A descoberta dos microRNAs por Victor Ambros e Gary Ruvkun foi crucial para a compreensão de como funciona regulação genética e, consequentemente, de como ocorre a formação de diferentes tipos de células e tecidos do organismo. A pesquisa, premiada com o Nobel de Medicina nesta segunda-feira, 7, foi crucial na compreensão do surgimento de tumores cancerígenos e abriu caminho para o estudo de novos tratamentos e métodos de diagnóstico.
“Temos observado que por trás de doenças crônicas, como câncer e infecções, podemos encontrar uma desregulação no funcionamento destes microRNAs”, afirma o médico e pesquisador da Ciência Pioneira, do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, Bruno Solano.
“A descoberta dos microRNAs representa grande avanço na Medicina, porque abre portas para o desenvolvimento de métodos de diagnóstico mais precisos e de novas terapias para uma série de doenças”, continua Solano, também pesquisador da Fiocruz e membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências.
Os cientistas descobriram um mecanismo regulatório crucial usado pelas células no controle da atividade genética. A informação genética flui do DNA para o RNA mensageiro (mRNA), por meio de um processo chamado de transcrição, alcançando o maquinário celular para a produção de proteínas.
Dentro das células, o mRNA é traduzido de forma que as proteínas sejam produzidas de acordo com as instruções genéticas originalmente armazenadas no DNA. Desde meados do século 20, algumas das mais fundamentais descobertas científicas detalharam esse processo.
Nossos órgãos e tecidos consistem em diversos tipos diferentes de células; todas elas com informação genética idêntica armazenada em seu DNA. No entanto, cada célula expressa um grupo específico de proteínas, apresentando características muito distintas.
Como isso é possível? A resposta está na precisa regulação da atividade genética de forma que apenas um grupo específico de genes seja ativado para cada tipo de célula a ser formada.
Esse mecanismo permite, por exemplo, que células musculares, do intestino, do cérebro, entre tantas outras, exerçam suas funções específicas. Além disso, a atividade genética precisa ser o tempo todo muito bem ajustada para adaptar as funções celulares às mudanças contínuas que acontecem em nossos corpos e também no meio ambiente. Sem esse ajuste fino constante, doenças graves poderiam surgir.
“Os miRNAs revelaram um novo mecanismo de regulação pós-transcricional, onde pequenos RNAs silenciadores atuam no controle da expressão genética”, explicou Solano. “Isso abriu novas portas para o entendimento de processos biológicos fundamentais e patologias, como o câncer, doenças neurodegenerativas e outras condições em que se observa uma regulação gênica desordenada.”
Tem vários processos no sentido de combater tumor. Tem sido feito, estudado. O que importante deixar claro, isso funciona normalmente na célula, estão ajudando a célula a existir, mas eu dei o exemplo, desregulação deles, pode levar a desregulação do controle do ciclo celular, e se consegue mexer no processo, buscar controlar a própria tumoral
A regulação anormal dos microRNAs pode contribuir para o desenvolvimento do câncer e mutações em genes que causam problemas como perda de audição congênita e problemas na visão. Mutações em uma das proteínas necessárias à produção dos micro RNAs resultam em DICER1, uma síndrome rara e muito grave, ligada a tumores cancerígenos em diferentes órgãos e tecidos.
“A maioria das terapias que temos no momento são voltadas para proteínas nas células”, disse à agência de notícias Associated Press Claire Fletcher, especialista em Oncologia da Imperial College de Londres. “Se pudermos intervir no nível de microRNA, isso abre novo caminho para desenvolver medicamentos e controlar a atividade de genes cujos níveis podem ser alterados em doenças.”
Além de desenvolver novos tratamentos, a pesquisadora afirma que a descoberta ajuda na identificação de biomarcadores de doenças, o que contribui para melhorar os diagnósticos.
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