O guitarrista Lanny Gordin em cena do documentário 'Inaudito' (2017) — Foto: Divulgação
Internado em São Paulo, músico que tocou em discos de Gal, Caetano e Gil se foi na madrugada desta terça-feira (28), data do seu aniversário de 72 anos
Considerado um dos maiores guitarristas do Brasil, Alexander Gordin morreu na madrugada desta terça-feira (28), após cerca de 30 dias de internação. A causa da morte não foi divulgada. Presença fundamental em LPs de Caetano Veloso, Gal Costa e Gilberto Gil do fim dos anos 1960 e começo dos 1970, Lanny cultivava um estilo explosivo e estridente, próximo ao do americano Jimi Hendrix, que foi adotado pelos artistas tropicalistas. O músico faleceu no dia em que completava 72 anos. Ainda não foram divulgadas informações sobre enterro e velório.
Lanny nasceu em Xangai, na China, em 1951, filho de um russo e uma polonesa, viveu em Israel até o 6s anos, quando veio com a família para o Brasil. Seu pai era um dos donos da casa noturna paulistana Stardust, na Praça Roosevelt, onde Lanny se apresentava, com meros 16 anos de idade, ao lado de músicos como Pepeu Gomes (na época, também menor de idade), Hermeto Pascoal, Paulinho da Costa e Heraldo do Monte. Seu estilo já chamava a atenção pela audácia, ecletismo e volume sonoro.
Com Hermeto e o guitarrista alemão Olmir Stocker, Gordin participou do grupo Brazilian Octopus, que lançou em 1969 um LP que então poucos ouviram, mas se tornaria cultuado ao longo dos anos. As primeiras gravações do guitarrista, no entanto, foram com artistas da Jovem Guarda, como Eduardo Araújo (em “Nem sim, nem não”, de 1968)
Logo, Lanny Gordin e sua guitarra foram descobertos pelos artistas da Tropicália. Nessa época, gravou os discos “Gal Costa” (1969), “Gal” (1969), “LeGal” (1970) e “Fatal - A todo vapor” (1971) (de Gal); “Caetano Veloso” (também conhecido como Álbum Branco, de 1969), de Caetano Veloso; “Gilberto Gil” (1969) e “Expresso 2222” (1972), de Gil.
Gordin é peça-chave de “Jards Macalé”, LP de 1972 do cantor e compositor carioca, revezando-se no baixo e na guitarra. Ele tocou também em “Build up”(primeiro disco solo de Rita Lee, de 1970), “Carlos, Erasmo” (1971, de Erasmo Carlos), na música “Chocolate”, de Tim Maia, e em “Kabaluêre”, de Antonio Carlos & Jocafi. E também acompanhou artista como Elis Regina, Tom Zé e Jair Rodrigues.
Problemas mentais e afastamento
O uso, em algumas ocasiões, de LSD (que descobriu em Londres, no começo dos anos 1970) acabou agravando um quadro de esquizofrenia que levou Lanny Gordin a ser internado pelo pai em sanatórios. Nestas internações, chegou a ser submetido a eletrochoques. Afastado do meio musical, ele seguiu pelas décadas de 1980 e 1990 realizando trabalhos esparsos como Aguilar e a Banda Performática, Itamar Assumpção e Chico César.
Mesmo nos tempos em que ficou afastado dos grandes palcos, Lanny continuou a estudar guitarra obsessivamente, tocando diariamente de seis a oito horas. A volta à cena se daria em 2001, por meio de Luiz Calando, produtor e o dono da loja de discos Baratos Afins (lendário endereço no centro de São Paulo). Calanca editou o CD autoral “Lanny Gordin, de 2001, com 11 faixas extraídas de 23 fitas gravadas durante suas aulas com o guitarrista.
Calanca produziria ainda um álbum duplo do Projeto Alfa, que Gordin montou e 2002 com o guitarrista Guilherme Held, o baixista Fábio Sá e o percussionista Zé Aurélio. Em 2007, foi lançado pela Universal Music o álbum “Lanny Duos”, produzido por Glauber Amaral e Péricles Cavalcanti, com participações de Caetano, Gil, Gal, Arnaldo Antunes, Adriana Calcanhotto, Rodrigo Amarante, Chico César, entre outros astros.
Lanny Gordin ainda gravaria os discos "Auto-hipnose" (2010) e "Lanny's Quartet & All Stars" (2014), com participações dos guitarristas Luiz Carlini, Frejat, Pepeu Gomes, Sergio Dias e Edgard Scandurra. Na época do lançamento do segundo disco, ele disse em entrevista ao GLOBO:
— Foi maravilhoso tocar com essa turma e encontrar todo mundo depois para tirar a foto de divulgação. Foram momentos mágicos, fenomenais. Fiquei muito feliz.
Em 2016, ele passou a enfrentar os sintomas mais graves da síndrome de Guillain-Barré, uma doença autoimune, e não saiu mais da cama.
E em 2017, viu sua trajetória ser retratada no documentário "Inaudito", de Gregorio Gananian. No filme, o guitarrista diz que “estudou todos os estilos diferentes e transformou num estilo só, que é a música pura, é o som”. Em crítica publicada no GLOBO, Simone Zuccolotto descreveu o longa como uma "experiência sensorial, (que) atinge a alma do espectador, que precisa estar disponível para saber menos da história do compositor, diagnosticado com uma doença mental, e mais sobre improvisações e sensações.
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