segunda-feira, 19 de março de 2012

Biografia de Van Gogh afirma que ele foi assassinado

Francisco Quinteiro Pires

Vincent van Gogh (1853-1890) não se matou. Ele foi assassinado, provavelmente por acidente, afirmam Steven Naifeh e Gregory White Smith, autores de "Van Gogh: The Life" (Random House, US$ 40; cerca de R$ 72), considerada pelo museu Van Gogh de Amsterdã a biografia definitiva do pintor.

Baseada no livro "Vincent van Gogh - The Complete Letters", a obra, de 2011, será lançada no Brasil no segundo semestre, pela Companhia das Letras.

"A hipótese do assassinato é mais plausível do que a do suicídio", afirmou Naifeh à Folha. "Até agora, nenhum especialista se opôs a ela."

Leo Jansen, curador do museu, diz, no entanto, que ainda há questões a serem elucidadas, como as circunstâncias do possível acidente e o paradeiro da arma.


A versão do suicídio foi crucial para a fama de Van Gogh, morto em 1890, aos 37 anos. A partir dela se estruturou a narrativa de um fim trágico para uma vida infeliz.

Os biógrafos não sabem se o homicídio foi acidental ou intencional. "O tiro teria ocorrido após uma discussão, afetada por bebedeira, entre o pintor e René Secrétan, um estudante de 16 anos", disse Naifeh.

Segundo os autores, Van Gogh foi atingido numa estrada perto de Auvers-sur-Oise, na França, a 1,5 km da Ravoux, pousada onde se hospedara e à qual voltou ferido. A versão consagrada é a de que ele disparou no próprio abdome em um campo de trigo, a 6,5 km de Ravoux.

"Os médicos concluíram que a bala entrou por um ângulo oblíquo, portanto, sem fazer uma trajetória direta como se esperaria de um suicídio. E o disparo ocorreu a certa distância do corpo."

Nenhum dos apetrechos de Van Gogh foi localizado. Não houve autópsia, testemunhas ou bilhete de despedida. Mas, em 1956, René Secrétan contou ao escritor Victor Doiteau detalhes da sua relação com o artista holandês. Apresentado a ele por seu irmão Gaston, Secrétan o azucrinava.

Além da fantasia de caubói, Secrétan andava com um revólver, usado para acertar pássaros e esquilos. Gustave Ravoux, dono da pousada, teria emprestado a arma ao jovem e espalhado o boato do suicídio, registrado pelo pintor Émile Bernard em carta para o crítico Albert Aurier.

Essa versão se transformou em mito com o best-seller "Sede de Viver" (ed. Record), escrito por Irving Stone em 1934 e adaptado para o cinema por Vincente Minnelli em 1956, com o ator Kirk Douglas.

"Van Gogh: The Life" é um trabalho de dez anos, baseado em mais de mil cartas do pintor. As mais de 28 mil notas explicativas estão no site vangoghbiography.com.

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