sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Alzheimer: cientistas identificam novo sinal precoce, que pode surgir 3,8 anos antes do diagnóstico; entenda

 

                                            Idosa — Foto: Freepik

Novo estudo incluiu dados de mais de mil pacientes de 16 países diferentes

Um grupo de cientistas internacionais, liderados por pesquisadores da Universidade da Califórnia San Francisco, concluiu o primeiro estudo em grande escala sobre problemas visuais que se apresentam como os primeiros sintomas da doença de Alzheimer. O trabalho inclui dados de mais de 1 mil pacientes de 16 países e foi publicado na revista científica The Lancet Neurology.


A atrofia cortical posterior (ACP) é um indício precoce de Alzheimer, descobriram os investigadores. Cerca de 94% dos pacientes com ACP tinham patologia de Alzheimer e os 6% restantes tinham condições como doença de corpos de Lewy e degeneração lobar frontotemporal. Em contrapartida, outros estudos mostram que 70% dos pacientes com perda de memória apresentam a patologia de Alzheimer.


Ao contrário dos problemas de memória — sintoma comum do Alzheimer —, os pacientes com ACP têm dificuldade em avaliar distâncias, distinguir entre objetos em movimento e parados, completar tarefas como escrever e recuperar um item caído, apesar de apresentarem um exame oftalmológico normal, disse a coautora Marianne Chapleau, do Departamento de Neurologia, Centro de Memória e Envelhecimento da Universidade da Califórnia San Francisco e do Instituto Weill de Neurociências, em comunicado.


A maioria dos pacientes com ACP tem cognição normal desde o início, mas no momento da primeira consulta diagnóstica, em média 3,8 anos após o início dos sintomas, os médicos já conseguem identificar sinais de demência leve ou moderada, com déficits na memória, função executiva, comportamento e fala e linguagem, de acordo com as descobertas dos pesquisadores.


No momento do diagnóstico, 61% demonstraram "dispraxia construtiva", uma incapacidade de copiar ou construir diagramas ou figuras básicas; 49% tinham "déficit de percepção espacial", dificuldades em identificar a localização de algo que viram; e 48% tinham "simultanagnosia", uma incapacidade de perceber visualmente mais de um objeto por vez. Além disso, 47% enfrentaram grandes desafios com cálculos matemáticos básicos e 43% com leitura.


"Precisamos de mais consciência sobre o ACP para que possa ser sinalizado pelos médicos", disse Chapleau, em comunicado. "A maioria dos pacientes consulta o oftalmologista quando começa a apresentar sintomas visuais e pode ser que ele também não saiba reconhecer a ACP. Precisamos de melhores ferramentas em ambientes clínicos para identificar esses pacientes precocemente e tratá-los".


A idade média de início dos sintomas da ACP é 59 anos, vários anos mais cedo que o surgimento dos sintomas da doença de Alzheimer típica. Esta é outra razão pela qual os pacientes com ACP têm menos probabilidade de serem diagnosticados, acrescentou Chapleau.


A identificação precoce da ACP pode ter implicações importantes para o tratamento da doença de Alzheimer, disse o coautor Renaud La Joie, também do Departamento de Neurologia, Centro de Memória e Envelhecimento da Universidade da Califórnia San Francisco. No estudo, os níveis de amiloide e tau, identificados no líquido cefalorraquidiano e nos exames de imagem, bem como nos dados da autópsia, corresponderam aos encontrados em casos típicos de Alzheimer.


Uma melhor compreensão da ACP é "crucial para o avanço do atendimento ao paciente e para a compreensão dos processos que impulsionam a doença de Alzheimer", disse o autor sênior Gil Rabinovici, diretor do Centro de Pesquisa da Doença de Alzheimer da Universidade da Califórnia San Francisco, em comunicado. "É fundamental que os médicos aprendam a reconhecer a síndrome para que os pacientes possam receber o diagnóstico, aconselhamento e cuidados corretos".


"Do ponto de vista científico, realmente precisamos entender por que o Alzheimer tem como alvo específico as áreas visuais e não a memória do cérebro. Nosso estudo descobriu que 60% dos pacientes com ACP eram mulheres — melhor compreensão de por que elas parecem ser mais suscetíveis é uma área importante de pesquisas futuras", completou Rabinovici.



Por O Globo — Rio de Janeiro

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