Brasileiro assegura que está recuperado de cirurgia no joelho e pronto para buscar vitória nos 400 m com barreiras
"Bonjour!" Dono de um inglês fluente, Alison Brendom Alves dos Santos, o Piu, gastou todo o seu francês apresentando-se à imprensa local, no último dia 6, véspera da etapa de Paris da Diamond League, o principal circuito profissional do atletismo mundial.
Na capital francesa, Piu teve uma prévia do assédio da mídia que sofrerá durante os Jogos na França, onde será uma das maiores estrelas do atletismo. Em poucos minutos, conquistou os repórteres com seu bom humor permanente. Deu entrevistas e até posou para fotos com um croissant gigante.
Era a primeira vez que o recordista sul-americano dos 400 m com barreiras competia na etapa de Paris. Ainda que a prova não tenha sido no Stade de France (69 mil lugares), palco do atletismo nos Jogos Olímpicos, mas no mais modesto estádio Charléty (16 mil lugares), o resultado foi auspicioso: vitória fácil, sem forçar, em 47s78.
"Sinto que estou bem melhor que três anos atrás", disse Piu à Folha. Três anos atrás, o brasileiro conquistou a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
De lá para cá, o atleta do Esporte Clube Pinheiros foi hegemônico em sua prova na Diamond League de 2022 e teve um 2023 difícil, devido a uma artroscopia no menisco do joelho direito, no mês de março. O problema já ficou para trás, segundo ele. "Estou bem tranquilo em relação a isso."
"A gente está em outro 'level' já", disse, assim mesmo, inserindo na frase um termo do inglês aprendido nos longos períodos de treinamento nos Estados Unidos. "Comparando as temporadas, esta é com certeza a minha melhor em termos de preparação."
Na Diamond League deste ano, o brasileiro venceu as etapas de Doha (Qatar), Oslo (Noruega), Estocolmo (Suécia) e Paris. Em Oslo, derrotou um de seus grandes rivais, o ídolo da casa, Karsten Warholm. Piu foi derrotado apenas na etapa de Mônaco, na semana passada, pelo norte-americano Rai Benjamin.
Warholm, 28, Benjamin, 26, e Alison, 24, detêm, nessa ordem, os três melhores tempos da história dos 400 m com barreiras, o que leva os especialistas a qualificar a final olímpica deste ano como a maior de todos os tempos.
Em Mônaco, Benjamin venceu com 46s67, à frente do norueguês (46s73) e do brasileiro (47s18). Em junho, em Eugene (Estados Unidos), o norte-americano já tinha tomado do brasileiro o posto de dono da melhor marca do ano (46s46, contra os 46s63 assinalados por Piu em Oslo).
Mas, a menos de um mês dos Jogos, nenhum dos três quis se aproximar do recorde mundial, que pertence há três anos ao norueguês (45s94). Piu diz que não pensa nos rivais. "Só estou pensando na minha prova, na minha preparação. Porque, se eu paro para pensar nos outros caras, paro de pensar em mim e não me preparo do melhor jeito."
Quando Piu fala dos treinamentos, fica evidente a ênfase na alegria de correr. "A preparação está leve, está solta." Seu técnico, Felipe Siqueira da Silva, confirma: "A minha filosofia de trabalho é que o atleta possa correr como se não tivesse barreira." Como em uma prova de 400 m rasos.
As pernas compridas (Piu mede 2 m) facilitam a missão, que exige constantes aperfeiçoamentos biomecânicos. Seis anos atrás, o brasileiro fazia toda a prova com 13 passos entre uma barreira e outra. Hoje, já consegue superar quatro dos dez obstáculos com 12 passos, explica Siqueira. "A gente tenta montar um modelo com que ele possa correr de maneira mais natural possível sobre as barreiras."
Isso pode fazer a diferença na final olímpica. Rai Benjamin faz toda a prova em 13 passos; Warholm precisa de 14 nas duas últimas barreiras.
Se conquistar o ouro no próximo dia 9, Piu —apelido de adolescência, segundo ele devido à semelhança com um colega de treinamento— completará um capítulo notável de uma história marcada pelo início trágico: o acidente doméstico, aos dez meses de vida, quando uma frigideira de óleo quente lhe caiu sobre a cabeça e o deixou com queimaduras de terceiro grau no couro cabeludo.
RAIO-X
Alison dos Santos (Piu)
Nome
Alison Brendom Alves dos Santos
Idade
24 anos
Nascimento
São Joaquim da Barra (SP)
Altura
2,00 m
Participações olímpicas
uma (Tóquio-2020), com um bronze
Principais resultados não olímpicos
campeão mundial e da Diamond League, em 2022
Folha de São Paulo
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