terça-feira, 28 de julho de 2020

Falta respirador para pacientes com outras doenças


                                           Foto: Divulgação
Na Santa Casa superlotada, foi preciso usar respiradores manuais para garantir a sobrevivência de pacientes
Nyelder Rodrigues

Unidade de tratamento intensivo (UTI) superlotada e internações improvisadas na ala vermelha, a emergência da Santa Casa de Campo Grande.

Essa é a realidade enfrentada no maior hospital de Mato Grosso do Sul, que nesse período de pandemia se tornou a referência no atendimento a pacientes não infectados pelo novo coronavírus.

Ontem, faltou respirador para quem precisou de UTI, e os enfermeiros tiveram de usar respiradores manuais.

A demanda por atendimentos na instituição está em crescimento exponencial. Apenas do dia 1º de julho até ontem, foram atendidos no local 2.822 pacientes, 115 pessoas a mais do que o registrado no mesmo período de 2019.

O volume fez com que as internações crescessem e as 80 vagas de UTI abertas para pacientes sem Covid-19 ficassem completamente ocupadas.

“Essa noite foi a mais crítica de todas, já que tivemos de deixar 11 pacientes que precisavam de um leito de UTI internados na emergência. Seis deles ainda conseguimos deixar nos ventiladores, mas outros cinco precisaram do Ambu”, revela o médico Luiz Alberto Kanamura, superintendente da Gestão Médico-Hospitalar da Santa Casa.

O Ambu é um aparelho de respiração que funciona ao ser comprimido com as mãos. O enfermeiro, o técnico de enfermagem ou mesmo o médico que ali ficar é trocado de duas em duas horas, já que a compressão do Ambu deve ser contínua.

“Esse tipo de atendimento está longe do ideal, já que o Ambu não oferece a oxigenação de fato correta e também não é possível avaliar em que nível ela está. Pode deixar sequelas no paciente, mas é o que pode ser feito”, completa Kanamura.

A situação crítica teria começado no início do mês, segundo a Santa Casa. De lá para cá, 38 pacientes precisaram do Ambu.

Para abrir vagas e atenuar o caos, o superintendente afirma que os médicos são obrigados a dar altas precoces.

SOLUÇÃO DISTANTE
Todos esses problemas enfrentados pela Santa Casa foram apresentados ontem à tarde. O auge da crise veio com a superlotação na noite de domingo (26) e madrugada de ontem.

Os 80 internados em UTI e os 11 pacientes internados de improviso representam uma ocupação total de 113%.

Questionado se existe alguma solução rápida para a situação, Kanamura foi direto e alertou, com preocupação: “A solução para essa situação é não precisar de leitos. E se ficar doente, torcer para não agravar”.

Ele ainda destaca que atualmente a Santa Casa não consegue ampliar esse total de leitos, já que a unidade não possui espaço para tal nem mesmo recursos físicos – equipamentos, entre outros – e recursos de pessoal para fazer tal atendimento.

“Isso nos faz pedir para a população: ‘Se cuide, respeite as orientações do secretário estadual de Saúde [Geraldo Resende], evite o consumo excessivo de álcool, redobre a atenção no trânsito, na cozinha’. Hoje, se alguém sofrer uma queimadura, por exemplo, terá de ficar na emergência, correndo risco de mais infecções”, apela o médico.

Luiz Alberto Kanamura ainda indica que 219 pacientes foram recebidos este mês via Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), 88 deles pacientes politraumatizados – o que inclui vítimas de acidentes de trânsito, brigas, acidentes domésticos, entre outros. A Santa Casa é referência em tal área.

PREFEITURA
Todos os pacientes que entram na Santa Casa pelo Sistema Único de Saúde (SUS) chegam lá via Regulação Central, feita pela Prefeitura de Campo Grande. Apesar da superlotação e necessidade do uso de Ambu no local, o prefeito Marcos Trad (PSD) destaca que há vagas em outras unidades da cidade, considerando a ocupação global.

“Existem vagas na UTI. Se não tem na Santa Casa, tem no El Kadri, no Hospital Regional, no HU, na Clínica Campo Grande. Nós entregamos mais 10 leitos no HU, agora são 274 contratualizados, com mais esses 10, são 53 leitos vazios”, comenta Trad, afirmando ainda que a ocupação global de UTIs está na casa dos 80%, entre hospitais privados e públicos.
Com informação do portal Correio do Estado

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