quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Hamas aprova cessar-fogo entre Israel e Hezbollah e se diz pronto para acordo em Gaza

 



Após Israel aprovar, na terça-feira, um acordo de cessar-fogo com o grupo xiita libanês Hezbollah, o porta-voz do grupo terrorista Hamas, Sami Abu Zuhri, declarou que a organização palestina “valoriza” o direito do Líbano de alcançar uma medida que proteja seu povo. À agência Reuters, ele também expressou esperança de que o mesmo ocorra na Faixa de Gaza, onde a guerra contra o Estado judeu já provocou uma crise humanitária em larga escala, gerando alertas de organizações internacionais sobre a fome iminente e sequelas que, segundo especialistas, podem durar por toda a vida.


— Esperamos que esse acordo abra caminho para alcançar um entendimento que termine com a guerra de genocídio contra nosso povo em Gaza — disse ele, que responsabilizou o premier israelense pelo fracasso em alcançar um acordo no enclave palestino. — O Hamas mostrou alta flexibilidade para alcançar um acordo e ainda está comprometido com essa posição, interessado em encontrar uma medida que encerre a guerra em Gaza. O problema sempre esteve com Netanyahu, que constantemente fugiu de alcançar um acordo.


Após dois meses de uma intensa guerra aberta entre Israel e o Hezbollah no Líbano, Netanyahu apresentou na terça-feira um acordo de cessar-fogo de 60 dias no Líbano a seu Gabinete, que aprovou por 10 votos a um. Em declaração conjunta, os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da França, Emmanuel Macron, responsáveis por mediar a trégua, anunciaram que ambos os países garantirão seu “cumprimento total”. Segundo Biden, a medida entraria em vigor a partir das 4h desta quarta-feira no horário local (23h de terça em Brasília).


Em comunicado emitido nesta quarta-feira, o Hamas afirmou que um acordo em Gaza deve encerrar a guerra, retirar as forças israelenses do território palestino e permitir o retorno dos deslocados às suas casas, além de incluir uma troca de prisioneiros por reféns. Netanyahu, por sua vez, declarou que a guerra só pode terminar com a erradicação do Hamas. Enquanto isso, o Catar, que atuou durante meses como mediador entre as partes, informou que suspenderia seus esforços até que ambos estejam preparados para fazer concessões.


Propostas rejeitadas

Ainda na última sexta-feira, um alto funcionário do Hamas declarou que o grupo estava “pronto para um cessar-fogo” em Gaza, pedindo para que o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, pressione Israel a “encerrar a agressão”. Bassem Naim, membro do gabinete político do Hamas, disse que a organização palestina aceitará um acordo caso uma proposta seja apresentada e sob a condição de que a mesma seja respeitada. Apesar disso, os esforços internacionais para interromper a guerra de 13 meses na Faixa de Gaza permanecem paralisados.


— O Hamas informou aos mediadores que é favorável a qualquer proposta apresentada que leve a um cessar-fogo definitivo e à retirada militar da Faixa de Gaza, permitindo o retorno dos deslocados, um acordo sério para troca de prisioneiros, e a entrada de ajuda humanitária e a reconstrução [do enclave] — afirmou Naim.


A mais recente rodada de negociações sobre o assunto, em meados de outubro, não resultou em um acordo, com o Hamas rejeitando a proposta de cessar-fogo de curto prazo, segundo a Reuters. Israel, por sua vez, já reiterou anteriormente algumas propostas de tréguas mais longas, embora recentemente também tenha endurecido as exigências, incluindo o controle do Corredor da Filadélfia (zona fronteiriça de Gaza com o Egito) como uma questão de “importância existencial”. Mesmo alguns políticos israelenses indicaram que a proposta do premier Benjamin Netanyahu foi usada para evitar a realização do acordo.


Enquanto isso, no enclave palestino, os combates continuam em Jabaliya, no norte, onde as forças israelenses dizem enfrentar integrantes do Hamas — e local em que grupos de direitos humanos e autoridades apontam como palco de uma “limpeza étnica”. O Estado judeu diz que o cerco imposto a Jabaliya é necessário para operações contra militantes que se reagrupam na área, mas muitos palestinos temem que a ofensiva tenha como objetivo deslocar permanentemente dezenas (ou mesmo centenas) de milhares de civis de suas casas.


— Eles incendiaram escolas e outros abrigos onde as pessoas buscaram refúgio antes das ordens para que as famílias se dirigissem para o sul, em direção à Cidade de Gaza. Como chamar isso, senão de limpeza étnica? Famílias que, no início, resistiam a sair, foram forçadas a isso depois que ficaram sem água e comida. Grandes áreas ficaram vazias, sob controle da ocupação. Essas áreas se tornaram inacessíveis — disse Said Abdel-Hadi, residente de Beit Lahia, no norte, agora deslocado para o sul.


Na última quinta-feira, a organização internacional Human Rights Watch (HRW) acusou Israel de cometer crimes contra a Humanidade em Gaza, apontando que mais de 90% da população do enclave foi forçada a abandonar suas casas, sendo muitas delas mais de uma vez, em razão da guerra. Em relatório, a HRW destacou que mesmo áreas sinalizadas como seguras para civis foram atacadas pelas forças israelenses, e o retorno dos moradores para suas casas tem sido inviabilizado pela destruição em massa de infraestruturas civis.


As acusações se somam à avaliação do escritório de direitos humanos das Nações Unidas, também divulgada na última quinta-feira, de que os métodos empregados por Israel em Gaza têm “as características de um genocídio”. O órgão destacou as “massivas perdas civis e as condições impostas aos palestinos, que colocam suas vidas em perigo de forma intencional” — e, em relatório, acusou o Estado judeu de usar “a fome como método de guerra” e infligir “um castigo coletivo à população”. (Com AFP)

Por O Globo e agências internacionais — Cidade de Gaza

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