quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Aditivo pode substituir antibióticos na dieta de bovinos










A polêmica sobre usar ou não antibióticos para melhorar o desempenho animal vem ganhando corpo nos últimos anos. O mercado europeu já proíbe a utilização dessas moléculas como promotoras de crescimento, e nos Estados Unidos a pressão vinda dos consumidores obriga grandes redes a tomar uma posição.

Em 2015, o McDonald's deu prazo de dois anos para deixar de comprar frangos criados ingerindo antibióticos. Entre as razões está a controversa resistência cruzada – que poderia ocorrer diante do consumo de antibióticos compartilhados por animais e seres humanos, e com isso selecionar superbactérias. Os antibióticos são usados tanto para tratar doenças como para acelerar o crescimento de aves, suínos e bovinos.

O cenário abre espaço para novas tecnologias, como os anticorpos policlonais, que inibem o crescimento de bactérias indesejadas. Geraldo Balieiro, pesquisador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), explica a diferença em relação aos antibióticos: “Existem algumas bactérias, como o Streptococcus bovis, por exemplo, que produzem ácido lático no rúmen dos bovinos e provocam acidose.

O processo, que diminui o pH ruminal, deixa o animal doente e pode até levar à morte. Os antibióticos matam essas bactérias, mas matam também algumas que são benéficas”, afirma o pesquisador. Por ter ação específica, o anticorpo só age sobre um alvo pré-determinado.
Com patente em processo de análise pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), assim como inclusão de matéria-prima na lista de ingredientes permitidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o produto desenvolvido por Balieiro contra o Streptococcus bovis foi testado em animais da raça Nelore cuja dieta era de 85% de concentrado e 15% de bagaço de cana.

O resultado surpreendeu: “Nós fizemos a pesquisa imaginando que se conseguíssemos resultado equivalente em relação ao desempenho animal já estaríamos satisfeitos por evitar o uso dos antibióticos, mas conseguimos um ganho de peso superior no final do confinamento”, conta o pesquisador da Apta. O tratamento controle com antibióticos continha moléculas de monensina e a virginiamicina, os principais aditivos usados na dieta tanto em pastagem como em confinamento no Brasil.
Desenvolvimento - Na prática, Balieiro diz que o uso dos anticorpos policlonais é vantajoso porque eles encontram microrganismos específicos no rúmen e inibem seu crescimento, favorecendo a saúde e desempenho animal sem o uso de antibióticos.

“A questão é que precisamos de galinhas poedeiras para produzir os anticorpos IgY na gema do ovo, já que eles são diferentes das imunoglobulinas dos mamíferos, e não é possível sintetizar o anticorpo em laboratório”, diz o pesquisador. Por tratar-se de material biológico, ele depende da resposta imunológica de um organismo vivo para ser originado. Os anticorpos depositados nas gemas dos ovos das galinhas são coletados para compor o aditivo natural.

Comercialização - No momento, a Apta está negociando parceria com a iniciativa privada para o desenvolvimento do produto em escala comercial. De acordo com Balieiro, a expectativa é conseguir substituir parte da demanda por antibióticos com finalidade de melhorar o desempenho animal, e ter custos reduzidos. “No Brasil, não existe granja de poedeiras com porte suficiente para atender todo o rebanho nacional, mas num primeiro momento será viável desenvolver o produto para atender ao menos uma parcela. O importante é continuar pesquisando”, afirma Balieiro.

Segundo ele, embora o uso de antibióticos como promotores de crescimento seja permitido no Brasil, mais cedo ou mais tarde isso deve mudar, e antes mesmo que aconteça é preciso estar pronto para atender a uma demanda que já é real em outras partes do mundo.

A pesquisa deve ser publicada em um periódico científico em breve, possibilitando a divulgação de maiores detalhes. Geraldo Balieiro é pesquisador da Apta Polo Regional Centro Leste, em Ribeirão Preto.

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