AE/ Com Jornal da Tarde
Eryk Rocha levou a sério o lema imortalizado pelo pai, o célebre cineasta Glauber Rocha (1939-1981), em uma expedição para pensar o Brasil a partir da realidade sociopolítica de nossos vizinhos da América do Sul. Com "uma câmera na mão e uma ideia na cabeça", o diretor passou 30 dias embrenhado na região andina, de onde saiu "Pachamama", documentário que estreia nos cinemas.
Fazendo valer a máxima, Eryk partiu em seu jipe do Rio de Janeiro até a Bolívia, passando pelo Peru, sempre com a câmera em punho, em um convite ao espectador para acompanhá-lo na viagem que reservou, também a ele, muitas descobertas. "Só o que tínhamos era o percurso. O resto eram só informações sobre os lugares, que eu também não conhecia além dos estudos", diz o cineasta de 32 anos. "O acaso é a matéria-prima do filme e, para mim, uma experiência de vida."
Para os indígenas, Pachamama significa "mãe-terra", em uma menção à deusa agrária dos camponeses. Mas faz lembrar também que nos confins além da tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Bolívia, da terra é que provém recursos para a sobrevivência de muitos vilarejos, já que os governos os esqueceram ali.
Durante todo o mês de janeiro de 2007, mais de 80 horas de gravações registraram vozes em idiomas nativos distintos, desesperançosas com chefes de governo, exaltadas em comícios de trabalhadores, otimistas com um futuro idealizado, desejosas de uma separação territorial dentro do próprio país, ou até alheias a tudo o que se passa devido aos efeitos de drogas alucinógenas. Na tela, a herança de quem teve o Cinema Novo como berço é latente. "O papel da arte é revelar novas realidades, impressões de mundo. Meu grande barato é abrir a câmera para o povo. O interesse no outro é o que me move", diz o diretor
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