segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Raquel Lyra é eleita e será 1ª mulher a governar Pernambuco

 


RECIFE, PE (FOLHAPRESS) - 


Raquel Lyra (PSDB), 43, foi eleita a primeira mulher governadora de Pernambuco neste domingo (30). A candidata venceu, no segundo turno, a disputa contra Marília Arraes (Solidariedade).


Com 100% das urnas apuradas, Raquel Lyra teve 58,70% dos votos válidos, enquanto sua adversária, Marília Arraes, somou 41,30%.


Filha do ex-governador João Lyra Neto, ela terá como vice também uma mulher, Priscila Krause (Cidadania).


No primeiro turno, Pernambuco também elegeu a primeira senadora, Teresa Leitão (PT), e teve recorde de deputadas federais eleitas de uma vez só (foram três).


Em seu discurso de vitória, Raquel Lyra elencou os principais desafios para o novo governo a partir de janeiro de 2023.


"Poderemos tirar Pernambuco desse momento de desalento e desencanto que ele vive, campeão de miséria, desemprego, com falta comida no prato e de água na torneira."


A governadora eleita parabenizou Luiz Inácio lula da Silva (PT), que foi alçado à Presidência pela terceira vez neste domingo. "Quero dizer que, com ele, vamos buscar projetos, ações, investimentos necessários para superar esse momento desafiador", disse.


Raquel Lyra também lembrou do marido, Fernando Lucena, que morreu aos 44 anos em 2 de outubro, dia em que ocorreu o primeiro turno, após um mau súbito.


"Fernando sonhou comigo todos os meus sonhos. A gente esteve junto desde sempre. Sempre disse que não existia Fernando sem Raquel, nem Raquel sem Fernando. Ele sonhou que a gente pudesse estar nesse momento hoje."


A tucana sucederá Paulo Câmara (PSB). O antecessor dele foi o pai de Raquel, que assumiu como tampão por nove meses após a saída de Eduardo Campos (1965-2014) do cargo.


O êxito da candidata do PSDB nas urnas representa uma vitória de um palanque de centro-direita após 20 anos em Pernambuco.


A neutralidade de Raquel Lyra em relação ao segundo turno presidencial não foi um impeditivo para a vitória dela nas urnas. No primeiro turno, ela apoiou a candidatura de Simone Tebet (MDB), mas optou por não se posicionar na segunda rodada presidencial.


Com a neutralidade, sofreu críticas da adversária Marília Arraes (Solidariedade), apoiada no segundo turno por Lula.


Marília tentou associar a concorrente ao bolsonarismo, após alguns apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) terem declarado apoio à tucana. Raquel Lyra rebateu o discurso alegando que também tinha apoio de dissidências do PT.


A estratégia da agora eleita ao se manter neutra foi captar votos de lulistas e bolsonaristas no estado. Além disso, buscou vincular Marília Arraes ao governador Paulo Câmara, que tem elevada rejeição entre a população. Isso porque, após perder, o PSB declarou apoio a Marília no segundo turno, seguindo a posição de Lula. Câmara, no entanto, não declarou apoio explícito.


Procuradora do Estado e ex-delegada da Polícia Federal, a futura governadora é de uma família tradicional na política do agreste pernambucano.


No segundo turno, seu palanque foi composto por políticos de diversas matrizes ideológicas, mas teve predominância de grupos da direita.


A família tem origem política no campo da esquerda. O pai, o ex-governador João Lyra Neto (PSDB), já foi filiado ao MDB no período da ditadura (1964-1985) e passou por PSB, PT e PDT. O tio, Fernando Lyra (1938-2013), ex-deputado federal, foi candidato a vice-presidente na chapa de Leonel Brizola, em 1989.


Raquel Lyra já apoiou candidaturas de Lula à Presidência em 2002 e 2006. Em 2010, foi aliada de Dilma Rousseff (PT). Em 2014, ela seguiu o seu então partido, o PSB, ao apoiar Aécio Neves no segundo turno contra a petista.


Dois anos depois, deixou o PSB após o partido negar as pretensões dela para tentar a Prefeitura de Caruaru. Com a negativa, se filiou ao PSDB e venceu a disputa.


Em 2020, foi reeleita prefeita de Caruaru com 66,86% dos votos válidos. Em março de 2021, renunciou ao cargo para disputar o Governo de Pernambuco.


A campanha de Raquel Lyra enfrentou adversidades ao longo da eleição. No primeiro turno, teve o segundo menor tempo de propaganda no rádio e na televisão dentre os cinco postulantes mais competitivos. Além disso, recebeu apoio de um número pequeno de prefeitos.


Já no segundo turno, ganhou o apoio do ex-prefeito de Petrolina Miguel Coelho (União Brasil), que ficou em quinto lugar no primeiro turno.


Na data da votação em primeiro turno, seu marido, o empresário Fernando Lucena, morreu aos 44 anos após um mal súbito. O velório e o sepultamento ocorreram no mesmo dia.


Raquel Lyra ficou mais de uma semana reclusa com os filhos e a família. No período do luto, a campanha foi coordenada pela candidata a vice.


A vitória representa um fôlego para o PSDB, que perdeu no primeiro turno para o Governo de São Paulo após 28 anos. Internamente, a ex-prefeita é vista como um símbolo de possível renovação da sigla.


A crise nos hospitais públicos de Pernambuco, os problemas no transporte público da região metropolitana do Recife, as estradas estaduais e o alto índice de desemprego no estado estão entre os desafios da futura governadora para os próximos quatro anos.


Outra missão para a eleita é construir maioria pró-governo na Assembleia Legislativa. Para isso, terá que articular com partidos que apoiaram outras candidaturas na disputa estadual.


Derrotada, Marília Arraes ficará sem mandato a partir de 2023. A deputada federal vem de duas derrotas seguidas em disputas majoritárias. Há dois anos, perdeu no segundo turno para a Prefeitura do Recife para o primo João Campos (PSB).


A candidata pelo Solidariedade deixou o PT em março depois de seis anos. Ela não concordava com a aliança do PSB com o PT no âmbito estadual. Há quatro anos, a aliança dos dois partidos travou a possibilidade de a política disputar o governo estadual.


A era de 16 anos de poder do PSB chegará ao fim em dezembro. O partido é hegemônico no estado desde 2007, com quatro mandatos à frente do Palácio do Campo das Princesas: dois de Eduardo Campos e dois de Paulo Câmara.


O futuro do PSB no estado passa agora pelas mãos do prefeito do Recife, João Campos. A reeleição dele em 2024 é tida como crucial para o partido ter força em uma eventual nova disputa pelo governo estadual daqui a quatro anos.

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