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quinta-feira, 30 de junho de 2016
Filme Porta dos Fundos chega ao cinema sem o mesmo vigor dos esquetes
Reuters
Talvez seja melhor começar dizendo que toda a história de “Porta dos Fundos – Contrato Vitalício” está no trailer – o que sobraria, supostamente, são as piadas. E essas não são lá tão engraçadas ou sagazes como as dos vídeos na internet que fizeram a fama do grupo de humoristas.
A trama tem como ponto de partida um diretor de cinema, Miguel (Gregório Duvivier), e um ator, Rodrigo (Fábio Porchat), que depois de premiados em Cannes, bêbados numa festa, assinam num guardanapo um contrato dizendo que o intérprete fará todos os filmes do cineasta.
Miguel desaparece no banheiro do hotel e não se tem mais notícias dele. Rodrigo, por sua vez, tem uma carreira de sucesso. Uma década depois, volta ao festival francês, agora como jurado, e reencontra o amigo saindo do mesmo banheiro do quarto de hotel. O cineasta está sujo, com cabelos compridos e barbudíssimo, dizendo que foi abduzido e escravizado por alienígenas que vivem no centro da Terra. Agora quer fazer um filme sobre isso – precisa avisar a humanidade sobre o perigo – e Rodrigo terá de ser o protagonista.
A partir disso, o roteiro, assinado por Porchat e Gabriel Esteves (também roteirista de alguns dos esquetes da internet), acompanha as tentativas de Rodrigo de livrar-se desse contrato – ele foi convidado para fazer um teste para um filme de super-herói nos EUA – e das inadiáveis filmagens do longa, envolvendo alienígenas e afins.
Tudo poderia ser um pretexto para momentos e personagens (mais tipos do que personagens) de humor – mas nem sempre é. Temos o enlouquecido agente de Rodrigo (Luis Lobianco), o repórter abelhudo de revista de fofoca (Marcos Veras), a namorada do ator doida por “likes” e seguidores (Tathi Lopes) e o mendigo desligado e atrapalhado (João Vicente de Castro), que Miguel diz ser um colega de cativeiro alienígena cuja memória foi apagada.
Esses tipos lançam uma enorme possibilidade de humor que, de certa forma, já foram explorados nos vídeos do grupo. Se não foram, aí o problema é maior, porque parecem já ter sido. Não é só uma sensação de “déjà-vu” que o filme passa – é uma sensação de mesmice mesmo, sem o brilho ou a sagacidade dos esquetes do Youtube.
Uma das figuras clássicas desses vídeos é a Preparadora de Elenco (Júlia Rabello), uma profissional inspirada numa pessoa real, conhecida pelo resultado de seus trabalhos e os métodos pouco ortodoxos – alguns preferem chamar de cruéis, mesmo. No esquete de 2012, o humor é avassalador. Tudo funciona, o texto, o timing e, especialmente, a interpretação de Júlia. Mas tem pouco mais de 4 minutos. No filme, a participação da personagem é maior, e curiosamente, depois de uns 5 minutos, perde a graça e se torna repetitiva.
Antonio Tabet deve ser o único que consegue se safar. Seu personagem não tem muitas cenas, e seu humor negro, aliado ao seu “deadpan”, são perfeitos para o papel do detetive particular que faz investigações e “investigações”, conforme a escolha do freguês (o segundo tipo envolve algum tipo de dano físico ao investigado).
Dirigido por Ian SBF (“Entre Abelhas”), um dos fundadores do “Porta dos Fundos”, o longa não parece uma série de esquetes colados uns aos outros – mas também é uma comédia sem muita personalidade. E, por fim, sua melhor piada, uma citação literal da cena final de “Cinderela Baiana”, corre o risco de se perder – aparentemente, o público-alvo nem havia nascido na época do lançamento do filme estrelado por Carla Perez.
(Alysson Oliveira, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
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