terça-feira, 28 de abril de 2009

Ex-Deep Purple, Jon Lord não tocará 'Smoke on the Water' em SP

Leandro Souto Maior


As notas distorcidas do teclado que eternizou o som do pioneiro grupo de hard rock Deep Purple serão as primeiras ouvidas na quinta edição do evento Virada Cultural, num grande palco montado na Avenida São João, na capital paulista, no próximo sábado. O lendário Jon Lord dá a partida a 24 horas ininterruptas de música, numa festa que prossegue com cerca de 800 atrações a ocupar o Centro de São Paulo em 150 lugares diferentes. Mas que não se espere o marcante riff de Smoke on the Water ou o indefectível solo de Highway Star, clássicos da banda que Lord fundou e integrou até 2002.


"Estou celebrando os 40 anos do Concerto para grupo e orquestra, que compus no Deep Purple", conta o tecladista. "Na segunda parte do show, abro exceções para músicas de meus álbuns solo e dois clássicos do Purple, Pictures of Home e Child in Time.

A seminal obra "erudita" de três movimentos concebida por Jon Lord e considerada vanguardista na junção do rock com a música clássica é apenas um dos feitos históricos na biografia deste músico inglês de 67 anos. Bem antes de ostentar os atuais assustadores cabelos e cavanhaque brancos e de ganhar a vida martelando as teclas de seu inconfundível órgão Hammond, sua performance no palco mirava outra forma de manifestação artística.

"Era para eu ter me tornado um ator", lembra. "Estudei artes cênicas na faculdade por três anos e montei algumas peças, ao mesmo tempo em que tocava em pequenos bares para levantar uma grana extra. Aos poucos, começaram a pintar mais trabalhos como músico que como ator e larguei a carreira".

Mesmo tendo em princípio encarado a música de forma informal, já estudava piano clássico ao mesmo tempo que devorava discos dos mestres do blues e do rock. A mistura acabou por lhe conferir a pegada característica de seu estilo. Algo entre Bach e Jerry Lee Lewis.

"Quando comecei, sofri um bocado de preconceito vindo de músicos eruditos pela minha inclinação roqueira", relata Lord. "Só de uns três anos para cá sinto que isso vem mudando. As orquestras modernas estão repletas de jovens, que ouvem de tudo, não importa se a música é mais pesada ou mais leve. É uma nova geração que entende que tudo é música".

Depois de conseguir alguns trabalhos como músico de estúdio (é de Jon Lord o teclado em You Really Got Me, clássico do grupo Kinks de 1964) e integrar algumas emergentes bandas londrinas de blues e rock, começou a buscar seu som próprio, mais pesado - tendência bastante em voga no fim da década de 60.

"Descobri minha cara metade nos solos da guitarra de Ritchie Blackmore. Estávamos de igual para igual, e esses diálogos se tornaram a marca do Deep Purple", define o som do quinteto que cofundou em 1968.

De 1978 a 1983, período em que o grupo ficou fora de ação, Lord integrou o Whitesnake, mas em uma banda com dois guitarristas seu teclado não brilhou com a mesma intensidade. Entre idas e vindas, o Deep Purple atravessou os anos e chegou ao século 21 contando apenas com Jon Lord e o baterista Ian Paice da formação original. Não demorou para que, em 2002, até mesmo o dono da carteirinha número 001 pedisse as contas.

"Resolvi tirar férias por tempo indeterminado. Agora estou muito entusiasmado voltando a fazer concerto", empolga-se o tecladista, que no último dia 15 matou as saudades em Tóquio, numa canja com o Deep Purple, que segue com o veterano Don Airey em seu lugar. "Não cogito voltar ao grupo, mas adoro tocar com esses caras, só que nossa agenda era insana, com cerca de 100 concertos por ano. Solo, posso me dar ao luxo de trabalhar menos. Hoje cumpro uma média de 20 shows anuais.

Uma dessas apresentações, o da Virada Cultural, vai contar com a participação da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo.

"Excursiono com uma banda de cinco integrantes e uso orquestras locais, que ensaiam sozinhas através das partituras que envio e comigo dois dias antes da performance.

Jon Lord se diz preparado para eventuais gritos da platéia clamando pelos solos que os purplemaníacos conhecem nota por nota, em vez do repertório clássico que preparou - constrangimento vivenciado pela vocalista Chrissie Hynde quando atacou de bossa nova em vez dos sucessos de seu Pretenders no Morro da Urca, em 2004.

"Acredito que as pessoas entendam que eu amo este tipo de música", aposta Lord. "Não estou mais na banda e quero fazer algo diferente. Quero encontrar pessoas que amem música, seja ela Beethoven ou Deep Purple. E podem acreditar: vamos fazer um grande barulho em São Paulo.

Mesmo descartando um retorno oficial ao núcleo do Deep Purple, o célebre músico, em breve um jovem senhor setentão, não acredita que vá largar o vício da estrada tão cedo.

"É muito bom estar aqui, vivo e com saúde. Me sinto abençoado por ter participado de uma grande banda de sucesso, que eu amo, e de ainda ter pessoas gostando da minha música e que querem me ver tocar. Enquanto as coisas estiverem assim, não pretendo parar".

JB Online

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