domingo, 14 de agosto de 2011

Ex-guitarista de Ozzy Osbourne traz peso e atitude a SP



À frente da banda Black Label Society, o ogro Zakk Wilde puxou coro metaleiro em massa e deu aula de marketing

O Black Label Society iniciou sua segunda apresentação em São Paulo no HSBC Brasil (zona sul), pontualmente, às 22h de ontem. Quando boa parte do público ainda entrava na casa de shows, e outros tantos compravam ingresso lá fora, ecoou um som de sirenes.

As cortinas ainda estavam fechadas quando a banda começou a tocar "Crazy Horse", faixa de abertura de "Order of the Black" (2010), o mais novo álbum do BLS. As mesmas se abriram e o quarteto entrou com força total, com o guitar hero Zakk Wylde usando um cocar e cantando em um microfone com réplicas de crânios humanos presas ao pedestal.

A reação do público, que lotou o HSBC, surpreendeu. Desde o princípio acompanhou cada verso e muitas notas de sua guitarra cantarolando e agitando os punhos cerrados no ar.

Desde o principio, Wylde demonstrou exatamente o que ficou faltando na última apresentação de Ozzy Osbourne em São Paulo, em abril deste ano. O guitarrista integrou a banda do ex-Black Sabbath de 1988 a 2009, quando foi substituído pelo "almofadinha" Gus G.


Além da performance no palco e, obviamente, do virtuosismo, Wilde tem uma pegada inconfundível, que permite que ele vá de riffs matadores a solos esmerilhados sem perder o fôlego (e sem deixar de agitar as longas madeixas por um instante).

Sua presença quase mística fez com que fosse escolhido para interpretar o guitarrista de uma banda fictícia no filme "Rock Star", ao lado de Mark Wahlberg.

Quando a banda tocou a poderosa "Bleed for Me", a terceira do set, ainda havia gente entrando na pista, que se tornou intransitável. A cada fraseado, solo ou bend da guitarra de Wilde, escutava-se "uia, uia, uia!", dos súditos fiéis que ocupavam a plateia.

Em cima do palco, a "Sociedade da Tarja Preta" realmente parece uma gangue de motociclistas transportada diretamente dos anos 70, com longas cabeleiras, barbas compridas e coletes jeans com o logo do grupo nas costas (aquela imagem clássica de um crânio sem mandíbula em meio ao nome da banda).

Surpreendentemente, as camisetas (e até mesmo coletes iguais as dos músicos) da maioria esmagadora dos espectadores traziam a mesma imagem estampada. Até mesmo uma grávida exibia as inicias BLS pintadas à caneta na barriga de fora.

O metal no Brasil realmente é uma cultura subterrânea de massa a ser estudada. É incrível como, com tão pouca repercussão na mídia, especialmente no caso de uma banda menos conhecida como o BLS, um show de metal consegue reunir uma legião de fãs tão devotos.

Isso porque o Black Label Society é uma de metal das menos ortodoxas, com roupagem de hard rock anos 70 e elementos de blues e southern rock.

Os vocais de Wylde basicamente acompanham a melodia da guitarra, com exceção de gritos guturais que surgem oportunamente.

O músico mantém a mesma tonalidade, que chega a lembrar a de Layne Stanley, do Alice in Chains, e por vezes dá a impressão de que tem um pedal de wah wah nas cordas vocais --o que de fato chega a usar em "Fire It Up", que marcou outro grande momento do show.

Se sua guitarra decola nos solos, também se mantém firme e vigorosa nas bases. Cada beliscada que o músico dá no instrumento transmite feeling e consistência. A banda inteira - também formada por John DeServio (baixo), Nick Catanese (segunda guitarra) e Mike Froedge (bateria) --demonstra muita potência ao vivo.

Os ânimos só se acalmaram quando Wylde fez "In this River" ao piano, após uma longa introdução.

No restante do tempo --com um onipresente copão de cerveja ao alcance das mãos--, manteve a mesma postura invocada. Só se dirigiu à plateia basicamente para apresentar os músicos da banda antes do momento solo de cada um.

Ele mesmo bradou um competente (e ruidoso) solo de guitarra que beirou dez minutos. Ao final deste, ergueu a guitarra para o alto, como se fosse uma espada, e depois levantou o colete com o símbolo da banda, como se fosse uma bandeira.

Por fim, como o verdadeiro ogro que é, bateu no próprio peito com as duas mãos em sinal de agradecimento.

O encerramento da apresentação foi triunfal com a contagiante "Stillborn". Os músicos demonstraram seu lado fofo abraçando-se no palco, mas foram embora sem bis, após intensos 90 minutos de show.

Ao invés de se dirigir ao banheiro, ou até diretamente à saída, um contingente representativo da plateia formou uma longa fila na... banca de camisetas. Wylde demonstrou que, além de cantar e tocar, também entende tudo de marketing. Então foi possível entender como o Black Label Society ficou tão conhecido.

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