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quinta-feira, 28 de novembro de 2019
Filme: UMA SEGUNDA CHANCE PARA AMAR | Trailer (2019)
Cine web
Last Christmas ganhou um título genérico no Brasil: Uma segunda chance para amar, o que faz bastante justiça ao filme – uma comédia romântica genérica iluminada por luzes natalinas e colorida em tons de verde, vermelho e branco-neve. Como se percebe, é um filme comum, mas aspirando a ser profundo com suas intenções escritas num cartão de Natal de supermercado.
O título (o original, é claro) vem de uma música de George Michael cujo cancioneiro é uma espécie de inspiração aqui. Supostamente, o roteiro – escrito por Emma Thompson e Bryony Kimmings, a partir de uma história de Thompson e seu marido, Greg Wise – pretende homenagear o cantor e também o filme Simplesmente amor. Mas, no fim, faz um pastiche de ambos sem encontrar seu próprio tom. A canção originalmente gravada quando Michael fazia parte da dupla Wham, com Andrew Ridgeley, começa dizendo: “No Natal passado, eu dei a você o meu coração”, e o filme vai levar, como se perceberá a certa altura, algumas coisas ao pé da letra.
Dirigido por Paul Feig – responsável por uma das melhores comédias românticas desse jovem século, Missão Madrinha de Casamento – o longa conta com a sorte de ter como protagonistas um casal carismático que tem o azar de estar num filme ruim, mas que deverá fazer sucesso. Kate (Emilia Clarke) é uma iugoslava que cresceu cantando George Michael no coro da igreja em sua terra natal, imigrou para a Inglaterra com a família, e sonha em ser cantora de musicais. No entanto, ela está fadada a conseguir um trabalho numa loja de enfeites natalinos que fica aberta o ano todo e pertence a Noel (Michelle Yeoh, como sempre, sensacional).
A garota leva uma vida desregrada e sem sucesso, com problemas bem sérios com a mãe (Emma Thompson) e nunca se deu bem com a irmã (Lydia Leonard). A chegada de um desconhecido chamado Tom (Henry Golding) mudará tudo. Ele tentará ajudar Kate a encontrar um rumo. Ele é atencioso e um tanto apaixonado, mas some e volta sem muita explicação. Ele é um sujeito que parece vindo de outro tempo – nem celular ele tem. Como era de se esperar, Kate muda e começa a levar uma vida mais moderada, a fazer as pazes com as pessoas que machucou, e se torna até voluntária num abrigo de sem-teto. Enfim, ela se ilumina. Mas não para por aí. O roteiro reserva uma surpresa para a reta final, desafiando a lógica e o bom-senso.
Tão sem sentido também são todos os estereótipos que desfilam na tela – especialmente do leste europeu, mas também asiáticos e de origem africana. A mãe de Kate, Petra, é interpretada por Thompson sem qualquer sutileza, sem muita generosidade – o que é de se espantar, dado o calibre da atriz, que escreveu o papel para si mesma. Era para ser algo cômico, mas chega a constranger. Há momentos em que o filme pretende ser sério, especialmente quando ingleses maltratam imigrantes – haveria aí uma crítica social. É uma cena em que Kate, finalmente, parece fazer as pazes com sua origem eslava, mas soa forçadamente como uma agenda liberal mal resolvida dentro do filme.
Esse ano tem sido o ano em que músicas queridas se transformaram em desculpa para filmes – além deste, Yesterday, Rocketman, A música da minha vida (originalmente Blinded by the Light, a partir de Bruce Springsteen) e Bohemian Rapsody, do ano passado. São filmes que se valem da memória musical afetiva para a manipular. E não há nada de errado numa manipulação cinematográfica quando bem feita – do contrário, é mero oportunismo. No caso de Uma segunda chance para amar, o filme também corre o sério risco de ser taxado como um exercício de homofobia. É um filme careta e heteronormativo demais para fazer tributo à obra e ao espírito de George Michael.
Alysson Oliveira
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