FOLHAPRESS
Um general russo afirmou nesta sexta-feira (22) que Moscou quer tomar todo o sul e o leste da Ucrânia, objetivos de guerra muito mais amplos do que havia reconhecido anteriormente.
Rustam Minnekaiev, vice-comandante do distrito militar central da Rússia, foi citado por agências de notícias estatais dizendo que Moscou pretende tomar toda a região do Donbass (leste), conectá-la com a península da Crimeia e capturar inteiramente o sul da Ucrânia, até a fronteira com a Moldávia.
Isso significaria avançar centenas de quilômetros além das linhas atuais, passando pelas grandes cidades de Mikolaiv e Odessa.
A Ucrânia reagiu, afirmando que esses comentários desmentem as afirmações anteriores da Rússia de que não tem ambições territoriais.
"Eles pararam de esconder", declarou o Ministério da Defesa da Ucrânia no Twitter. Segundo o texto, a Rússia "reconheceu que o objetivo da 'segunda fase' da guerra não é uma vitória sobre os míticos nazistas, mas simplesmente a ocupação do leste e do sul da Ucrânia. O imperialismo como ele é".
Kiev disse que as forças russas aumentaram os ataques no leste e estão tentando montar uma ofensiva na região de Kharkiv. A artilharia russa atingiu o principal mercado dessa cidade no norte do Donbass. Os serviços de ambulância disseram que houve vítimas, mas ainda não há detalhes disponíveis. Um salão de casamentos e um prédio residencial também foram atingidos.
Em Genebra, o escritório de direitos humanos das Nações Unidas disse que há evidências crescentes de crimes de guerra russos na Ucrânia, incluindo bombardeios indiscriminados e execuções sumárias. disse que a Ucrânia também parece ter usado armas com efeitos indiscriminados.
A Rússia nega atacar civis e diz, sem provas, que os sinais das atrocidades cometidas por seus soldados foram falsificados.
PUTIN DIZ QUE KIEV IMPEDE RENDIÇÃO DE MILITARES EM MARIUPOL
O Exército russo afirmou nesta sexta-feira que está pronto para oferecer uma trégua humanitária em "toda ou em parte" da zona industrial de Azovstal, último bastião das forças ucranianas em Mariupol, para permitir a retirada de civis e a rendição de combatentes.
O presidente Vladimir Putin reivindicou na quinta-feira a tomada desta cidade portuária crucial para a invasão, mas Kiev e os EUA contestam. Ele havia ordenado cercar a usina, onde há cerca de 2.000 soldados, segundo Moscou, mas sem dar a ordem de assalto.
"O ponto de partida desta trégua humanitária seria as tropas ucranianas levantarem uma bandeira branca em parte ou em todo o Azovstal", disse o Ministério da Defesa russo em comunicado, acrescentando que os civis que partirem poderão escolher entre serem levados para territórios sob controle russo ou ucraniano.
Nesta sexta-feira, Putin acusou as autoridades ucranianas de impedirem a rendição dos últimos soldados entrincheirados.
"A vida de todos os militares ucranianos, combatentes nacionalistas e mercenários estrangeiros é garantida se eles depuserem suas armas... Mas Kiev não autoriza essa possibilidade", disse Putin em comunicado do Kremlin, resumindo uma conversa com o presidente do Conselho Europeu, Carlos Michel.
Putin também acusou os "líderes da maioria dos países da União Europeia de apoiarem ações claramente russofóbicas", referindo-se à exclusão de cidadãos russos de eventos culturais e esportivos, e disse que considera "irresponsáveis" as declarações de autoridades europeias sobre "a necessidade de resolver a situação na Ucrânia por meios militares e ignorar os numerosos crimes de guerra ucranianos".
Em uma parte da cidade controlada pelos russos, moradores de aparência atordoada se aventuraram nas ruas em um cenário de prédios carbonizados e carros destruídos. Alguns carregavam malas.
Voluntários em trajes de proteção e máscaras brancas percorreram as ruínas, coletando corpos de dentro dos apartamentos e carregando-os em um caminhão marcado com a letra "Z", símbolo da invasão da Rússia.
A Ucrânia estima que dezenas de milhares de civis tenham morrido na cidade durante o bombardeio e o cerco da Rússia.
A Maxar, uma empresa comercial de satélites, disse que imagens espaciais mostram valas comuns recém-cavadas em Manhuch, na periferia de Mariupol.
Kiev diz que 100 mil moradores ainda estão no local e precisam ser retirados.
As Nações Unidas e a Cruz Vermelha dizem que o número de civis ainda é desconhecido, mas que estão ao menos na casa dos milhares.
