domingo, 26 de novembro de 2023

Intelectuais e personalidades lamentam morte de Alberto da Costa e Silva

 

                                               Foto: Leo Martins / Agencia O Globo

Membro da Academia Brasileira de Letras desde 2000, intelectual foi embaixador do Brasil na África e escreveu importantes obras sobre a história e cultura do continente

A morte do diplomata e historiador Alberto da Costa e Silva, foi lamentada por acadêmicos e outras personalidades, neste domingo (26). Aos 92 anos, o membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) morreu em casa, no Rio de Janeir, de causas naturais. O corpo do diplomata será cremado na segunda-feira, em uma cerimônia fechada à família.


Merval Pereira, presidente da ABL:

"A morte do Alberto da Costa e Silva tem efeitos múltiplos, todos negativos para a cultura brasileira, que perde um dos seus maiores intelectuais de todos os tempos. Para o estudo da África, o Alberto é um dos maiores, senão, o maior africanólogo brasileiro e tinha uma dimensão histórica, política sobre nossas relações com a África e dava a importância que ela sempre teve mas nunca foi, devidamente, enaltecida como ele fez nos seus livros. Ganhou o Prêmio Camões, que é o maior prêmio da Língua Portuguesa, exatamente por essa especificação da importância da África no desenvolvimento brasileiro. Alberto era um grande poeta, um grande intelectual, um grande diplomata e, internamente, nós da ABL perdemos uma das nossas bússolas. Alberto dava a direção correta, Alberto dava a solução correta quando tínhamos dúvida, Alberto nos orientava na direção certa. Acho que é uma perda que tem consequências graves para a ABL, para a cultura brasileira e para o Brasil como um todo".


Geraldo Alckmin, vice-presidente da República:

"Recebi com pesar a notícia do falecimento do Embaixador Alberto da Costa e Silva, um dos maiores diplomatas de sua geração e um dos mais influentes estudiosos da cultura africana. Seja pelos postos que comandou na África ou pelos brilhantes livros que escreveu e organizou, Costa e Silva aproximou como poucos as duas margens desse rio chamado Atlântico. Meus sentimentos ao Embaixador Pedro Miguel, aos seus amigos e familiares".



Lilia Schwarcz, historiadora e antropóloga:

"Alberto da Costa e Silva era uma pessoa à frente de seu tempo. Poeta, pesquisador, acadêmico, embaixador ele adotou o continente africano e seus povos como tema de paixão e de investigação, escrevendo livros fundamentais como Um Rio chamado Atlântico, A enxada e a lança, A Manilha e o Libambo e tantos outros, incontornáveis. Virou nosso maior africanista num tempo que esse era um continente abandonado pelo Ocidente — tanto na imaginação como na realidade. Adepto de uma política de ações afirmativas e de cotas, desde sempre, Alberto tinha na igualdade e na equidade a sua missão de vida. Quem entrasse na casa de Alberto ganharia um ticket da África no Brasil — com suas estatuetas, objetos e uma biblioteca de vida toda".


Cacá Diegues, cineasta e acadêmico:

"Alberto Costa e Silva foi um irrepreensível membro da Academia Brasileira de Letras. Sua morte deixa um imenso vazio no espírito da ABL, é uma ausência grave entre nossos especialistas: ninguém no Brasil possui o conhecimento da África como ele, ninguém sabia mais sobre a história e a economia daquele continente, ninguém era tão íntimo da cultura popular africana como ele. Vamos levar muitos anos, quem sabe décadas, para formar um outro especialista em África como Alberto Costa e Silva! O luto da ABL é total e irreparável. E o do Brasil também".


Ana Maria Machado, escritora e acadêmica:

"Foi um privilégio ter convivido de perto com Alberto durante anos, um dos responsáveis diretos por minha entrada para a ABL. Além do historiador e africanólogo incomparável e exemplar, a quem o mundo tanto deve e o Brasil nunca louvará suficientemente, Alberto da Costa e Silva foi bom poeta e excelente memorialista, capaz de abrir mão de vaidades individuais em seus escritos e evocar com acuidade e precisão ambientes, costumes e pessoas do passado, personalidades importantes com quem conviveu, detalhes preciosos dos bastidores do poder. Na ABL, sempre zelou pelo sentido maior da instituição, eticamente exigente, preocupado com o papel social e histórico da Academia, avesso a imediatismos e privilégios. Foi um acadêmico assíduo, participante, corajoso e dedicado à casa de Machado de Assis, a que serviu sem hesitação. Deixa nela sua marca para sempre".




O Globo

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