quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Quatro em cada dez trabalhadores no Brasil vivem na informalidade


G1


O ano de 2019 foi marcado por um desemprego ainda resistente, mas com a quantidade de pessoas que trabalham por conta própria e sem carteira assinada, os chamados informais, batendo sucessivos recordes históricos. A taxa de informalidade no mercado de trabalho superou o patamar de 41%, a maior proporção desde 2016, quando o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) passou a investigar esse índice. Ou seja, de cada 10 trabalhadores ou empregadores, 4 estão atuando na informalidade.

A estudante do ensino médio, a universitária e o bacharel são o retrato de um mercado de trabalho que absorve mão de obra, mas nem sempre possibilita que os profissionais ocupem o espaço de acordo com sua formação ou seu propósito de vida. Além disso, eles acabam ganhando menos por não ter carteira assinada, que assegura os direitos previstos na CLT.

"O trabalhador desempregado passa a fazer bicos, trabalhar em novas atividades, abaixo do nível de qualificação e tempo disponível, mas ele aceita isso porque precisa gerar alguma renda para a família", afirma o Carlos Honorato, consultor econômico e professor da FIA e Saint Paul.

Julio Cesar Martins, de 48 anos, trabalha como motorista de aplicativo desde julho do ano passado. Pode-se dizer que a mudança na vida de Martins foi radical. Antes de dirigir pelas ruas de São Paulo, o bacharel em administração de empresas havia trabalhado como supervisor financeiro com carteira assinada e todos os benefícios trabalhistas a que um funcionário CLT tem direito, como 13º salário, férias e até plano de saúde. E ainda trabalhava em horário comercial, com intervalo para almoço e folga aos finais de semana. Além de contar com uma renda de quase R$ 10 mil.


Agora que está trabalhando na informalidade após ser mandado embora, Martins precisa trabalhar pelo menos 12 horas por dia para conseguir tirar em torno de R$ 6,5 mil por mês, sem descontar as despesas com o carro como combustível e manutenção. O administrador diz que em média sua renda caiu 70%.

“Saio de casa todos os dias às 4h30 e vou até 16h. Tenho que pagar manutenção, combustível, multas, IPVA, licenciamento, limpeza, e o valor que recebo não bate com todos esses custos”, lamenta.


Martins conta que o desemprego o fez desistir do MBA em Gestão Financeira – ele conseguiu cursar apenas um semestre. Ele ainda teve que voltar para a casa dos seus pais depois de terminar um casamento de 24 anos em fevereiro de 2018.

Em meio a ajustes para se adequar a seu novo padrão de vida, ele paga o curso preparatório de vestibular para o filho, além de uma mesada toda semana. E está avaliando se compensa se cadastrar como microempreendedor individual (MEI) para contar para a aposentadoria o trabalho como motorista – ele já tem 28 anos de contribuição para o INSS.

Mas, apesar de ter feito um investimento para trabalhar como motorista, trocando seu carro antigo por um novo e mais espaçoso, ele continua enviando seu currículo para sites de emprego e redes sociais e ainda conta com uma ajuda extra dos passageiros com os quais faz networking. “Sempre que tenho uma oportunidade eu falo da minha área de atuação. E assim que surgir uma oportunidade novamente com certeza saio do aplicativo”, diz.

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