domingo, 2 de fevereiro de 2020

2,4-D: a polêmica necessária

Por:  -Eliza Maliszewski              Marcel Oliveira

Foram muitas as manchetes envolvendo o herbicida em 2019. No Rio Grande do Sul a aplicação chegou a ser proibida devido aos prejuízos causados pela deriva à culturas como uva, maçã, noz-pecã, erva-mate, tomate, hortaliças e olivas. O governo estadual verificou deriva em 92,3% das amostras coletadas em plantações. Entidades esclareceram que o problema se deu por falhas na aplicação que não respeitaram as orientações técnicas das bulas. Conheça mais sobre a origem do produto:

Para muitos o defensivo é um vilão tanto para as outras culturas quanto para a saúde. Para esclarecer e levar informação técnica sobre o uso correto e seguro dos defensivos agrícolas e apoiar projetos que abordem as questões surgiu, em 2014, a Iniciativa 2,4-D. O grupo formado pelas empresas Corteva Agriscience, Nufarm e Albaugh defende que o uso adequado das tecnologias de aplicação e a precaução para evitar a deriva são essenciais para garantir a eficácia e a segurança durante a utilização de defensivos agrícolas nos cultivos.

Desde que começou já foram treinados mais de 10 mil agricultores, técnicos e operadores de equipamentos, desmistificando temas como:

Manejo de Resistência de Plantas Daninhas e uso do 2,4-D – mostra o papel dos herbicidas e das boas práticas agrícolas no combate às plantas daninhas. Apresenta aspectos técnicos do 2,4-D, sua situação regulatória, estudos de toxicidade e ecotoxicidade e segurança no campo.

Tecnologia de aplicação – informações sobre a importância da escolha correta das pontas e dos equipamentos de pulverização e influência das condições ambientais – vento, umidade, pressão de trabalho e deriva e divulga conceitos sobre boas práticas agrícolas e tecnologia de aplicação.

Conversamos com o coordenador técnico da Iniciativa 2,4-D, Jair Maggioni, sobre a iniciativa, as precauções no uso e os impactos econômicos:

Portal Agrolink: qual o balanço da Iniciativa em 2019 e o foco do trabalho em 2020?
Jair Maggioni: em 2019, cada empresa da Inciativa realizou treinamentos individuais que atenderam as IN´s 05 e 06, isto é, workshops de 16 horas, sendo 8 horas teóricas e 8 horas práticas. Estes eventos foram ministrados nos 24 municípios considerados como críticos pela Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul, com foco nas boas práticas agrícolas e técnicas de aplicação. Para 2020, o foco será formar os agricultores nas mesmas normativas, porém abrangendo  todo o estado do RS.

Portal Agrolink: no final do ano passado falou-se muito em deriva do herbicida, especialmente no Rio Grande do Sul, onde a aplicação foi suspensa pela greve de servidores. Como receberam estas questões e como evitar este problema que acabou afetando outras culturas?
Jair Maggioni: a Iniciativa 2,4-D defende a importância da fiscalização na aplicação do defensivo agrícola. Além de promovermos ações educativas para o produtor rural, a plataforma, que é voltada para a disseminação de informações sobre o uso correto e seguro da molécula, tem se dedicado a orientar sobre os pilares que abrangem as boas práticas agrícolas na agricultura. O grupo também tem ressaltado a preocupação com todo o processo do ciclo produtivo e com o desenvolvimento sustentável do agronegócio no Brasil.

 Portal Agrolink: é preciso desmistificar mais o 2,4-D?
Jair Maggioni: sim. Mesmo não existindo evidências ambientais sobre a sua toxidade, a desmistificação do 2,4-D é necessária uma vez que existem alguns movimentos que vão contra a sua utilização. Isso acontece devido à deriva aerotransportada, que prejudica culturas sensíveis. Isso mostra a carência de uma educação efetiva do produtor rural a respeito das técnicas de aplicação do herbicida, orientada pelas Boas Práticas Agrícolas.

