terça-feira, 27 de setembro de 2022

Campão Cultural terá hip hop para crianças e dança da África do Sul

 




A segunda edição do Festival Campão Cultural, que acontece de 08 a 15 de outubro de 2022, terá como atrações nacionais na área da dança a Cia Fusion, de Minas Gerais, com o espetáculo Gatinha Mexerica, e o Gumboot Dance Brasil, de São Paulo, com mostra de videodança, workshop e o espetáculo Yebo.


Com mais de 15 anos de trajetória e 20 mil espectadores desde sua criação, a Cia. Fusion de Danças Urbanas experimenta, pela primeira vez, um conjunto de apresentações voltado para as crianças. Mexerica é o nome do novo espetáculo, que aborda a diversidade, o respeito às diferenças e a amizade. A pesquisa realizada pelo grupo para desenvolver esse trabalho tem como objetivo aproximar a cultura hip hop e a dança cênica do público infantil, menos contemplado por esses campos que os adultos.



Vertentes como locking, hip hop dance, breaking e house dance compõem a coreografia, executada pelos sete integrantes da companhia que assumem o papel dos personagens da história, animais da cidade e do campo. A trama é protagonizada pela gata Mexerica, e mostra as transformações em seus caminhos por meio de encontros com outros bichos, como um joão-de-barro B-boy, uma coelha surda, cachorros de rua e outros gatos. As descobertas, provenientes da convivência com as diferenças de cada um deles, permitem o aprendizado e a evolução na experiência de vida da protagonista. O caráter agregador do movimento hip hop, que também é uma ferramenta de resistência e de representatividade, convida as crianças a refletirem sobre a diversidade.



Mexerica é o primeiro projeto da companhia que conta com trilha sonora integralmente original, resultante de um processo desenvolvido ao longo da carreira do grupo, em que a criação musical ganhou cada vez mais espaço. Elaborada pelos artistas e irmãos Isadora Rodrigues e Matheus Rodrigues, parceiros da Cia. Fusion de Danças Urbanas desde 2013, a nova trilha combina ritmos urbanos e africanos, tais como o breakbeat, o funk e o afro-house,a instrumentos tradicionais em Minas Gerais como a viola caipira e a melodias que remetem mais diretamente ao universo infantil. Além de faixas instrumentais, a canção também é contemplada nesse e em outros espetáculos, apresentando letras que ampliam as possibilidades interpretativas apresentadas pelos corpos em movimento.



A composição feita para a cena em que a gata Mexerica conhece a coelha é um exemplo de como os versos expandem as mensagens transmitidas pela dança. A canção discute a importância da inclusão ao mostrar que é natural encontrar as mais variadas características nas pessoas e nos animais. A letra explica, ainda, que uma forma de se comunicar com os surdos é a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), utilizada no espetáculo como recurso coreográfico. Todos os personagens “dançam” uma tradução da letra em português para LIBRAS, e ensinam sinais que permitem que as crianças se aproximem de pessoas surdas, muitas vezes excluídas socialmente pela barreira da linguagem.


O espetáculo teve montagem e temporada de estreia patrocinadas pelo Programa de Patrocínios do Banco do Brasil e estreou em 12 de julho de 2018 no CCBB Belo Horizonte, onde permaneceu até o dia 29 de julho. A temporada contou com 18 apresentações, sempre com excelente recepção do público infantil e adulto.



Outra atração nacional na área de dança durante o Campão Cultural é o Gumboot Dance Brasil. Foi criado em 2008, a partir da pesquisa do bailarino e coreógrafo Rubens Oliveira, que atuou na Cia TeatroDança Ivaldo Bertazzo por oito anos, onde conheceu a dança Gumboot por meio do grupo Kholwa Brothers, da África do Sul. Interessado na pesquisa sobre Gumboot foi à África do Sul para intensificar sua pesquisa direto na fonte. No seu retorno ao Brasil, formou o Grupo Gumboot Dance Brasil, que desde então tem rodado por diversas cidades apresentando e ensinando a técnica. É o único grupo do país e um dos raros no mundo a pesquisar essa dança.


O grupo possui duas edições do espetáculo YEBO a primeira criada em 2010, e a segunda montagem em 2013. Em sua primeira versão do espetáculo YEBO o grupo contou com a participação da Banda Afroelectro. Ao intensificar a pesquisa, percebe o quanto essa dança trata de um assunto em comum com tantos outros povos no mundo, que vivem em situações precárias de trabalho.



Sendo assim, na versão atual o YEBO, utiliza a história dos trabalhadores brasileiros para desenvolver e aprimorar a pesquisa, a partir da movimentação do Gumboot Dance. Pesquisa esta que foi se atualizando e se harmonizando de acordo com os corpos dos dançarinos, ficando cada vez mais consistente e criando parâmetros corporais próprios.


Em seu último espetáculo – Subterrâneo – que teve estreia em março de 2018, o grupo lança um olhar para os corpos periféricos que, assim como nas minas da África do Sul do século XIX, trabalham em condições degradantes lutando pela sobrevivência, saciando os donos das riquezas, sem nunca enriquecer. Propondo, assim, um diálogo entre a África do Século XIX e o Brasil atual, se conectando com as atuais desigualdades sociais com as quais convivemos


Gumboot dance (dança de botas de borracha) é uma forma de dança popular que foi criada pelos trabalhadores no século XIX nas minas de ouro e de carvão da África do Sul. Homens negros, com sua a força de trabalho explorada pelos senhores do capital, lutavam para conquistar riquezas que jamais teriam para si. Expondo suas vidas ao risco, distante de suas aldeias e famílias, diariamente cavando buracos cada vez maiores, onde ficavam enterradas suas histórias, suas memórias e suas vozes.


Yebo aborda a exploração, tanto das minas, como dos sete povos levados para extração do minério. É a criação de um dialeto sonoro a partir das batidas nas botas de borracha e transformado em um alegre espetáculo percussivo em que a dança produz o som, e o som, conta as histórias dos poucos momentos de descanso e animação que esses trabalhadores tinham.


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