quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Filha de idosa encontrada morta em casa após seis meses gritava orações durante madrugadas inteiras

 


Segundo vizinho do mesmo prédio da Rua Marco Polo, na Vila da Penha, Zona Norte do Rio, os responsáveis pelo edifício chegaram a pedir ajuda a unidades públicas pedindo acompanhamento psicológico da mulher

Dia após dia e durante madrugadas inteiras, inquilinos de um prédio de quatro andares, com onze apartamentos, da Rua Marco Polo, na Vila da Penha, Zona Norte do Rio, escutavam uma mulher que clamava alto desde julho deste ano. Uma oração com palavras desconexas, "mas intensa e em alto e bom som". Os gritos continham frases confusas e deixavam claro que naquele apartamento do térreo havia uma mulher que parecia estar vivendo dias conturbados.



Diante da situação, o responsável pelo prédio chegou a pedir ajuda a unidades públicas para saber se a mulher precisava de acompanhamento psicológico. As orações incessantes eram feitas por Lucimar, filha da idosa de 75 anos que teve o corpo encontrado no último sábado, já em estado avançado de composição. O cadáver ficou seis meses trancado em um quarto do apartamento em que as duas moravam.


— No início era de manhã cedo, a gente ouvia ela fazendo orações em um tom de voz alto. Conforme os dias foram passando, foi aumentando tanto a frequência quanto o volume do clamor dela. Até que, no final de julho, ela gritava orações confusas, que não dava para entender exatamente o que era dito, durante as madrugadas inteiras. O nosso prédio só tem onze apartamentos e a maioria dos moradores são pessoas idosas, então acabou virando um problema e até uma preocupação — conta um morador do prédio que preferiu não se identificar.


Segundo o vizinho, o responsável pelo prédio chegou a fazer pedidos a unidades de saúde pública para tentar uma avaliação psicológica.


— A ideia era tentar uma assistência social ou um acompanhamento psicológico, mas o pedido não estava sendo feito por ninguém da família e era necessário levar a mulher para uma avaliação na unidade. A situação acabou não sendo resolvida e a gente meio que teve que ir aprendendo a conviver com todo aquele clamor conturbado — lembra o morador do edifício.


O apartamento em que Maria Auxiliadora de Andrade Santos, de 75 anos, morava com a filha é no térreo do prédio. Antes de passar por períodos de doença, o morador conta que as duas eram sempre vistas juntas.


— Pareciam ter uma boa relação, vi muitas vezes as duas andando juntas pelo bairro. Teve um período que a Maria Auxiliadora ficou doente, a gente via a Lucimar levando ela de cadeira de rodas, mas desde o início do ano ela sumiu. A gente só não imaginou que tinha acontecido uma coisa dessas. Ninguém sentiu cheiro e nem desconfiou de nada


Ainda de acordo com o relato, o irmão de Lucimar, já falecido há poucos anos, seria um militar aposentado por questões de saúde.


— Por alto, a gente ouvia e percebia que ele era portador de algum tipo de doença psiquiátrica, mas não tinha intimidade o suficiente para saber mais a fundo. E, com essa situação das orações, chegamos a pensar que ela também poderia estar iniciando algum quadro nesse sentido.


Ao GLOBO, o vizinho contou ainda que não sentiu e nem ouviu nenhum outro morador falar sobre algum mau cheiro. A única coisa que eles teriam percebido era que o apartamento, sendo a residência principal em frente ao corredor de entrada do prédio, passou a estar sempre fechado. Quem entra no edifício vê logo no final da passagem, para os outros andares, a porta branca do apartamento estampada com a imagem de três cachorros.


— Também passou a ser cada vez mais raro ver a Lucimar, ela já não transitava tanto pelo prédio e nem a encontrava na rua. A gente só ouvia. Mas as contas do condomínio, por exemplo, estavam em dia e nunca soubemos de nenhum relato ou problema desse tipo de ela estar devendo alguma coisa.


No último domingo, um dia após o corpo ter sido achado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Lucimar teria intensificado a altura e o tempo das orações, mais do que ela já costumava fazer. Segundo o vizinho, a voz dela podia ser ouvida até da calçada.


— Ela gritava, mas, ao mesmo tempo, não dava para saber o que exatamente ela estava dizendo. Ficou o domingo todo, durante o dia e noite, fazendo as orações sem parar. Pra gente, enquanto vizinho, foi um dia tenso porque o som que estava vindo do apartamento dela e aí fazia a gente lembrar do caos e do susto que tivemos no sábado, quando acharam o corpo já em composição. Foi tudo muito triste de presenciar. Mas depois, na segunda-feira, ficou um silêncio e as luzes do apartamento apagadas. E aí logo em seguida descobrimos que ela já não está mais aqui no prédio. A filha dela a levou, mas não sabemos para onde, mas ela garantiu que a mãe está bem.


Relembre o caso

De acordo com o RJTV, quando os socorristas entraram no apartamento, encontraram a filha da idosa deitada no sofá. Após uma análise clínica, viram que ela estava bem, mas sentiram um cheiro forte. A mulher teria tentado desconversar e dispensar os médicos. Um deles insistiu e resolveu arrombar a porta do quarto e descobriu o cadáver. O corpo da idosa foi removido para o Instituto Médico-Legal do Centro.


O caso é investigado pela 27ª DP (Vicente de Carvalho), as causas e as circunstâncias da morte ainda estão sendo apuradas. Uma perícia foi realizada no cadáver. A filha foi ouvida e liberada. Outras testemunhas, como moradores do prédio e a neta da idosa, também foram ouvidas



Por 

 — Rio de Janeiro

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