Para atingir mais sustentabilidade em nível global, a legislação da União Europeia (UE) deve ser alterada para permitir o uso da edição de genes na agricultura orgânica. É o que pede uma equipe internacional de pesquisa envolvendo as Universidades de Bayreuth e Göttingen em artigo publicado na revista “Trends in Plant Science”.
Diversas aplicações derivadas de novos processos biotecnológicos são severamente restringidas ou mesmo proibidas pela legislação da UE em vigor, especialmente a edição de genes. “Expandir a agricultura orgânica ainda mais sob as atuais restrições legais à biotecnologia poderia facilmente levar a menos sustentabilidade, em vez de mais. No entanto, a edição de genes em particular oferece um grande potencial para a agricultura sustentável”, diz Kai Purnhagen, principal autor do estudo e professor de Legislação Alimentar Alemã e Europeia na Universidade de Bayreuth.
A agricultura orgânica prega maior diversidade agrícola e proíbe o uso de fertilizantes químicos e pesticidas. No entanto, em comparação com a agricultura convencional, a produtividade e os rendimentos são infinitamente mais baixos, o que leva à necessidade de maior quantidade de terra – e, portanto, desmatamento – para produzir a mesma quantidade de alimentos.
“À medida que aumenta a demanda global por alimentos de alta qualidade, mais agricultura orgânica na UE levaria a uma expansão das terras agrícolas em outras partes do mundo. Isso poderia facilmente resultar em custos ambientais que excedem quaisquer benefícios ambientais locais na UE, já que a conversão de terras naturais em terras agrícolas é um dos maiores impulsionadores das mudanças climáticas globais e da perda de biodiversidade”, diz o co-autor Matin Qaim, professor de Economia Agrícola da Universidade de Göttingen.
A combinação da agricultura orgânica com a biotecnologia moderna pode ser uma forma de resolver esse dilema. “A edição de genes oferece oportunidades únicas para tornar a produção de alimentos mais sustentável e para melhorar ainda mais a qualidade, mas também a segurança, dos alimentos. Com a ajuda dessas novas ferramentas moleculares, plantas mais robustas podem ser desenvolvidas que proporcionam altos rendimentos para nutrição de alta qualidade, mesmo com menos fertilizantes”, diz o co-autor Stephan Clemens, Professor de Fisiologia Vegetal da Universidade de Bayreuth.
Além disso, destaca o estudo, a edição de genes é usada para criar plantas resistentes a fungos que prosperam em agricultura orgânica sem pesticidas contendo cobre. O cobre é particularmente tóxico para o solo e os organismos aquáticos, mas seu uso para controlar fungos é permitido na agricultura orgânica devido à falta de alternativas não químicas até o momento. “A agricultura orgânica e a edição de genes poderiam, portanto, complementar-se muito bem e, combinadas, contribuir para uma sustentabilidade mais local e global”, conclui Qaim.
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