 Portal Agrolink: o que seria, hoje, em termos de controle de plantas daninhas na soja brasileira, sem a aplicação do produto?
Jair Maggioni: atualmente, o principal problema no manejo da soja é a resistência de plantas daninhas a herbicidas de ação total. Por isso, o 2,4-D é utilizado na cultura da soja na operação de dessecação em pré-semeadura, combinado a um herbicida de ação total, graças ao seu amplo espectro de controle e ótima relação custo-benefício se comparado a outras opções do mercado. O 2,4-D tem o menor custo de aplicação dentre todas as alternativas do mercado, com uma média de R$ 13,22/hectare. O aumento médio de custo se o produtor utilizasse outros herbicidas nessa mesma cultura acrescentaria em 350% a mais no custo do manejo de pragas, uma vez que o gasto médio com outros herbicidas é de R$ 58,82/hectare. Substituir o 2,4-D por outro herbicida geraria um aumento de despesas de R$ 1 bilhão no Brasil de modo geral.

Portal Agrolink: qual a orientação aos produtores?
Jair Maggioni: como todo defensivo agrícola, o herbicida 2,4-D deve ser utilizado seguindo as recomendações técnicas que permitem o uso seguro, ou seja, é importante ter pessoas especializadas e treinadas na aplicação, que sejam alfabetizados para poder ler e entender os rótulos dos produtos, e principalmente um técnico para acompanhar as aplicações.

É importante fazer o uso do herbicida nas doses corretas, identificar quais espécies são alvo, melhor estádio para controle das espécies daninhas presentes e horário da aplicação. O uso correto evita que ocorram falhas na aplicação, que provocam controle insatisfatório e toxicidade à cultura alvo, ou ainda o risco de deriva para culturas adjacentes, o que encarece o processo do manejo das plantas daninhas.

Um adicional importante a destacar no uso do herbicida 2,4-D, é a tecnologia de aplicação, pois a regulagem inadequada do equipamento pode provocar falha no controle e risco de toxicidade para as culturas vizinhas pelo efeito da deriva, além de gastos desnecessários ocorrido pela perda de produto.
Desta forma, esta equipe ou o aplicador deve ser treinado para definir a ponta de pulverização adequada, determinar a dose recomendada e usar os EPI’s apropriados: viseira ou óculos, respiradores (máscaras), macacão e avental, botas e luvas.

Bem como, respeitar as condições meteorológicas recomendadas para a aplicação (velocidade média do vento entre 3 e 10 km/h, umidade relativa superior a 50% e temperatura inferior a 30ºC). A aplicação do 2,4-D também não deve ser realizada quando não houver vento, situação indicativa de risco de inversão térmica e correntes convectivas.

Portal Agrolink: como a iniciativa vem se configurando em aumento de produtividade para o produtor rural?
Jair Maggioni: a Iniciativa, com ações educacionais pautadas pelas Boas Práticas Agrícolas, colabora com a disseminação de informações que auxiliam o produtor rural quanto ao uso correto e seguro do herbicida, permitindo assim que o rendimento das lavouras seja positivo e não prejudique nenhuma cultura sensível. Estas ações também reforçam a importância dos cuidados na realização de um manejo sustentável colaborando assim para o aumento da produtividade e rentabilidade na lavoura.

O 2,4-D tem grande importância para a agricultura brasileira em função de sua boa relação custo-benefício, eficácia no controle de plantas daninhas, incluindo as resistentes a outros herbicidas, e a viabilização do plantio direto, a mais importante prática de agricultura sustentável em grandes áreas de cultivo.

Sem o 2,4-D, produtores agrícolas poderiam enfrentar perdas financeiras, visto que a produtividade das lavouras poderia ser reduzida pela competição com as plantas daninhas (principalmente as resistentes ao glifosato), resultando no aumento dos preços dos alimentos para os consumidores finais.

Portal Agrolink: como as boas práticas agrícolas podem fazer a diferença na lavoura?
Jair Maggioni: as Boas Práticas Agrícolas são essenciais a sustentabilidade do agronegócio uma vez que, quando praticadas corretamente, contribuem para a produtividade da lavoura, além da preservação do meio ambiente e da saúde humana. Alguns exemplos são: uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI) durante a aplicação de defensivos agrícolas, regulagem e uso de pontas corretas nos pulverizadores, realizar aplicações nas condições climáticas ideais, adotar rotação de culturas e utilizar herbicidas com diferentes mecanismos de ação para evitar a resistência.

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