quinta-feira, 2 de março de 2017

ESTREIA–Hugh Jackman se despede de mutante de maneira tocante com “Logan”





 “Logan”, o novo filme com o DNA da franquia X-Men, é mais do que apenas uma ficção científica/filme de ação. É um neowestern, uma meditação sobre o envelhecimento e a fragilidade – o que o transforma em algo ainda maior ao ter como figura central um herói relutante no personagem-título, interpretado derradeiramente por Hugh Jackman.

Até agora já foram lançados dez longas envolvendo a franquia X-Men, três deles são protagonizados por Wolverine, com resultados artísticos, no mínimo, questionáveis. Mas no encerramento da trilogia liderada por Jackman, tudo se encontra: o ator, a trama e o diretor, James Mangold. Em sua passagem por São Paulo, para divulgar o longa, o ator admitiu que entrou no projeto também como produtor para ter maior controle sobre o resultado final, inclusive o destino do personagem, e isso pareceu uma decisão bastante acertada.

O canto do cisne de Logan começa nos arredores de El Paso, Texas, em 2029. O personagem já não é mais o mesmo. Motorista de um serviço de limusines, está barbudo, desgrenhado, e suas garras não saltam com tanta rapidez como antes. Embora tiros continuam não o matando, ele já não cicatriza ou se recupera com tanta facilidade.

O nonagenário professor Xavier (Patrick Stewart) não tem uma sorte muito diferente. Fragilizado e dado a ataques epiléticos que causam transtornos e estragos ao seu redor, mora num galpão, próximo à fronteira com o México, onde é cuidado por Caliban (Stephen Merchant), um mutante albino.

A ação de Logan é desencadeada quando o protagonista é procurado por uma enfermeira mexicana (Elizabeth Rodriguez), que cuida de uma garotinha com estranhos poderes, Laura (a excelente estreante Dafne Keen), que serão revelados apenas mais tarde.

Logan é um dos poucos mutantes que ainda estão vivos, e é objeto de fascínio e perseguição, por isso esse mantém sua identidade tão camuflada. Mas a chegada de Laura pode representar toda uma nova geração de mutantes – e de filmes – para o futuro. Não à toa, ela é perseguida e cabe ao protagonista protegê-la.

Nesse momento, “Logan” se transforma num road movie com tintas de faroeste distópico, seguindo as temáticas tradicionais do gênero, especialmente honra e dignidade, o que transforma o filme numa obra de maturidade – tanto do personagem como da série. Não há o desespero por efeitos extravagantes, nem excessos de perseguições e explosões. Nesse sentido, o resultado final é um estudo de um personagem interessante especialmente por conta de seu tormento e relutância em aceitar sua identidade.

Desde o primeiro filme da série, em 2000, “X-Men” nunca escondeu seu subtexto político, investigando a opressão das minorias, materializadas nos mutantes em um mundo que idolatra a perfeição. Aqui, mesmo o filme tendo sido escrito e produzido antes da eleição de Donald Trump, os mexicanos também são uma figura central nessa dinâmica de exploração. Ironicamente, também são as peças-chave como a esperança da humanidade.

Sem esquivar-se de sua própria mítica, o longa investe numa espécie de metalinguagem, uma vez que a maioria das personagens só descobriram a existência de Logan por meio dos quadrinhos dos X-Men, o que costuma irritá-lo, pois, para ele, os gibis são fantasiosos demais.

Se existe uma certa dose de fantasia em “Logan”, ela está serviço, no entanto, de explicitar o que há de mais humano em nós. Dessa forma, as cenas de correria e ação são bastante boas, mas é quando investe no conteúdo humano que o filme mais cresce.

A relação entre Logan e Xavier é tocante. Chega a ser triste ver a figura paterna tão fleumática do professor fragilizada, definhando, mas sem perder o humor, numa grande interpretação de Patrick Stewart. O outro laço humano que ganha força é entre o protagonista e a pequena Laura, de 11 anos. Novamente, uma figura paterna entra em cena.

Ao longo de mais de 15 anos, Jackman aperfeiçoou-se na interpretação do mutante. Ocorreram altos e baixos, mas é aqui que ele encontra o topo do personagem, de sua atuação, de sua compreensão do que há de mais profundamente humano em alguém com poderes super-humanos. Por isso, seu belo final não apenas honra essa trajetória, como também comove.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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