segunda-feira, 22 de março de 2010

Morte de neto Wagner encerra a era do festival Bayreuth

AFP

Os descendentes de Richard Wagner e o Festival de Bayreuth, dedicado à música do compositor, iniciaram nesta segunda-feira uma nova etapa, após a morte do patriarca Wolfgang Wagner.

Wolfgang, nascido em 30 de agosto de 1919 e também bisneto de Franz Liszt, faleceu no domingo aos 90 anos em Bayreuth.

"Ele dedicou toda sua vida ao patrimônio do célebre avô", afirma um comunicado publicado no site do festival, que lembra o envolvimento de Wolfgang no evento mesmo em idade avançada.

Em 1951, em dupla com o irmão Wieland, deu impulso ao festival, em um esforço para fazer esquecer o envolvimento da família com o nazismo e com o "tio Wolf", como chamavam Adolf Hitler, a quem sua mãe, Winifred, apoiou até a morte em 1980.

Mas a morte de Wieland em 1966, aos 49 anos, o deixou sozinho no comando, um poder do qual, segundo alguns críticos, abusou ao estabelecer um contrato de diretor vitalício.

Autoritário, inflexível às críticas e sem inclinação à autocrítica, Wolfgang Wagner foi o capitão do festival, mas nunca obteve como compositor a reputação de que gozava do irmão mais velho.

O fim de seu reinado foi marcado por disputas familiares, que passaram a chamar tanta atenção quanto os aspectos artísticos do festival.

No fim dos anos 1960, Wolfgang Wagner transformou a filha Eva em assessora.

E ela foi a que trabalhou nas sombras para conseguir o que se considera o maior êxito artístico de Bayreuth em 35 anos, a "Tetralogia" dirigida e encenada em 1976 pelos franceses Pierre Boulez e Patrice Chéreau.

Mas ele acabou excluindo a filha em benefício da segunda esposa, Gudrun, a única, segundo ele, capaz de sucedê-lo.

Ele a defendeu com unhas e dentes. Em 2001 se opôs à designação de Eva como a próxima diretora do festival pela Fundação Richard-Wagner, composta por representantes do governo federal, do estado regional da Baviera, da prefeitura e da Associação dos Amigos de Bayreuth, e seguiu no comando como se nada tivesse acontecido.

Com paciência, Eva Wagner-Pasquier aproveitou para fazer carreira como assessora artística e diretora de casting em algumas das melhores óperas do mundo, como as de Londres, Paris, Madri e Nova York.

Em 2008 conseguiu por fim respaldo do patriarca para formar uma dupla com a meia-irmã Katharina.

Esta solução apresentou uma vantagem dupla: permitiu manter nas mãos da família o festival criado pelo próprio compositor em 1876 e possibilitou um renascimento como o experimentado em 1951.

"Sem os Wagner e seus escândalos, o festival seria menos divertido", afirmou em 2002 a historiadora austríaca Brigitte Hamann, autora de um livro sobre as relações entre a família do compositor e o regime de Hitler.

Mas as duas herdeiras, liberadas da sombra opressiva do autocrata Wolfgang, poderão se concentrar no aspecto artístico e preparar a centésima edição do festival, em 2011, e sobretudo as festividades para os 200 anos de nascimento do compositor em 2013.

Nenhum comentário:

Postar um comentário