domingo, 21 de julho de 2024

Biden desiste de candidatura à Casa Branca e endossa vice Kamala Harris

 


Com saúde questionada, presidente não resiste a pressão para deixar disputa após gafes; novo candidato democrata tem de ser aprovado na convenção do partido, em agosto

A pouco mais de três meses da eleição, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, 81, anunciou neste domingo (21) que não será mais candidato à reeleição. Ele não resistiu à intensa pressão interna do Partido Democrata pela sua saída, que começou após o desastroso desempenho no debate realizado no fim de junho e não arrefeceu mesmo após várias tentativas do presidente de assegurar apoiadores e eleitores de que tinha condições de derrotar Donald Trump.


O anúncio foi feito por meio de uma carta publicada nas redes sociais do presidente. Biden disse que vai explicar melhor sua decisão em um pronunciamento à nação. O presidente, em seguida, endossou sua vice, Kamala Harris, para ser a candidata democrata na eleição de novembro.


"Acredito que é o melhor para o meu partido e para o meu país que eu desista e me concentre apenas em completar meus deveres como presidente pelo restante do meu mandato", afirmou o democrata.


David Axelrod, estrategista democrata durante o governo Barack Obama, afirmou que "a história vai honrá-lo por suas muitas conquistas como presidente e pela terrivelmente difícil e altruísta decisão tomada hoje". "Ele entende o que Donald Trump não entende", completou, em uma postagem no X.


Foram várias iniciativas nesse sentido nas últimas semanas —Biden deu uma entrevista exclusiva para a ABC News dias depois do debate, participou de uma entrevista coletiva após a cúpula da Otan na qual conversou diretamente com a imprensa por uma hora, e fez uma série de discursos enérgicos em eventos de campanha, insistindo na tese de que era a pessoa melhor posicionada para evitar uma vitória de Trump em novembro.


Mas os esforços foram marcados por problemas que agravaram as preocupações de democratas sobre a idade avançada do presidente. Na entrevista coletiva, confundiu sua vice, Kamala Harris, com seu adversário, Donald Trump; nos discursos de campanha e conversas com a imprensa, cada gafe piorou sua situação com aliados e fortaleceu vozes do partido que pediam sua saída.


A campanha de Trump já reagiu, enviando a apoiadores uma mensagem em que diz que Biden saiu da corrida e o chama de "pior presidente de todos os tempos". A mensagem é acompanha por um link para fazer doações para a campanha republicana.


O anúncio de Biden vem em um momento em que as pesquisas de intenção de voto colocavam o presidente atrás de Trump em estados-chave como Pensilvânia, Wisconsin e Michigan, tornando mais remotas as chances de vitória do democrata.


Também acontece uma semana depois da tentativa de assassinato contra Trump e logo após a convenção do Partido Republicano que oficializou o ex-presidente como candidato, eventos que energizaram a base do adversário, enquanto Biden precisou interromper a campanha para fazer isolamento social em casa em Delaware após receber um diagnóstico de Covid-19.



A decisão histórica de Biden de desistir da candidatura torna imprevisível a disputa pela Casa Branca neste ano. Democratas terão que definir uma nova chapa na convenção do partido, prevista para agosto, em Chicago.


Os principais nomes que vêm sendo cotados para substituir o presidente na chapa democrata, além de Kamala, são os governadores Gavin Newsom (Califórnia), J.B. Pritzker (Illinois), Josh Shapiro (Pensilvânia) e Gretchen Whitmer (Michigan), além do secretário de Transportes, Pete Buttigieg.


A última vez que uma convenção democrata serviu de fato para nomear um candidato, e não apenas oficializar o vencedor das primárias, foi em 1968. O escolhido, Hubert Humphrey, perdeu para o republicano Richard Nixon.


O anúncio antecipa o fim de uma carreira política de mais de 50 anos. Aos 29 anos, Biden foi um dos mais jovens senadores eleitos na história dos EUA e, aos 77, o presidente mais velho a tomar posse.


O democrata assumiu o país após a conturbada presidência de Trump a quem derrotou em uma eleição até hoje questionada, sem provas, pelo adversário. Em meio à crise da Covid, ele priorizou o combate à pandemia e a recuperação dos EUA.


Seu mandato foi marcado por feitos expressivos, como os pacotes bilionários de incentivo à transição energética e de investimentos em infraestrutura. Biden desafiou a previsão predominante entre economistas de que uma recessão era inevitável e alcançou uma das taxas de desemprego mais baixas da história.


Em contrapartida, a inflação disparou durante o seu governo, acumulando alta de quase 20%. A alta do custo de vida foi o início do fim da lua do mel do presidente com o eleitorado.


À alta de preços somou-se o aumento da entrada irregular de imigrantes nos EUA, alcançando níveis recordes. Cenas de caravanas vindas do México reproduzidas na TV reforçaram a imagem de descontrole na fronteira e de fraqueza do presidente.


Biden viu ainda a eclosão de duas guerras durante seu mandato: a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 2022, e o conflito entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza, iniciado em outubro de 2023. Nos dois casos, sua decisão foi manter-se fiel às alianças americanas com Kiev e Tel Aviv, em contraposição a Moscou e a adversários americanos no Oriente Médio.

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