quinta-feira, 29 de agosto de 2024

‘Fernanda Young: foge-me ao controle’ faz uma 'colagem inebriante' sobre a vida da escritora morta há 5 anos

                                                           Foto: Divulgação

Bonequinho aplaude o documentário dirigido por Susanna Lira e narrado por Maria Ribeiro

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Documentários na forma de retratos costumam recorrer a entrevistas formais e a depoimentos de outras pessoas para organizar e comentar a trajetória da personagem, como “Dorival Caymmi: um homem de afetos” (2019). Outros filmes — como “Belchior: apenas um coração selvagem” (2022) — trilham caminho diverso e talvez mais arriscado, o de se restringir ao que o próprio retratado tem (ou teve) a dizer, recolhendo material de arquivo. A segunda alternativa dá imensa força e poder de atração a “Fernanda Young: foge-me ao controle”.

Durante pouco mais de 80 minutos, é a própria Fernanda (1970-2019) que vemos e ouvimos — em participações na TV (como no programa “Saia justa”), curtas-metragens, ensaios fotográficos, performances e vídeos caseiros, em poemas e trechos de nove de seus 15 livros (de “Vergonha dos pés”, de 1996, a “Posso pedir perdão, só não posso deixar de pecar”, de 2019) lidos pela atriz Maria Ribeiro, e em diálogos escritos por ela e pelo seu marido, o também roteirista Alexandre Machado, para programas como “Os normais” (2001-2003) e “Shippados” (2019).

Trechos de filmes antigos — de Man Ray, Germaine Dulac e Maya Deren, entre outros — são o único material “intruso”. Dirigido por Susanna Lira, o filme recebeu o prêmio de melhor montagem (para Ítalo Rocha) no festival É Tudo Verdade deste ano por uma notável tentativa audiovisual de se aproximar do coração de alguém que dizia ficar “o tempo inteiro indo e voltando”, movida por uma tríade de criação — amor, tempo e morte — que chacoalha essa colagem inebriante.

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