Kiev disse que nenhuma nova operação de retirada de pessoas foi planejada para sexta-feira. Moscou diz que levou 140 mil moradores de Mariupol para a Rússia, mas Kiev afirma que muitos deles foram deportados à força, no que seria um crime de guerra.
CRIMES DE GUERRA
O alto comissariado da ONU para os direitos humanos afirmou nesta sexta-feira (22) que há evidências crescentes de crimes de guerra cometidos pela Rússia na Ucrânia, incluindo sinais de bombardeios indiscriminados e execuções sumárias. O comunicado da entidade diz, ainda, que a Ucrânia também parece ter usado armas com efeitos indiscriminados na região controlada por Moscou no leste do país.
"As Forças Armadas russas bombardearam indiscriminadamente áreas povoadas, matando civis e destruindo hospitais, escolas e outras infraestruturas civis, ações que podem equivaler a crimes de guerra", disse a alta comissária de direitos humanos, Michelle Bachelet.
Monitores da ONU na Ucrânia também documentaram o que parece ser o uso de armas contra baixas civis pelas Forças Armadas ucranianas no leste do país.
"A escala de execuções sumárias de civis em áreas anteriormente ocupadas por forças russas também está surgindo. A preservação das evidências e o tratamento digno dos restos mortais devem ser garantidos, bem como o alívio psicológico e outros para as vítimas e seus familiares", acrescentou Bachelet.
A Rússia, que descreve sua incursão como uma "operação militar especial" para desarmar e "desnazificar" a Ucrânia, nega ter como alvo civis ou cometer tais crimes de guerra.
A ONU disse que desde o início da guerra, em 24 de fevereiro, até 20 de abril, monitores na Ucrânia verificaram 5.264 vítimas civis -2.345 mortos e 2.919 feridos. Destes, 92,3% foram registrados em território controlado pelo governo e 7,7% nas regiões de Donetsk e Lugansk, controladas pelas Forças Armadas russas e por grupos afiliados.
PAPA DESISTE DE ENCONTRO COM PATRIARCA ORTODOXO RUSSO
O papa Francisco disse nesta sexta-feira que desistiu dos planos de se encontrar, em junho, com o patriarca ortodoxo russo Cirilo, aliado de Vladimir Putin que apoiou a guerra na Ucrânia.
Francisco, que várias vezes criticou implicitamente a Rússia e Putin desde a invasão ao país vizinho, disse ao jornal argentino La Nacion que lamenta que o plano tenha que ser "suspenso" porque diplomatas do Vaticano aconselharam que tal reunião "poderia gerar muita confusão neste momento".
Em Moscou, a agência de notícias RIA citou um alto funcionário da Igreja Ortodoxa Russa dizendo que a reunião foi adiada porque "os eventos dos últimos dois meses" teriam criado muitas dificuldades para sua preparação.
A Reuters informou em 11 de abril que o Vaticano estava considerando estender a viagem do papa ao Líbano, marcada para 12 e 13 de junho, para que ele pudesse se encontrar com Cirilo em 14 de junho em Jerusalém.
Cirilo, 75, deu sua bênção total à invasão da Ucrânia pela Rússia desde seu início, em 24 de fevereiro, uma posição que fragmentou a Igreja Ortodoxa mundial e desencadeou uma rebelião interna que teólogos e acadêmicos dizem ser sem precedentes.
Francisco, 85, usou termos como "agressão injustificada" e "invasão" em seus comentários públicos sobre a guerra e lamentou as atrocidades contra civis.
Questionado na entrevista por que ele nunca nomeou a Rússia ou Putin especificamente, Francisco foi citado como tendo dito: "Um papa nunca nomeia um chefe de Estado, muito menos um país, que é superior ao seu chefe de Estado".
Uma fonte do Vaticano familiarizada com o planejamento da ida de Francisco a Jerusalém disse nesta sexta que a preparação estava em um estágio avançado e que até o local do encontro com Cirilo havia sido escolhido.
Francisco disse no início deste mês que estava considerando uma viagem a Kiev, dizendo a repórteres em um voo para Malta, em 2 de abril, que a possibilidade estava "sobre a mesa". Ele foi convidado por líderes políticos e religiosos ucranianos.
Questionado na entrevista argentina por que ainda não foi até lá, ele respondeu: "Não posso fazer nada que comprometa objetivos maiores, que são o fim da guerra, uma trégua ou pelo menos um corredor humanitário. De que adiantaria o papa ir a Kiev se a guerra continuar no dia seguinte?"
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