segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Especial: Subida dos juros esfria captações de fundos imobiliários

 




Por Circe Bonatelli 


 A mudança na direção dos juros no Brasil e a retomada do ciclo de alta das taxas provocaram uma virada nos mercados de renda variável, na qual se enquadra a indústria de fundos de investimentos imobiliários. As captações de recursos por esses veículos estão crescendo neste ano, mas esfriaram nos últimos meses, impedindo um avanço ainda maior.


Na reta final de 2024 e no começo de 2025, a tendência é de um cenário mais fraco, de acordo com os líderes das principais gestoras de recursos do País entrevistados pelo Broadcast. A expectativa não é de uma seca generalizada - como se vê nas emissões de ações por empresas listadas na bolsa - mas de uma desidratação expressiva, com investidores mais seletivos em seus aportes.


"O ano foi muito volátil. De janeiro a abril, os fundos imobiliários se destacaram nas captações. Desde então o mercado ficou mais difícil, e agora estamos em uma encruzilhada", afirmou o fundador e sócio da Hedge Investments, André Freitas. Os fundos iniciaram o ano com captações mensais na ordem de R$ 3 bilhões a R$ 5 bilhões, caindo para um patamar atual mais próximo de R$ 1 bilhão, citou.


A bonança durou enquanto a Selic estava em queda. A virada nas expectativas aconteceu em abril, quando o Banco Central mudou o discurso e passou a considerar uma inversão no ciclo, o que se confirmou em outubro, com a elevação da taxa básica.


"O que mudou foi a realidade e a perspectiva para a taxa de juros", apontou Freitas. "O ano se desenhava para bater recorde de captação, com folga, mas isso mudou. A situação ficará assim, mais fraca, enquanto continuar essa incerteza sobre a taxa de juros".


Levantamento da Hedge mostra que os fundos imobiliários captaram R$ 31,9 bilhões de janeiro a outubro de 2024, superando o realizado no ano inteiro de 2023, quando chegaram a R$ 30,4 bilhões.


Pela frente há um cronograma de ofertas que totaliza R$ 24,0 bilhões (contando as ofertas a serem iniciadas e aquelas já em andamento) cuja concretização agora é uma dúvida. "Se os juros recuarem, voltaremos a ver interesse dos investidores. Se ficar como está, enfrentaremos um cenário de dúvidas", disse Freitas.


O sócio e responsável pela gestão dos fundos imobiliários da XP, Pedro Carraz, concorda que a virada nas expectativas para os juros altos espantou os investidores do setor. "Desde abril, começamos a sentir mais dificuldades de captação. O mercado ficou mais seletivo para as emissões de cotas", disse.


Na visão de Carraz, há uma tendência de que as captações se restrinjam aos fundos de grande porte, já consolidados, com patrimônio líquido acima de R$ 3 bilhões. "Aí são teses comprovadas, com maior liquidez", apontou.


Por ECONOMIA JB com Agência Estado


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