sábado, 21 de fevereiro de 2009

Pai do axé, Luiz Caldas investe em novos gêneros e lança dez CDs simultaneamente

"Nega do cabelo duro, que não gosta de pentear. Quando passa na baixa
do tubo, o negão começa a gritar: pega ela aí! Pra quê?" Você pode até
não lembrar a resposta do verso da música "Fricote", mas é improvável
que tenha esquecido a figura peculiar de seu intérprete, o baiano Luiz
Caldas.

Auto-proclamado como "o pai do axé", o cantor e multiinstrumentista de
46 anos agora quer ser lembrado também por fazer rock, forró, frevo,
música instrumental e música indígena, entre outros estilos que serão
lançados, de uma só vez, em dez CDs de diferentes gêneros.

Longe dos seus tempos áureos nos anos 80, Luiz Caldas já não tem mais
o cabelo comprido nem os pés descalços --adotou o All Star como seu
calçado oficial. O visual novo é também o cartão de visita para uma
fase tão eclética quanto ambiciosa. "No Carnaval de 2008 pensei em
fazer algo diferente, mas não queria lançar disco duplo porque isso
todo mundo faz. Até pensei em álbum triplo, mas [o ex-beatle] George
Harrison também já lançou. Queria algo meu", conta o músico.

Um ano depois, o resultado chega em duas caixas, cada uma com cinco
discos: um de rock, um de axé, um de forró, um de frevo, um de samba,
um de violão clássico instrumental, um de música superpopular (o
famoso "brega"), um indígena e dois de música popular brasileira. "É o
único que se repete, porque abrange muita coisa", explica.

Cada disco traz 13 faixas, todas inéditas e de composição própria.
Nada aqui é requentado: "não são composições antigas ou sobras de
gravações. É material novo, feito para esse projeto e criado entre
março de 2008 e janeiro de 2009. São 132 canções atuais", contabiliza.

Tupi e rock and roll
Luiz Caldas conta que começou a cantar aos sete anos de idade.
"Cantava Jackson 5 e as grandes vozes da Motown [Records], de jazz às
músicas de baile e bandas como Pantera, Kreator e Beatles. Por isso
passeio pela música mundial com a mesma desenvoltura. Minha cabeça
muda quando toco, sou um ator".

De todo o trabalho, Caldas destaca dois discos. "Nhengara reké taba",
o de música indígena, foi gravado todo na língua tupi e traz sons e
elementos da natureza. O outro, "Castelo de Gelo", mostra a veia rock
and roll do cantor. "É música visceral em matéria de riffs de
guitarra. Incorporei um personagem e puxei a voz de Louis Armstrong
para cantar", revela.

O projeto tem participações de Seu Jorge, Sandra de Sá, Zeca Baleiro,
Milton Guedes, André Abujamra, Armandinho e André Macedo, Peu Meurray
e Raimundo Sodré. "Fiz tudo pensando no Grammy. Quero que esse
trabalho chegue às mãos de Bono [do U2], de Quincy Jones [produtor
norte-americano] e de Barack Obama, para mostrar a ele que sou o
criador da nova música negra da Bahia, que é o axé".

A caixa com os dez CDs será lançada logo após o Carnaval. "Ainda não
estabelecemos uma quantidade exata, mas será uma tiragem limitada. O
CD tem o mesmo destino do vinil, logo vai desaparecer", prevê Caldas.
Para não perder o trabalho, todas as faixas serão vendidas em formato
MP3 no site do cantor. "Vou oferecer um supermercado musical, com
prateleiras de todos os estilos".

Mesmo investindo em sua nova fase, Luiz Caldas não deixa seu título de
"pai do axé" ser esquecido em pleno Carnaval. "Criei uma coisa fora de
série, o axé é muito legal e nunca vai morrer". E por que partir para
gêneros tão distintos? "Porque não nasci para fazer uma coisa só.
Tentaram me rotular e se deram mal. Nunca houve espaço para falar, mas
agora tem. Estou amadurecido e meu poder está fortalecido".

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