quinta-feira, 29 de setembro de 2016

ESTREIA–“O Lar das Crianças Peculiares” parece reciclagem de “X-Men” e “Harry Potter”


Talvez o diretor Tim Burton quisesse, em sua carreira, ter feito um filme da série “X-Men”. Ele também pode ter pensado em fazer um “Harry Potter”. Nenhum projeto aconteceu, mas o cineasta encontrou uma maneira de juntar os dois em seu “O Lar das Crianças Peculiares”, adaptação do romance homônimo de Ransom Riggs.

O cineasta sempre teve um olhar carinhoso para outsiders, especialmente quando sua condição de excluídos se manifesta fisicamente, mas aqui, um punhado deles não dá conta do roteiro confuso e da direção pouco inspirada.

O romance, que conta a história de um orfanato onde se abrigam crianças com dons especiais, poderia ser o material perfeito para Burton e seus voos de imaginação, com direção de arte e fotografia que costumam ser caprichadas.

Aqui, porém, nada funciona muito bem, com seus personagens mal-resolvidos e trama vacilante. Jake (Asa Butterfield, de “A Invenção de Hugo Cabret”) é um garoto solitário cujo único amigo é seu avô, Abe (Terence Stamp). Com a morte deste, o protagonista viaja com seu pai (Chris O’Dowd), para um pequeno vilarejo na costa do País de Gales.

Por conta de uma série de peculiaridades, ele, finalmente, encontra a casa da Sra. Peregrine (Eva Green), onde estão as crianças do título do filme. Cada um tem seu dom – que, explica ela, é genético, localizado num gene recessivo que pode pular gerações até se manifestar – como voar, ser invisível, soltar abelhas pela boca ou ter uma força descomunal. Mas Jake, aparentemente, não tem nenhum dom.

Só essa premissa já seria um bom pretexto para Burton – trabalhando com um roteiro assinado por Jane Goldman (roteirista de “Kickass” e dois filmes da série “X-Men) – deixar livre sua imaginação e sua queda por bizarrices.

Mas, curiosamente, pouco funciona aqui. A partir do momento que o filme constrói o seu mundo – quando Jake descobre o lar, preso numa fenda no tempo em um dia em 1943, antes de ser bombardeado por nazistas – o longa se torna um tanto enfadonho.

Atropela-se a narrativa, também, ao trazer também uma trama envolvendo o personagem vilão de Samuel L. Jackson, que surge do nada, mas cuja história ajuda o filme a atingir a marca de 129 minutos.

Dos X-Men vêm os dons de cada personagem – que serão fundamentais na hora de lutar contra o vilão e salvar todo o mundo – e do Harry Potter o lado lúdico, um quê de literatura infanto-juvenil e vilania ligada à mágica.

O resultado parece, realmente, a junção de dois filmes não muito bem resolvidos, e sem muita graça.

Burton, que há muito não realiza um grande filme, terá chance de se reconciliar com seu passado em breve, com a anunciada sequência de “Os Fantasmas se Divertem”. Ou não.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

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