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sexta-feira, 27 de setembro de 2019
Filme : HEBE - A ESTRELA DO BRASIL
Cine Web
Hebe Camargo (1929-2012) ganha um filme, Hebe - A Estrela do Brasil, que assumidamente não pretende ser uma cinebiografia completa da poderosa apresentadora que reinou por décadas na televisão. O filme de Maurício Farias, roteirizado por Carolina Kotscho, debruça-se sobre um período da década de 1980, quando Hebe trocou a Bandeirantes pelo SBT depois de um incidente envolvendo a censura.
A escolha do incidente - a pressão da censura da ditadura militar agonizante por conta de uma entrevista com a trans Roberta Close - escancara a intenção do filme de atualizar a imagem de Hebe (Andréa Beltrão), uma conservadora notória, eternamente identificada com os poderosos de plantão e amiga do peito de Paulo Maluf, transformando-a, magicamente, numa ativista da liberdade de expressão. Sem contar sua adesão aos gays, como o cabeleireiro Carlucho (Ivo Müller), que ela vai visitar no hospital quando este sucumbe vítima da AIDS, a doença cuja disseminação na época servia como um estandarte para satanizar a comunidade gay.
Amparada nestas duas vertentes, a história ressalta a personalidade esfuziante, o personalismo, a vaidade e o inegável carisma junto ao seu público - que, muitas vezes, encontrava em suas frequentes gafes (que o filme não menciona) um álibi para o próprio despreparo cultural, cuja superação o próprio exemplo de Hebe não estimulava. Sem dúvida, Hebe foi um fenômeno da comunicação de massas e uma pioneira - antecedendo a legião de louras apresentadoras no país mestiço, como Xuxa, Angélica e Eliana, para ficar em algumas. Seu poder foi, aliás, muito bem analisado pelo sociólogo Sérgio Miceli no livro “A noite da madrinha”, que não poupa o objeto de sua análise, atribuindo-lhe, por exemplo, a “mesmice da cantilena” em sua longa presença nos lares brasileiros.
Tolera-se, é claro, numa ficção, que haja licenças poéticas e até alguma dose de chapa-branquismo - ainda mais num filme em que a família de Hebe esteve por perto. Mais difícil é admitir esta reinvenção da personagem tão longe da realidade. Personalista e poderosa, Hebe sempre defendeu uma liberdade só, a sua própria, para escolher quem participava de seu programa. O resto é maquiagem pesada, como a apresentadora, aliás, nunca dispensava.
Se há um aspecto, no entanto, em que o filme acerta, é quando despoja a apresentadora de sua aura pública, apresentando sua fragilidade na esfera famíliar, em que ela não conseguia lidar com o isolamento e o homossexualismo do filho, Marcello (Caio Horowicz), e suportava os abusos de um marido ciumento (Marco Ricca). Nestes momentos, a interpretação, aliás, sutil de Andréa Beltrão, sobressai mais do que nunca. É o grande trunfo de um filme que poderá satisfazer, evidentemente, aos fãs mais apegados - a quem nunca se pretendeu mesmo incomodar com polêmicas ou contradições da personagem. Para eles, também, se dirige uma minissérie em preparação sobre a apresentadora, que não se sabe se avançará na busca de incorporar mais facetas de sua vida e personalidade.
Neusa Barbosa
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