segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Trabalhador migra para o interior e Capital tem "apagão" de mão de obra

 

                                           GERSON OLIVEIRA 


As cidades do interior de Mato Grosso do Sul vivem uma verdadeira transformação com a construção de megaempreendimentos. Como consequência, Campo Grande, que conta com diversas obras públicas e privadas em andamento, sofre com a ausência de trabalhadores no mercado, sendo as atividades que exigem qualificação profissional as mais impactadas.


Com inúmeras oportunidades em aberto, diariamente canais trazem ofertas de vagas no segmento, as quais levam meses para serem preenchidas. “As empresas do segmento de construção estão mandando os trabalhadores para as cidades que necessitam de um grande volume”, aponta o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Campo Grande (Sintracom), José Abelha Neto, em entrevista ao Correio do Estado.


Neto avalia a situação de escassez no Estado como crítica, reforçando o impacto que o boom da construção traz para os projetos menores. O representante do Sintracom frisa que as grandes obras chegam acompanhadas da reformulação estrutural de municípios, o que aumenta a demanda de trabalhadores que se dividem entre obras públicas e privadas.


“Sabemos da existência de grandes projetos, por exemplo, a Suzano, em Ribas do Rio Pardo, que demanda hoje uma média de 12 mil trabalhadores e que nessa fase de montagem conta com sua grande maioria vinda de fora, pois não existe pessoal qualificado aqui”, avalia o representante dos trabalhadores da construção.

Ele ainda destaca que a insuficiência de profissionais atinge principalmente a mão de obra com exigências de qualificação, cujos trabalhadores não têm condições de pagar pela especialização. Nesse sentido, Neto pontua que é necessário um olhar mais atento por parte do poder público.



“Acredito que falta investimento para a qualificação desse setor em Mato Grosso do Sul, é o que o mercado pede e também é hoje nosso maior problema, uma maior qualidade”, afirma.


OBRAS

Para o presidente do Sindicato da Habitação de Mato Grosso do Sul (Secovi-MS), Geraldo Paiva, a ausência de mão de obra também se agrava na Capital pelas obras nas cidades próximas e pelas construções de alto padrão em cidades do agronegócio. 


“A mão de obra de Campo Grande costuma ser mais qualificada e, como essas cidades [do interior] estão a todo vapor, acabam levando temporariamente a mão de obra da Capital”, salienta.


O titular da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, disse em entrevista ao Correio do Estado que o mercado da construção civil em Mato Grosso do Sul está extremamente ativo não só por causa das indústrias, mas pelo mercado residencial também, com a retomada do programa Minha Casa, Minha Vida.


“Vem aquela velha questão desse setor, o problema não é oferta, e sim o profissional estar disposto, pois o que acontece é que a pessoa que é servente não quer continuar nessa posição, ela quer melhorar. E outro grande problema é que não estamos conseguindo inserir o jovem nessa profissão”, analisa.

Verruk ainda afirma que o Estado continuará criando vagas para a área e, por consequência, gerará o encarecimento da mão de obra, exigindo uma melhor realização, em virtude da inexistência dessa mão de obra.


No âmbito da qualificação, o secretário destaca que governo seguirá com as ações. “A gente vai continuar oferecendo esses cursos no ramo da construção, como eletricista, azulejista, entre outros”, finaliza.


EMPREGO

Em Mato Grosso do Sul, a construção civil vem registrando desde o início do ano uma retomada na geração de postos de trabalho formais. Puxado pelos grandes empreendimentos em execução no Estado, o número de carteiras assinadas em Ribas do Rio Pardo (484) comprova a força do segmento no Estado.


De acordo com os últimos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego e referentes ao mês de agosto, a construção civil foi responsável pela criação de 315 vagas formais.


O resultado foi obtido a partir de 3.623 admitidos e 3.308 desligados no período, gerando contribuição de 0,94% no total de empregos criados no mês.


De janeiro a agosto, a construção foi o setor que acumulou saldo positivo em todos os meses do ano, com exceção de junho, quando registrou saldo negativo de 226 postos de trabalho. Após retomada no mês seguinte, com 107 novas contratações, em agosto, a construção decolou na contratação formal em MS, com 315 admissões.


Ainda conforme dados do Caged, o saldo de 2023 para o segmento é de 5.425 empregos com carteira assinada, advindos de 29.190 admissões e 23.765 desligamentos. O estoque para o ano é de 33.729 pessoas com carteira assinada.


A construção civil é o único setor a registrar variação positiva na casa de dois dígitos em Mato Grosso do Sul na comparação com o ano passado. O aumento porcentual do saldo de empregos formais é de 19,17% até agosto deste ano.



EVELYN THAMARIS

Com informação do Portal Correio do Estado

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