quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Chuva chegou tarde demais para o café brasileiro e preços continuarão a subir






Mesmo com o início das chuvas, a seca que forçou cafeicultores brasileiros como Carlos Babilon a arrancar seus pés de café deve continuar a dar impulso aos preços da commodity.

Babilon arrancou cerca de oito mil pés de café de sua fazenda no Espírito Santo, um Estado fundamental para a produção do grão tipo robusta usado na fabricação do café instantâneo no mundo todo. A prolongada ausência de chuvas deixou os pés ressecados demais para serem salvos, especialmente os mais velhos, diz Babilon, que vem de uma família que produz café há quatro gerações.

Quase três anos de seca na região sudeste brasileira afetaram a produção, reduziram a renda dos produtores e ajudaram a elevar os preços mundiais do café para níveis não vistos em muitos anos.
As chuvas voltaram em novembro ao Espírito Santo, mas produtores e analistas dizem que elas vieram tarde demais para salvar a safra atual. Alguns cafeicultores migraram para outros produtos, como bananas e mangas, privando o mercado mundial de um potencial abastecimento de café.

“A situação está muito ruim, terrível”, diz Babilon. “Em geral, a colheita vai ser pior em 2017 do que em 2016” e a safra só vai começar a crescer novamente em 2018, se o clima continuar favorável, disse ele.

O impacto duradouro dessa seca pode deixar o mercado global de café com uma demanda maior que a oferta por pelo menos dois anos, pressionando os preços e forçando os torrefadores a encontrar fontes alternativas de grãos fora do Brasil.

“Na produção de robusta, a perspectiva de uma recuperação brasileira em 2017 é pequena, e descartamos uma recuperação total no Espírito Santo”, informou o banco holandês Rabobank em uma nota de pesquisa.
O banco prevê que uma escassez na oferta do café robusta brasileiro provocará um déficit de 2,8 milhões de sacas na atual safra 2016-17, o que representa 1,8% da safra total. Na safra seguinte, o déficit potencial é de 2 milhões de sacas, previu o Rabobank.
Existem duas variedades principais de grãos de café: o arábica, considerado mais sofisticado, e o robusta, de sabor amargo e elevado grau de cafeína, encontrado nos cafés instantâneos e nos expressos italianos.

O Brasil é o principal produtor mundial de café robusta, responsável por cerca de 20% da produção global, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, (USDA, pela sigla em inglês). Cerca de 75% da oferta brasileira desse grão vem do Espírito Santo, que vem sofrendo “continua e severamente” com a ausência de chuvas desde 2014, segundo o USDA. Na safra 2015-16, a produção de robusta do Estado caiu 24% ante a safra anterior, para 9,9 milhões de sacas de 60 quilos. Em novembro, o USDA estimou que a produção cairá na safra atual, que termina em junho de 2017,aproximadamente mais 35%.

A ameaça ao abastecimento global provocou uma forte alta de preços nos mercados do arábica e do robusta. Esses ganhos também foram fortalecidos por um aumento das compras por fundos especulativos e pela valorização do real, o que tornou as exportações brasileiras mais caras em dólar. Em novembro, os contratos futuros de robusta negociados em Londres registraram um recorde de alta de quatro anos, para US$ 2.251 por tonelada. Na sexta-feira, o contrato de janeiro deu um salto de 3,87% para US$ 2.067, ficando inalterado no pregão de ontem.

Como os grãos do café tipo arábica podem ser usados como alternativa quando a oferta de robusta está em queda, a redução da oferta do Brasil também elevou os preços no mercado de arábica, que é maior e mais líquido que o robusta, em novembro, para uma máxima não vista em quase dois anos, apesar da abundante oferta de arábica na safra atual.

Fora do Brasil, as torrefadoras devem conseguir absorver o aumento de preços sem elevar o preço no varejo, informam torrefadores e negociantes. Mas devido a restrições na importação, o impacto no Brasil tem sido drástico. O governo brasileiro não permite a importação de robusta, então o declínio na safra doméstica tem elevado o preço para o consumidor local. O preço do café torrado e moído no país cresceu mais de 20% nos últimos 12 meses.

Em outubro, o robusta brasileiro estava custando mais que o arábica de baixa qualidade, algo que ocorreu pela primeira vez em pelo menos 15 anos, segundo o Cepea, instituto de pesquisa da Universidade de São Paulo.

Mesmo assim, os preços mais elevados não foram suficientes para compensar as perdas dos cafeicultores do Espírito Santo. Apesar da migração para outros produtos para cobrir seus gastos, Babilon teve de cancelar seu plano de saúde para ter dinheiro para pagar a escola dos filhos.

Mesmo antes da seca, o produtor de café Julio Cezar Cuquetto disse que havia começado a diversificar sua produção, incluindo mangas e pimentas, que fornecem uma renda mais confiável e constante. Ainda assim, isso não tem sido suficiente. “É o café que paga as contas”, diz Cuquetto.
O robusta devia, em comparação com o arábica, ser mais barato e mais resistente. A severidade da seca mudou esse sentimento. “As pessoas pensam que [o grão] é robusto”, diz Christian Bunn, cientista especializado em café do Centro Internacional para Agricultura Tropical da Colômbia. A vulnerabilidade do tipo robusta à seca tem sido negligenciada, diz ele.

Mas muitos produtores estão otimistas de que a volta das chuvas ajudará a produção no Espírito Santo a se recuperar. Os preços mais elevados também podem levar a um maior plantio de pés de café do tipo robusta. Babilon diz que seus esforços para manter saudável o que sobrou de sua lavoura devem ser compensados com a melhoria das condições climáticas.

“Eu acho que o pior já passou”, diz Rodrigo Costa, analista de café do banco francês Société Générale em Nova York.
/Katherine Dunn

The Wall Street Journal
Autor: Jeffrey T. Lewis

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