportamento ia modificar alguém, que eu ia alcançar alguém. Em primeiro lugar, eu fiz por mim mesma e até hoje não sei o tamanho do alcance que a gente tem quando entra para dançar. Eu costumo dizer que a gente não escuta o barulho de um mosquito, todos ficam impactados com a presença, porque são três cadeirantes e duas em pé, que também tem a deficiência, apesar de não parecer”, afirma.
Marília concorda. “A hora que eu coloco a roupa eu me sinto uma superpoderosa”, brinca. Com uma órtese na perna direita, consequência de um acidente, ela confessa que acreditou que jamais levantaria da cama novamente. “Eu disse depois do acidente que a minha vida tinha acabado, que nunca mais iria fazer nada legal, iria ficar deitada na cama o tempo inteiro. Hoje, eu faço mais coisas que antes”, diz.
Em breve, o grupo deve receber novas integrantes. “Tem duas meninas amputadas que querem participar também”, explica Mirella.
Desde maio, o grupo faz ensaios com uma nova professora de dança do ventre, a bailarina Nidal Abdul. “Nós trabalhamos com professoras voluntárias”, ressalta Mirella.
Agora, a ideia é levar a mensagem para mais vozes e conquistar ainda mais sorrisos para o palco. “O que nós pensamos é que qualquer pessoa pode ir além, independentemente da situação em que se encontra, e isso é um incentivo de vida”, acredita Ana Lúcia.
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